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Trabalhando em um Sonho

Fundador da Rolling Stone analisa o talento de Bruce Springsteen em reconquistar o público brasileiro

Jann S. Wenner | Em depoimento a Paulo Terron Publicado em 11/10/2013, às 14h42 - Atualizado às 15h30

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<b>DA GALERA</b>
Springsteen entra em contato com o público do Rock in Rio
 - Marcus Vinicius/Estacio de Sá/Divulgação
<b>DA GALERA</b> Springsteen entra em contato com o público do Rock in Rio - Marcus Vinicius/Estacio de Sá/Divulgação

Todo esse negócio do Bruce Springsteen no Brasil - e também na Argentina e no Chile - é que ele está encontrando um novo público, fãs com quem ele não tinha conectado antes. Fazia 25 anos que a E Street Band não se apresentava na América do Sul, desde a turnê da Anistia Internacional, um quarto de século atrás, em 1988. De certa forma, ele era meio desconhecido na América Latina até agora – ele sabe disso e abraçou esses shows com muita vontade.

A energia das performances foi intensificada, e Springsteen fez todo mundo dar duro nessas apresentações. Ele estava tentando se empenhar profundamente, conectar-se. Essa é a especialidade dele, é o que faz de melhor. É isso também o que todo artista diz querer: uma ligação com os fãs. A diferença é que Bruce Springsteen busca isso de verdade, juntando-se ao público, carregando-o com ele durante a noite inteira. Isso não fica restrito ao show, também se estende a como ele se comporta quando está nas ruas, dando autógrafos, posando para fotos, apertando mãos. Na vida, de uma formal geral, ele gosta de manter um relacionamento pessoal com os admiradores. Isso tudo reforçou a viagem ao Brasil, tornou-a mais significativa e marcante. Para ele, foi algo muito recompensador ver a recepção e a reação que recebeu: o entusiasmo, as pessoas cantando as músicas dele. Foi ótimo poder vê-lo rompendo novas fronteiras.

Bruce Springsteen e sua equipe são muito conscientes ao tentar transformar um show em uma experiência para os fãs. Ele se dedica a isso, é o que ele mais quer. Nos Estados Unidos, as entradas são mantidas a um preço acessível por determinação dele. Sei que no Brasil não foi exatamente assim, mas é preciso lembrar que a operação para viabilizar uma apresentação de Springsteen não é barata. E, em um show como o de São Paulo [no Espaço das Américas], em um lugar tão pequeno, a organização provavelmente perderia dinheiro. Ou talvez tenha compensado com o sucesso do Rock in Rio, que foi mais ou menos dez vezes maior.

No Rio, aliás, ele pôde ter um contato mais direto com os admiradores. Ele pôde conversar com as pessoas que o aguardavam na entrada do hotel sem se importar em perder uns 10 ou 15 minutos. Todo mundo fazia fila e ele ia passando e interagindo com cada um. Fomos à praia um dia, muitos fotógrafos e fãs registraram isso. No dia seguinte, fomos fazer compras e, enquanto fiquei em Ipanema, ele seguiu para uma praia de surfe que fica entre Ipanema e Copacabana só para dar uma olhada, caminhar à beira do mar. Há uma foto dele tocando um violão lá. Imagino que uns garotos estivessem por ali, e ele parou para tocar com eles. Também aproveitou para ir à Lapa e pôde se integrar com uma molecada que estava curtindo a noite. Passamos um tempão lá. Foi muito divertido, ele gosta de fazer esse tipo de coisa! Ele ama os fãs dele e não poupa esforços para agradá-los.

Não cheguei a conversar com ele sobre a música brasileira com a qual ele abriu os shows daqui, “Sociedade Alternativa”, de Raul Seixas, mas o Bruce e a E Street Band aprenderam e ensaiaram a faixa durante as passagens de som. É uma canção sobre tempos melhores e liberdade – o mesmo tipo de assunto que ele aborda nas composições dele. Também foi uma forma de ele dizer: “Estou aqui, prestem atenção, estou falando português com vocês, preocupo-me com a minha plateia”.

Tudo acaba voltando ao mesmo ponto: Bruce Springsteen quer falar, conectar-se com os fãs. Fazer parte da vida deles. Ele é único. Foi exatamente por isso que a RS EUA o elegeu o performer número 1 em atividade hoje. A energia pura e a exuberância das apresentações ao vivo já garantiam isso, o claro esforço dele no palco. Mas outra parte importante é a alegria que ele sente enquanto está tocando, como se diverte, a paixão demonstrada sem pudor algum. Ele se sente bem no palco, e isso faz com que todo mundo fique feliz junto com ele. Tem a ver coma ideia dele do que é o rock and roll, não tem como você não sorrir.

Bruce se divertiu imensamente no Brasil. E, como disse em São Paulo, vai voltar logo.