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Sete Dias de “Rock”: Os Altos e os Baixos do Maior Festival do País

Rock in Rio cresce aos 26 anos (e quatro edições nacionais) e expande domínios, mas ainda tem muito a melhorar

Paulo Terron Publicado em 18/10/2011, às 13h59 - Atualizado em 07/11/2011, às 13h35

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<b>PLATEIA FELIZ</b> Apesar das dificuldades, os frequentadores do RiR 2011 se divertiram com os shows - BRUNO DE LIMA/R2/DIVULGAÇÃO
<b>PLATEIA FELIZ</b> Apesar das dificuldades, os frequentadores do RiR 2011 se divertiram com os shows - BRUNO DE LIMA/R2/DIVULGAÇÃO

Com sete dias, mais de 160 atrações e um público de 700 mil pessoas (estimado pela organização), a 4ª edição brasileira do Rock in Rio garantiu um lugar definitivo entre os maiores festivais do mundo – e expandirá seus domínios, além de mirar em mais uma edição carioca, em setembro de 2013. Antes disso, a ideia é fortalecer o nome ainda mais com produtos paralelos. “Em setembro do ano que vem, vamos lançar um DVD que conta a história musical do festival”, conta o presidente do evento, Roberto Medina. “É para a gente não parar.” A marca deve também chegar aos cinemas em breve, por meio de um longa-metragem de ficção. Nele, um casal se conhece no primeiro Rock in Rio, em 1985, e se reencontra na edição 2011, retomando a história de amor. “Queremos ampliar a plataforma”, reforça o empresário.

Voltando ao essencial, movimentar tantas pessoas e um festival tão ambicioso não foi tarefa fácil. Quem foi ao Rock in Rio nos primeiros dias teve de lidar com filas demoradas nos mal preparados quiosques de alimentação e, no terceiro dia, com um vazamento no sistema dos banheiros da Cidade do Rock, que fez com que o local ficasse tomado pelo cheiro de esgoto. Em todos os dias, o público teve de se espremer em uma saída única que não comportava o volume de gente – uma plataforma montada nesse espaço desabou no dia 2 de outubro, evidenciando um despreparo estrutural. A organização prefere chamar de “melhorias” os planos para as próximas edições, como diminuir a capacidade de cada dia de 100 para 85 mil pagantes. “É para que você tenha um impacto menor em tudo: no trânsito, no abastecimento de comida”, explica Medina. “Pelo tamanho da Cidade do Rock aqui, percebi que, quando chega no momento em que estamos com 85 mil pessoas, está de bom tamanho para o espaço. As pessoas estão satisfeitas, mas eu não estou, eu quero mais.”

Alguns outros pontos terão de ser reavaliados para que se atinja o nível de excelência que o Rock in Rio acredita já ter: o gramado sintético foi uma ótima ideia para evitar a lama, só que acumulou água e lixo no último dia do festival; a limitação do trânsito na região próxima à Cidade do Rock a apenas ônibus e veículos credenciados gerou um comércio paralelo de taxistas que, a alguns quilômetros da área, cobravam valores exorbitantes por corridas curtas, aproveitando-se da limitação de transporte imposta; o som do palco Sunset, instável, foi alvo de reclamações do público e de artistas; no palco Mundo, as caixas de som ao fundo da plateia foram desligadas em algumas apresentações – do Coldplay e do System of a Down, por exemplo –, tornando fraca a qualidade sonora daquele setor.

O sucesso de mais uma edição reforça a possibilidade de mais países receberem o Rock in Rio no futuro, além de Brasil, Portugal e Espanha. “Gostaria de ter mais um país da América Latina, o México, talvez, em 2013”, conta Roberto Medina. “Depois gostaria de ir para a Inglaterra e Estados Unidos. Este para depois, porque hoje já conheço bem a engenharia de comunicação na América Latina e na Europa, mas lá, não, quero aprender mais.”

Segundo o empresário, o interesse internacional pela marca Rock in Rio cresceu bastante. “Vários países têm delegação aqui para tentar levar o Rock in Rio para lá: Rússia, Estados Unidos, México. A gente virou gringo”, ele diz. A expansão para outros países também pode ser benéfica para os artistas nacionais, que acabam tendo a chance de se apresentar em locais onde tocariam para menos gente em ocasiões normais. “Estou levando as bandas daqui para lá”, comemora Medina. “Levei a Ivete [Sangalo], que hoje é uma artista de fechar qualquer line-up, ela explode em Portugal. Levei Skank, Jota Quest. Essa coisa de trazer o Maná tem a ver com essa troca também. O intercâmbio com outros países é muito importante para a marca Rio, para a marca Brasil.”

Se no exterior o reconhecimento foi construído em mais de duas décadas de esforço, o carinho nacional pela marca Rock in Rio se mostrou forte e intenso de forma mais natural: sempre que o famoso jingle ecoava no sistema de som da Cidade do Rock, era cantado em coro pelo público, que também manteve os pontos de venda de merchandising constantemente cheios.

Outro sinal do sucesso com os brasileiros: o cartão de fidelidade Rock in Rio Club (disponível desde o dia 23 de setembro) teve 13 mil compradores só no primeiro fim de semana, chegando aos 15 mil até o fim do evento. O item garante a prioridade de compra na pré- -venda dos ingressos para o Rock in Rio do ano que vem (em Madri, Espanha, e Lisboa, Portugal) e para a próxima edição brasileira. Com o cartão, que custa R$ 79, é possível comprar até quatro ingressos para cada dia do evento, com 15% de desconto em cada entrada.

“Este Rock in Rio é um marco, como o primeiro foi no mercado da música, abriu portas para a produção que roda o show business”, analisa Roberta Medina, vice-presidente do festival. “Este é um marco, só que na forma de se fazer. O nível de exigência de qualidade tem que ser maior. Parece que a referência foi internacionalizada.” Para o pai dela, Roberto, o impacto se manteve nesta quarta edição, sendo que o público ganhou em conforto. “A gente vai melhorando. Na Espanha a grama também é sintética. Não tem poeira, para as pessoas se sentirem mais confortáveis. Isso é uma evolução. Se você pega o primeiro Rock in Rio, foi exatamente isso, sem a estrutura sofisticada.”

Do lado artístico, os músicos passaram a tratar o fato de se apresentar no Rock in Rio não mais apenas como uma honra, e sim como uma possibilidade de se expor para um público extraordinariamente maior. O Coldplay, por exemplo, usou a oportunidade para reforçar o lançamento de músicas do ainda inédito novo álbum, Mylo Xyloto. “A cada disco que fazemos, sabemos que pode levar certo tempo até que algumas pessoas entendam onde estamos [musicalmente]. Nem sempre é imediato”, explica o vocalista Chris Martin, sobre executar as novidades na frente de dezenas de milhares de pessoas (e para uma quantidade ainda maior nas transmissões ao vivo pela internet e pela televisão). “E sempre tocamos nossas canções de maior sucesso, nunca as deixamos de fora.” O guitarrista Jonny Buckland completa: “Não queremos nos apoiar em nostalgia. Queremos dar às pessoas o que elas querem, mas também oferecer algo de novo, fresco. É desafiador, mas é um bom desafio”.

Claudia Leitte, atração do primeiro dia, decidiu otimizar o trabalho e criou uma estrutura nova, que será aproveitada em shows futuros. “Montamos um cronograma de ensaios para o Rock in Rio e para a gravação do DVD, que acontece em Salvador, no Teatro Castro Alves e em Sampa, no Morumbi”, explica a cantora, que investiu quase nove meses no desenvolvimento do grandioso espetáculo, que estreou no evento carioca. “Investimos num momento que consideramos importante. Estamos rearranjando hits antigos, compondo e ouvindo músicas novas e criando texturas para cada uma delas e desenhando o show desde janeiro deste ano.” Por outro lado, Claudia teve de lidar com as adversidades de encaixar um show complexo em um festival como o Rock in Rio. “Acredito que se trata de um evento muito grande, com muitas bandas, e que, portanto, é difícil atender às necessidades todas”, diz. “Por causa disso, nossa equipe montou o palco em sete minutos e ensaiou de modo exaustivo. Cumprimos nossos horários e passamos o som como tinha que ser. Usamos todo o equipamento disponível no Rock in Rio durante os ensaios pra mapearmos nossa apresentação por completo. Fomos preparados e conscientes.”

A mesma dedicação não foi vista nos trabalhos desenvolvidos por alguns dos artistas estrangeiros. Rihanna atrasou a entrada no palco em mais de duas horas, enquanto Ke$ha não montou o palco completo da Get $leazy Tour. “Infelizmente é da cultura do nosso povo, por causa até da curiosidade do novo, receber melhor aquilo que vem de fora”, opina Claudia Leitte. “A maior prova disso é que alguns artistas internacionais às vezes se perdem no horário, não montam totalmente o cenário, não passam som, enfim, não se preocupam em apresentar o melhor para o público e, ainda assim, são ovacionados. Imagine se eu tivesse chegado atrasada? Sei como as coisas são e me preparei.”

No palco Sunset, artistas menores tiveram a oportunidade de se juntar para apresentações únicas, com repertórios bastante distintos. “Foi uma experiência deliciosa”, diz a paulista Tulipa Ruiz, que cantou ao lado do grupo pernambucano Nação Zumbi. “De início pensamos em fazer apenas algumas músicas juntos, mas o ensaio foi tão proveitoso que resolvemos fazer o show todo com as duas bandas. Para a gente deu a maior liga. Esse cross fade entre o intenso e o sutil foi o grande barato do nosso encontro.” Para Tulipa, o Rock in Rio só precisaria acertar melhor as questões de estrutura e preparação para os artistas. “A coisa mais importante em um festival gigante como esse é ter uma excelência técnica na qualidade de som”, diz. “Os encontros do Sunset foram superlegais, mas as passagens de som foram curtas e turbulentas, prejudicando a apresentação das bandas.”

“O Rio tem que competir com o mundo nesse tipo de coisa, esporte, entretenimento”, decretou Roberto Medina. “[A cidade] não tem que competir com São Paulo em termos industriais. O Rock in Rio em 2013 vai ser a Copa do Mundo da música.” Mesmo que haja muito trabalho a ser feito para que isso seja verdade – não só na teoria –, a aura mítica do Rock in Rio parece ter derrubado fronteiras e não sobrevoa apenas os artistas brasileiros. “É um show importante para nós”, afirma o guitarrista Ron “Bumblefoot” Thal, do Guns N’ Roses, que encerrou o evento neste ano (e que fez shows históricos em edições passadas).

“Eu estava falando com um fã e ele esteve [no festival] em 1991, 2001 e agora também”, ele continua. ”É como procurar um membro da sua família e, ao encontrá-lo, ver que ele mudou e é uma pessoa diferente, com algo novo para descobrirmos sobre ele. É uma honra poder tocar aqui.”