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Santa Fé nos Palcos

Depois de dar origem à novela mais assistida da TV brasileira, texto de Dias Gomes ganha o teatro novamente em Roque Santeiro - O Musical

Stella Rodrigues Publicado em 05/03/2017, às 12h40

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<b>Outro formato</b><br>
O elenco de Roque Santeiro, com Mel Lisboa como Mocinha e Zeca Baleiro na direção musical - João Caldas
<b>Outro formato</b><br> O elenco de Roque Santeiro, com Mel Lisboa como Mocinha e Zeca Baleiro na direção musical - João Caldas

Não precisa conhecer quase nada sobre novelas brasileiras para ter ouvido o bordão “tô certo ou tô errado” e ter uma vaga noção do fenômeno que foi Roque Santeiro. Sinhozinho Malta, vivido por Lima Duarte, foi um daqueles personagens que não marcaram apenas época: ele, a Viúva Porcina (Regina Duarte) e a inocente Mocinha (Lucinha Lins) entraram para a história da televisão brasileira.

Roque Santeiro, inicialmente vetada pela ditadura, nos anos 1970, e exibida entre 1985 e 1986, é a novela de maior audiência da TV no país. O texto de Dias Gomes nasceu para os palcos em 1965, sob o título de O Berço do Herói, mas também foi proibido pela ditadura. Duas décadas depois, o próprio autor assinou parte dos capítulos que foram vistos na Globo e, agora, essa história tão atual sobre política e corrupção ganha uma versão no Teatro Faap, em São Paulo, com direção musical de Zeca Baleiro, que criou novas composições, mas também fez uso de canções deixadas por Dias Gomes.

Roque Santeiro – O Musical começa quando o Cabo Roque (Flavio Tolezani) é dado como morto em uma batalha e seu heroísmo vira a base do turismo da pequena Asa Branca, uma cidadezinha fervorosamente católica. Vinte anos depois, porém, um homem chega à terra de Roque afirmando ser o próprio. “Não é um musical tipo Broadway”, explica Mel Lisboa, que encarna a nova Mocinha e que tem “acidentalmente” se envolvido com musicais desde que protagonizou Rita Lee Mora ao Lado. “É um musical com cara de brasileiro”, ela define. “A musicalidade é diferente, tem os nossos ritmos”, complementa a diretora, Débora Dubois, que dirigiu Mel na peça biográfica de Rita Lee.

Além da reprise da parceria entre diretora e atriz, o musical traz também novas canções assinadas por Zeca Baleiro, em seu quarto trabalho ao lado de Débora. “Compus uma trilha original, mas naturalmente há músicas muito marcantes da trilha da novela que vamos usar também”, diz Baleiro, animado com o projeto. “O elenco é afinado, tem um coral, músicos de apoio... A Broadway que se cuide [risos].” Completam o time de protagonistas a atriz Lívia Camargo, que dá vida à lendária Viúva Porcina, e Jarbas Homem de Mello, como o inescrupuloso Sinhozinho Malta.

Em meio aos muitos caminhos que poderiam ter sido escolhidos, duas decisões pautaram as escolhas para essa montagem. “A novela é uma coisa e o musical é outra”, esclarece Mel, que conta que há diversas homenagens a elementos da novela que fizeram muito sucesso, como o tema “De Volta para o Aconchego”, famoso na voz de Elba Ramalho (o bordão “tô certo ou tô errado” faz parte do texto original, e também foi mantido). Houve, porém, uma preocupação em fazer algo autossuficiente. E, o mais importante, o texto de Dias Gomes foi respeitado ao máximo, sem a inclusão de alusões tópicas ou atualidades para agradar ao público de hoje, algo que tem sido recorrente em novas montagens nos palcos brasileiros. “São muitas as metáforas que já estão no texto, e elas são tão atuais que não há necessidade de ser mais explícito”, diz Débora.