De ensaio na laje a um strip sem música, os bastidores do primeiro nu de Laerte
Em um fim de tarde de setembro, uma senhora de 62 anos, vestindo camiseta rosa sem mangas e minissaia, chega carregando maletas a um estúdio fotográfico na região do Aeroporto de Congonhas (São Paulo). Tem as pernas e os braços bem torneados e, apesar da cintura pouco marcada, não parece sofrer com gordurinhas localizadas pelo corpo. É recebida pelo fotógrafo Rafael Roncato, de 24 anos, um currículo ainda breve na área, mas que conquistou o coração de Laerte menos de um ano atrás, quando fez um retrato da artista para um projeto. “Ele adorou. Disse que foi a melhor foto que já fizeram dele”, conta. Na imagem, quase um 3x4 em branco e preto, Laerte aparece de óculos sem aros e rugas mais marcadas. É possivelmente a cara da avó materna, a professora de piano Maria de Freitas, a quem diz ter puxado as feições. “É um retrato sincero”, especula o fotógrafo. Meses depois da primeira foto, Laerte escreveu para Roncato. Queria fazer “fotos de divulgação”. Após e-mails trocados, um novo pedido: “Vamos ver o dia das fotos, porque vou precisar fazer uma depilação... Talvez uma depilação completa... Que tal um nu?” “Nessa hora, assustei”, ele lembra. “É como se eu virasse para você agora e falasse: E aí, vamos fotografar pelado?” O trabalho começou com fotos na laje, ainda com as roupas do corpo e sem maquiagem. Já no estúdio, Laerte posou com um vestido de estampa floral. Na hora do nu, ressurgiu em uma camisola preta. De semblante mais sério, começou um striptease sem música, fitando a câmera: tirou o sutiã, baixou a calcinha preta e atirou-a na direção da lente. Despida, contorceu-se como um iogue, brincou com tintas, desenhou e exibiu em um só corpo todos os gêneros e Laertes que decidiu aceitar e cultivar. “As pessoas querem saber do pênis ou se ele tem seios”, avalia Roncato, “mas acho que as imagens mais poderosas são justamente as que não mostram isso.”