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Sem Calouros, sem Risada

Primeira edição do reality show The Voice Brasil foge das leis da aparência no mercado fonográfico

Pedro Antunes Publicado em 18/10/2012, às 10h24 - Atualizado às 11h58

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<b>ORIENTAÇÃO</b> Brown, Claudia, Daniel e Lulu são os treinadores do The Voice Brasil - ALEX CARVALHO/REDE GLOBO/DIVULGAÇÃO
<b>ORIENTAÇÃO</b> Brown, Claudia, Daniel e Lulu são os treinadores do The Voice Brasil - ALEX CARVALHO/REDE GLOBO/DIVULGAÇÃO

Sentado em uma enorme e vermelha poltrona, os ouvidos se atentam ao som que chega por trás. À frente, apenas um enorme e redondo botão vermelho. E a mão coça com a vontade de apertá-lo e acabar logo com o suspense. O formato é ingrato para os quatro treinadores, que, de costas para os donos das vozes, precisam decidir se os escolherão ou não – angustiante experiência testada pela Rolling Stone Brasil no mês passado, no Projac, no Rio de Janeiro. Mas a premissa do reality show musical The Voice, que chegou em setembro ao Brasil, na Globo, discute as próprias leis (veladas) do mercado fonográfico mundial. Mesmo com algumas exceções, como a inglesa Adele, a postura e a beleza do cantor costumam ser quase tão importantes quanto a própria voz.

Na edição brasileira, apresentada por Tiago Leifert e Daniele Suzuki, Lulu Santos, Carlinhos Brown, Claudia Leitte e Daniel foram os escolhidos para as funções de juízes-treinadores (na atual versão norte-americana do programa, tais cargos são ocupados por Adam Levine, Cee Lo Green, Christina Aguilera e Blake Shelton). Totalmente às cegas, eles têm um minuto e meio para decidir se a pessoa cantando no palco integrará suas equipes de 12 participantes cada. “Já me arrependi algumas vezes”, confessa Brown. “É um trabalho duro.”

Um estranho no ninho do entretenimento, Leifert deixou o universo esportivo sem medo. “A primeira pessoa a pular de alegria por ter entrado no The Voice fui eu”, disse o antigo comandante do Globo Esporte, fã de dance, pop, hip-hop e R&B. “É um sonho para qualquer profissional de TV.”

Na seara dos reality shows musicais, o The Voice segue por uma proposta mais séria do que os concorrentes American Idol e The X Factor ou do que as versões nacionais, como Ídolos, Fama e Astros. Não há espaço para calouros e aquelas hilariantes e desastrosas performances de desafinados durante as seletivas. Profissionalismo tal qual a premiação para o vencedor: R$ 500 mil e um disco gravado e lançado sob os cuidados da Universal Music. Criado pelo produtor de televisão holandês John De Mol, cabeça pensante por trás do Big Brother, o The Voice estreou na Holanda em 2010 e, logo, se espalhou por mais de 40 países pelo mundo, do México até a Coreia do Sul.

Por aqui, o programa tem como mentores J. B. Oliveira, o Boninho, diretor de núcleo, e Carlos Magalhães, diretor-geral da atração. A parceria começou no Fama, no ar de 2002 a 2005, mas poucas descobertas dessa época vingaram, como a cantora Roberta Sá e Thiaguinho, que até este ano atuava como vocalista do Exaltasamba e agora saiu em carreira solo.

Como todos os participantes já são profissionais, o nível da competição sobe – diferentemente do que ocorre em programas de calouros. Na primeira temporada da versão norte-americana, em 2011, por exemplo, o vencedor foi Javier Colon, que já contava com dois álbuns lançados. “Muitos [dos participantes] já têm uma realidade do mercado, têm uma base do que acontece lá fora”, diz o cantor Daniel. “É o cotidiano que vai dar essa experiência a eles.”

A participação dos quatro treinadores é maior do que apertar um botão. A seleção é a primeira fase do reality show. Com os times montados, eles passam de julgadores a produtores e tutores dos seus escolhidos. Aí são os quatro que terão seu trabalho avaliado sob uma lupa. Carlinhos Brown avisa: “As pessoas podem pensar que quem já alcançou o estrelato não precisa aprender. E [nós, juízes] estamos aprendendo. Ninguém conhece nossas fragilidades. Acha que a gente canta bem todo dia?”