Terapia da Gravação

A islandesa Björk explica as origens do recém-lançado disco Vulnicura

David Fricke

Publicado em 17/03/2015, às 15h59 - Atualizado às 16h32

Contabilizando com os dedos, Björk relembra alguns dos acontecimentos traumáticos dos últimos tempos: a operação na garganta, em 2012; uma destruidora separação do parceiro de longa data, o artista Matthew Barney; o ataque cardíaco da mãe; e, por fim, a morte, no ano passado, do colaborador de estúdio Mark Bell. “Foi um período bem dramático”, a cantora islandesa reconhece, “mas também muito feliz”. O novo disco dela, Vulnicura – uma crônica sincera, com cordas e sons eletrônicos, sobre o fim da relação com Barney –chegou ao Top 40 em mais de uma dúzia de países.

O álbum curou seu coração partido?

Não consigo nem descrever como estou me sentindo melhor, fisicamente mesmo. Obviamente, a vida não é preto no branco. Algo pode acontecer comigo daqui a cinco anos e fazer com que volte tudo. Mas estou fora daquele estágio de emergência, que faz com que você se sinta como um alienígena espacial, como se estivesse possuída.

O que você tirou de ter escrito sobre a separação? As músicas até têm data, então sabemos como você estava se sentindo em cada momento.

Foi um mecanismo de sobrevivência. Eu achei, até o último dia [do relacionamento], que tudo iria ficar bem. Talvez por isso tenha sido um choque tão grande. Marcar os meses me pareceu a coisa certa a fazer. Seria a justificativa para eu estar com tanta pena de mim mesma [risos]. Quando as pessoas escutam as letras, posso dizer: “Foi só dois meses depois da separação. Eu estava tão confusa quanto uma adolescente!”

Você tinha 12 anos quando lançou seu primeiro álbum, na Islândia. Sentiu que estava em um determinado caminho?

Fui um pouco forçada pela minha mãe. Não tenho bem certeza se ela estava ciente do trabalho psicológico envolvido em ser uma figura pública aos 12 anos. A magia do estúdio foi a melhor parte. Eu meio que torcia para que nunca precisasse ser lançado, que eu só pudesse ficar fazendo um álbum atrás do outro.

Quando fez a operação na garganta, ficou com medo de talvez perder sua voz para sempre?

Passei três semanas sem poder falar. Eu e minha filha escrevíamos bilhetes, acabou virando uma espécie de brincadeira. Mas o álbum foi um recomeço. O refrão de “Lionsong” – eu estava em uma floresta nos arredores de Reykjavík, fazendo aquecimento, abrindo a garganta feito um passarinho. Foi uma catarse – você percebe a tensão que se acumulou, porque estava protegendo aquela parte em você.