O Silêncio do Céu, coprodução latina estrelada por Carolina Dieckmann, coloca no centro um drama vivido por muitas mulheres
É impossível não se prender à trama do filme logo de cara. Assim que começa, O Silêncio do Céu nos expõe a uma cena de estupro terrível e agoniante, digna de representar o horror pelo qual passa uma mulher vítima desse crime. A mulher, no caso, é a brasileira moradora do Uruguai Diana, a quem a atriz Carolina Dieckmann dá uma realidade assustadora no longa dirigido pelo brasileiro Marco Dutra.
“A situação da cena em si já é muito tensa, os barulhos, a força, a faca...”, lembra Carolina sobre a sequência violenta a partir da qual toda a trama se desenvolve. Diana, como muitas antes dela, não revela ao marido (vivido pelo argentino Leonardo Sbaraglia) ou aos amigos o que aconteceu. O que não sabe é que o marido, uma espécie de coleção de fobias travestida de ser humano, presenciou tudo, não reagiu e, assim como ela, tem mantido o silêncio, apurando e depurando o crime sozinho. Apesar de a temática do estupro pautar toda a ação do longa, adaptado a partir do livro Era El Cielo, de Sergio Bizzio, Carolina diz que tentou não se aprofundar nas miudezas dele. “Procuro sempre uma pureza em relação às personagens. Se você já sabe muito sobre o assunto, se vem para a cena cheia de conceitos formados, fica mais difícil acessar os sentimentos orgânicos e espontâneos. Uma mulher nessa situação está provavelmente mais crua, selvagem”, argumenta ela, que ainda teve que lidar com a barreira da língua e afirma ter tido muita dificuldade. “Estudei em cima do texto, de cada fala. Você não tem conhecimento do vocabulário pra substituir, alterar, ajudar na embocadura. É trabalhoso.”