3 na Massa reúne time dos sonhos de vozes femininas
O segredo da receita musical do 3 na Massa está no molho picante. Com um menu de 13 faixas, o projeto reúne três dos melhores chefs do groove brasileiro: Rica Amabis, produtor do núcleo paulista Instituto, Dengue e Pupillo - baixista e baterista da Nação Zumbi. A convivência do trio sob um mesmo teto estimulou a criação de bases e o caldo engrossou com um ingrediente afrodisíaco: diferentes vozes femininas em interpretações sussurradas e teatrais.
"Os dois alugam um quarto aqui em casa quando ficam em São Paulo. Foi uma osmose natural", explica Rica. Das conversas e jams surgiu um conceito: um disco pra abordar o universo feminino, com letras cantadas por mulheres e escritas por homens, que escrevem como se fossem elas. "Pensamos nessa parada do Chico Buarque, de o letrista se botar no papel da mulher. O disco tem esse roteiro meio definido: é como o homem vê a mulher", define o produtor.
As letras saem da boca de cantoras como Pitty, Thalma de Freitas e Nina Becker - a dupla da Orquestra Imperial - e atrizes como Alice Braga, Karine Carvalho e Leandra Leal (que canta em francês), e o cenário sugerido pelo arranjo é o de um cabaré esfumaçado pelos tragos do ator e músico francês Serge Gainsbourg. "Não tivemos a pretensão de sermos geniais como ele, mas ouvimos muito durante a composição", diz Dengue. "Ele é um dos homenageados, junto com os cartunistas Milo Manara e Carlos Zéfiro", fala Pupillo. A inspiração das HQ's embriaga os arranjos visualmente instigantes. Cabarés, pornochanchadas e hotéis baratos aparecem em um timbre de teclado, em uma levada de guitarra, de um acorde de vibrafone - cortesias de músicos como Maurício Takara (multiinstrumentista do Hurtmold), Fernando Catatau (compositor, cantor e guitarrista do Cidadão Instigado), Luca Raele (que toca metais no Sujeito a Guincho) e Bactéria (tecladista do Mundo Livre S/A). Outra atriz que empresta a voz é Simone Spoladore (de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias). "Já tinha feito algo parecido com poemas de Hilda Hilst, acompanhada de um violão", diz. "Tentei gravar como uma brincadeira, assumindo meu prazer."
Entre os marmanjos letristas, estão Jorge Du Peixe (Nação Zumbi), Rodrigo Amarante (Los Hermanos) e Junio Barreto - agraciado com o privilégio de oferecer versos para duas faixas, entre elas, "Doce Guia", cantada por Céu. "Pensamos em uma interpretação ao pé do ouvido, menos cantora, mais faladinha", diz ela.
Lurdes da Luz, MC do Mamelo Sound System, é a única que canta seus próprios versos. "Eu imaginava uma levada diferente pra letra. Mas, quando ouvi a base, tive que repensar tanto a levada quanto a interpretação", conta. A mudança de ambiente desafiou o parceiro de Lurdes no Mamelo. Acostumado a escrever raps, Rodrigo Brandão encaixou letra em melodia pela primeira vez em "Estrondo", cantada por Geanine Marques. "Foi como tomar uma droga nova e sentir que bateu bem", viaja.
Tantas participações poderiam azedar o molho. Porém, a audição revela um cardápio não só farto como autoral. "Você tem o baixista e o baterista da melhor banda do Brasil. A produção do Rica completa a química", decifra Thalma, que canta em letra de Jorge Du Peixe. O registro em disco, que só depende da assinatura de todos os envolvidos, deve sair ainda em 2007.