Emanuelle Araújo e Douglas Silva estrelam a nova atração brasileira da Netflix como uma ex-artista mirim e um jogador de futebol que acaba de sair da prisão
Uma estrela mirim que experimentou o colorido sucesso dos anos 1980 e passou o resto da vida tentando retomar os tempos áureos. O mote conhecido, até mesmo identificável na história de algumas estrelas de TV, é a base de Samantha! , primeira comédia nacional da Netflix. Protagonizada por Emanuelle Araújo e Douglas Silva, a temporada de estreia da série chega neste mês ao serviço de streaming, como a terceira aposta nacional da plataforma (após 3% e O Mecanismo).
Nos sete episódios iniciais, o time criativo – comandado pelos produtores executivos Alice Braga, Felipe Braga e Rita Moraes – tem o desafio de fazer com que o público se identifique com o particular universo de Samantha, mulher de quase 40 anos que quer provar ainda ser a mesma pessoa por quem o Brasil se apaixonou décadas antes. Mas as dificuldades são óbvias: ela perdeu a relevância musical com o fim dos Plim Ploms (trio comandado pela personagem na infância e que faz uma alusão clara ao Balão Mágico) e não pode mais se dedicar totalmente à carreira.
“É uma comédia, mas ao mesmo tempo é uma série que não cai no padrão do gênero e me permite atuar de uma forma leve e que foge dos clichês”, opina Emanuelle, que embarcou no projeto por um convite de Felipe Braga. “A Samantha é uma personagem de muitas facetas, e isso me encantou desde o primeiro momento.” Além de estar atrás da velha fama, Samantha é mãe de Cindy (Sabrina Nonato) e Brandon (Cauã Gonçalves), e tem uma relação delicada com o ex-marido, Dodói, jogador de futebol que teve o sucesso interrompido por uma década na cadeia. Felipe explica que é nesse dramático elo familiar que Samantha! Se destaca, com uma aposta em personagens psicologicamente bem construídos para conquistar o espectador da Netflix.
“O binge watching [hábito de assistir a vários episódios seguidos] faz uma pressão para que a comédia tenha um arco dramático mais forte, que prenda as pessoas. Se elas assistem a todos os episódios juntos, você não pode mais usar aquele formato antigo, em que recomeça a história em cada capítulo”, explica. “Ainda estamos tentando entender como isso funciona na comédia. É um longa-metragem ou uma história fragmentada que se transforma a cada episódio?”
Paralelamente ao humor, os criadores de Samantha! têm na manga o charmoso universo dos anos 1980, que tem cativado fãs em outras produções, dentro e fora da plataforma – a exemplo do fenômeno que foi Stranger Things e de filmes como It: A Coisa (2017). Emanuelle, inclusive, deu vida à cantora Gretchen no longa Bingo: O Rei das Manhãs (2017), baseado na cinebiografia a de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo, outro ícone daquela era.
“Eu pesquisei muito sobre o universo dessa década, é um trabalho que começou no Bingo e continuou em Samantha! Assisti a todos os desenhos animados, também aos programas infantis”, conta. “Mas não conversei com nenhuma apresentadora ou ex-estrela mirim porque não queria que a Samantha representasse nada específico.”
Silva revela que as referências trazidas por Emanuelle foram muito importantes para a construção dos personagens. “Eu tenho 29 anos, sou da turma da reprise dos programas dos anos 1980, tinha coisas que a Manu mencionava que eu nem conhecia [risos]. Mas muito do Dodói nasceu a partir dos nossos ensaios, comigo respondendo aos estímulos criados no set.”
Para Felipe, não há problema algum no fato de Silva não ter crescido nos anos 1980. O importante é ele ser brasileiro. “Estamos trabalhando com temas absolutamente locais. Da nossa parte não existe nenhuma tentativa de adequá-los ou suavizá-los para outros públicos”, diz, refletindo sobre o modelo de produção para uma plataforma mundial como a Netflix.
Pelo jeito, Samantha! chega para mostrar ao mundo um pouco da cômica singularidade brasileira – que só pode ser completamente compreendida com “Lua de Cristal”, da Xuxa, e “Amigos do Peito (Somos Amigos)”, do Balão Mágico, na trilha sonora.