Mesmo sem dois membros-chave, AC/DC está de volta com novo disco e promessa de turnê
David Fricke| Tradução: J.M Trevisan Publicado em 11/12/2014, às 12h26 - Atualizado em 08/01/2015, às 16h20
O primeiro sinal de que as coisas não iam bem veio antes de o AC/DC começar as gravações para o novo álbum, Rock or Bust, em Vancouver, em maio deste ano: o baterista do grupo, Phil Rudd, estava dez dias atrasado para as sessões. “Uma hora dizia que vinha, aí cancelava, então avisava que estava vindo”, conta Angus Young, guitarrista da banda. “Não somos o tipo de banda que gosta de ficar esperando os outros.” Em certo momento, diz Young, o produtor Brendan O’Brien decidiu que era a última chance de Rudd aparecer. “Brendan falou: ‘Se ele não vier até sexta, vamos encontrar outro baterista para o lugar dele’.” Rudd acabou aparecendo, mas havia algo diferente. “Já o vi em dias melhores.
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Não era o Phil que conhecemos. Depois que terminamos a última turnê, ele se perdeu.” Em outubro, Rudd faltou a uma sessão de fotos e vídeo do AC/DC, em Londres. Então, em 6 de novembro, foi preso em casa na Nova Zelândia, acusado de contratar um assassino de aluguel para matar dois homens. A queixa foi retirada por falta de provas, mas Rudd ainda está sendo acusado por ameaça de morte, posse de metanfetamina e maconha. Young confirmou tudo isso em uma entrevista uma semana após a prisão de Rudd: “A situação da bateria na banda ainda é uma incógnita. Mas vamos cumprir os compromissos. Nossos problemas começaram bem antes da situação em que ele se encontra agora. E o fato é que já estávamos seguindo em frente”.
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Young se refere a um vazio ainda mais crítico no poder musical do AC/DC: a perda de Malcolm Young, irmão mais velho de Angus e guitarrista de nervos de aço do grupo, que sofre de demência e está internado em uma instituição na Austrália. Malcolm, de 61 anos, não tocou em Rock or Bust e está permanentemente aposentado da banda que ajudou a fundar em 1973, em Sydney. Isso coloca Angus Young, de 59 anos, como o responsável por guiar rumo a um futuro incerto o vocalista Brian Johnson, o baixista Cliff Williams e o novo guitarrista, Stevie Young, sobrinho de 58 anos de Malcolm e Angus. “Malcolm sempre quis que a música continuasse”, diz Johnson. “E não negarei isso a ele.”
Falando pela primeira vez publicamente sobre o problema do irmão, Angus Young conta que a doença começou a se mostrar “há algum tempo”. “Os sintomas [lapsos de memória e concentração] surgiram ainda antes do disco Black Ice (2008).”
Curvado sobre uma xícara de chá em um hotel em Londres, falando com uma voz grave, mansa e resignada, Angus revela que o irmão já estava em tratamento durante a última turnê com o AC/DC, de 2008 a 2010. “Ele teve ajuda e cuidados médicos de qualidade”, afirma. Malcolm teve que “reaprender muitas coisas”, incluindo riffs que havia criado para os maiores sucessos da banda. “Era muito estranho para ele. Mas ele sempre foi um cara confiante, e fez com que funcionasse.”
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A presença de Malcolm assombra Rock or Bust. As 11 músicas são creditadas aos irmãos Young, e são em grande parte formadas por ganchos de guitarra compostos por ele e Malcolm, acumulados durante o processo de composição de discos anteriores. Enquanto trabalhava nas novas canções, Angus não as mostrou ao parceiro. “Na condição que ele ficou, isso meio
que se perdeu”, admite.
A chegada de Stevie Young, no entanto, renovou os ânimos da banda. “A dinâmica das guitarras é superimportante no AC/DC”, diz o produtor O’Brien. “Stevie entendeu isso. Ele usou as mesmas guitarras, o mesmo equipamento, e tirou o mesmo som.” Cliff Williams crê que o resultado era inevitável: Stevie é, afinal de contas, um Young. “Está no sangue dele”, crê o músico.
A prisão de Rudd ainda “é um grande golpe”, Angus assume. Mas nada vai impedir a banda de seguir em frente. “Vamos prosseguir. Estamos comprometidos com isso.”