Com apelo emocional, Sublime with Rome evoca o cultuado legado de banda símbolo dos anos 90
"Eu sei que estão todos me olhando com uma lupa." Esparramado em um sofá no canto de seu camarim, Rome Ramirez parece à vontade na condição de homem de frente da nova formação do Sublime para as novas gerações. É uma noite de sexta-feira, e o Sublime with Rome está a poucas horas de realizar seu primeiro show em Londres, no confortável auditório Shepherd's Bush Empire, na zona oeste da capital inglesa. Poucas horas após o show, eles embarcariam para São Paulo, para uma apresentação única no festival SWU.
O nome da banda é uma alusão ao fato de esta banda não ser "oficialmente" o Sublime, e sim um grupo formado por dois integrantes originais - o baixista Eric Wilson e o baterista Bud Gaugh -, além do vocalista/guitarrista Ramirez. Não é coincidência o fato de o repertório do trio (que no palco é acompanhado por mais um músico, Todd Forman, que se divide entre saxofone e teclado) ser completamente baseado nos três álbuns oficiais da banda, 40 Oz. To Freedom, Robbin'the Hood e Sublime, lançados entre 1992 e 1996.
O Sublime talvez tivesse caído no limbo como tantas bandas que misturavam ritmos surgidas na década de 1990. A morte do vocalista e compositor Bradley Nowell, por overdose de heroína, em março de 1996, ocasionou o encerramento precoce da banda. Por outro lado, a tragédia se tornou também o motivo pelo qual o Sublime saiu do underground para se tornar, enfim, pop e acessível. O álbum póstumo, Sublime, lançado dois meses após a morte de Nowell, carregou hits suficientes para fazer o grupo se tornar referência para artistas vindouros e multiplicar sua base de fãs em questão de anos - fato notável em se tratando de uma banda extinta e cultuada por um nicho.
Rome Ramirez, 22 anos, tomou com afinco a tarefa de fazer justiça ao carisma de Nowell, frontman cheio de personalidade e compositor de quase a totalidade do material produzido pelo Sublime. No palco, a semelhança de sua performance com a do falecido músico é quase sobrenatural, seja na entonação da voz, seja na maneira com que desfere de modo quase vulgar os acordes de guitarra sincopados e os solos cheios de atitude. Fisicamente, ele não poderia ser mais diferente de Nowell: é moreno, gorducho e um tanto atarracado, com traços que denotam a origem latina. "Eu estava em um bar de hotel", ele diz, "e o cara da nossa equipe de som mencionou algo que eu nunca havia pensado: é uma loucura que somente 1% dos fãs atuais do Sublime já os viram tocar ao vivo. Todo mundo só tem como nos comparar com o que ouviram nos CDs".
Bud surge de um canto escuro do camarim e se junta à conversa. Com um chapéu amarelo na cabeça e esboçando um sorriso quase debochado, o baterista de 43 anos começa dizendo que a volta de sua antiga banda representa o fim de um estado quase letárgico em que se encontrava. "Eu sinto como se tivesse saído da cadeia. É como se eu estivesse preso nos últimos 15 anos."
Previsto para 2011, o primeiro disco de músicas inéditas da nova formação do "quase-Sublime" já está em produção - algumas das faixas, aliás, já são apresentadas ao vivo, como a frenética "Panic". "É a mesma receita de antes", diz Bud. "Vamos voltar ao estúdio em fevereiro ou março e aí deveremos ter umas 200 músicas novas", diz, rindo.
"É uma alegria que esteja tudo dando tão certo", completa Rome. "Porque é esquisito, cara. É esquisito. Porque tudo se encaixa. E isso é maravilhoso pra caralho."