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Trajetória Revista

Em livro, trupe do Casseta & Planeta injeta humor na história do Brasil

Paulo Cavalcanti Publicado em 18/04/2018, às 23h52 - Atualizado às 23h53

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<b>Cassetas Literatos</b><br>
(<i>Em sentido horário</i>) Claudio Manoel, Marcelo Madureira, Hubert Aranha, Reinaldo Figueiredo, Beto Silva e Helio de la Peña fazem cara de seriedade

 - Vinícius Tamer e Shay Reis/Flocks/Divulgação
<b>Cassetas Literatos</b><br> (<i>Em sentido horário</i>) Claudio Manoel, Marcelo Madureira, Hubert Aranha, Reinaldo Figueiredo, Beto Silva e Helio de la Peña fazem cara de seriedade - Vinícius Tamer e Shay Reis/Flocks/Divulgação

Esqueça o Brasil cordial do samba, futebol, Carnaval e novela. Hoje, o país se encontra dividido e extremamente polarizado politicamente. Este processo promete radicalizar ainda mais até a eleição presidencial que acontecerá este ano. Em meio a este cabo de guerra ideológico, o pessoal do Casseta & Planeta chega para jogar mais lenha na fogueira com o livro Brasil do Casseta, que sai pela Editora Sextante/Estação Brasil. Claudio Manoel, Helio de la Peña, Beto Silva, Marcelo Madureira e Hubert Aranha se encarregaram dos textos, enquanto Reinaldo Figueiredo ficou com as ilustrações.

A obra é mais ou menos baseada no conceito de Brasil: Uma História, do escritor gaúcho Eduardo Bueno, mais conhecido como Peninha, que por sinal se encarregou de escrever o prefácio da obra dos comediantes. Esta nova jornada histórica do Casseta começa, obviamente, em 1500, na era do descobrimento, e chega até estes tempos do pós-impeachment de Dilma Rousseff, que aconteceu em 2016. Como tudo que eles fazem, a ficção presente na escrita tem os pés fincados na realidade. Mas a origem do livro se mostra um pouco diferente dos produtos que geralmente elaboram. Helio de la Peña explica como foi o processo: “Normalmente, nos reunimos e distribuímos as tarefas. Depois, juntamos tudo e damos uma cara final. Só que em Brasil do Casseta cada um teve sua autonomia e independência. Foi legal também fazer deste jeito, já que quisemos manter na obra a personalidade e o estilo de cada um. Isso transparece em cada capítulo”.

O escritor e humorista detalha a “reeducação” pela qual passaram: “Nós tivemos que nos preparar, lemos muito e estudamos com afinco a história do Brasil”, ele fala. Mas, segundo de La Peña, essa imersão no passado serviu para que todos refletissem e repensassem sobre os rumos que o país tomou nestes mais de 500 anos de descobrimento. “Desde o começo, o Brasil sempre teve motivos para dar muito errado. Tudo nesta terra aconteceu muito ao acaso. E na escola aprendemos várias coisas equivocadas também”, diz. Um dos capítulos que o humorista escreveu se chama Escravizados no Brasil. Apesar das piadas e dos trocadilhos inseridos na narrativa, o humorista fica sério quando o assunto é racismo e escravidão. Nos textos, ele usa cinismo e ironia, mas o discurso se inflama quando vai se aprofundando no tema. “O Brasil é um país de miscigenação total, mas os negros são ainda os cidadãos mais desfavorecidos em nossa sociedade. E quanto mais escura é a pele da pessoa pior fica para ela.”

Para Beto Silva, o projeto foi bem prazeroso. “Nos obrigamos muito a ler história, o que foi bom, já que isso foi algo que eu sempre curti. Foi bom também para notar os erros que nós cometemos e também para apontar para coisas que fizemos certas. O mais importante foi manter a nossa visão humorística, mas respeitando fielmente todos os fatos da história do Brasil”, explica.

Silva também ficou com um dos capítulos mais espinhosos do livro. Em Ditadura Não É Mole, ele fala do regime militar que traumatizou o Brasil de 1964 a 1985. No relato, naturalmente, tem comédia, mas Silva também alerta que é perigoso brincar ou glorificar esse período em particular. “Aquela época teve o chamado Milagre Econômico, de que os militares se vangloriam. Mas eles também fizeram muitas besteiras nessa área em particular. E o governo de [Emilio Garrastazu] Médici, que aconteceu no começo dos anos 1970, foi particularmente barra-pesada. Os mais jovens precisam saber que ditadura, como tivemos aqui, é algo que não pode ser louvado de forma alguma.”

Já a visão de Claudio Manoel sobre a história do Brasil se mostra mais intrigante. “A gente, na verdade, conhece bem pouco da nossa história”, fala. “Não resolvemos ainda muitas coisas. O Brasil foi a última nação a abolir a escravatura e isso ainda reflete em nossa sociedade, especialmente em locais como o Rio de Janeiro. Temos também um jeito festivo que disfarça todas as coisas incômodas que temos de enfrentar”. Sobre a divisão e as contradições que o país enfrenta, ele filosofa: “Agora temos conflitos entre sindicatos, imprensa, classe média. Parece que atrasamos o relógio para 1968. Temos um STF com vilões e mocinhos. E ainda somos governados por uma casta perversa que consome 40% dos nossos recursos”.

Para Hubert Aranha, o resultado final da obra tem uma certa ambivalência, um jeito tragicômico. “Este é um livro de humor que não tem pretensão nenhuma de ser adotado pelas escolas”, brinca. “Mas serve para mostrar o que é o Brasil. Pau que nasce torto e morre torto. Os problemas foram plantados há muito tempo. Dá tristeza de ver um país que teve chance de ser grande, mas infelizmente não vimos isso acontecer.”

Apesar das críticas que faz às questões do Brasil, Hubert ainda é otimista. “Continuo acreditando. O país até melhorou. Temos mais conhecimento dos meandros dele, a ditadura é algo que ficou para trás. Sim, dá a impressão de que todo mundo é corrupto e ladrão, mas agora os fatos estão finalmente aparecendo. O Ministério Público, os juízes, todos, enfim, estão agindo e dando o exemplo. Nossos problemas finalmente serão encarados.” O humorista afirma que não tem partido político. “Eu vou criticar sempre. As instituições estão funcionando. O resto do país precisa funcionar também”, avalia.

Um dos capítulos que Hubert escreveu é intitulado O Brasil de Lula e Dilma Roskoff, em que ele avalia os governos do PT. “Lula até que começou bem, foi pragmático. Pena que cedeu às oligarquias. Depois, ainda fez uma grande planilha de corrupção”, diz. Nas palavras dele, a gestão de Dilma Rousseff foi “desastrosa”. “Ela provocou uma tragédia econômica e social, que levará anos para ser consertada”, comenta. “Espero que esse meu prognóstico seja contrariado. E ainda acho que mesmo em um país com 13 milhões de desempregados, o melhor remédio é rir”.