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Tropicalista das Ruas: pioneiro do grafite, Speto desenvolveu estilo próprio com o rock dos anos 1990

“Eu andava de skate e gostava de Ratos de Porão e Dead Kennedys”, conta o artista, um dos principais representantes da arte de rua do país

Lucas Brêda Publicado em 13/11/2017, às 12h26 - Atualizado às 12h28

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<b>De Fé</b><br>
Iemanjá, Ogum e Exu retratados por Speto em mural já apagado no Museu Afro Brasil, no Parque Ibirapuera (São Paulo/SP)
 - Felipe Hellmeister / Arquivo Pesoal
<b>De Fé</b><br> Iemanjá, Ogum e Exu retratados por Speto em mural já apagado no Museu Afro Brasil, no Parque Ibirapuera (São Paulo/SP) - Felipe Hellmeister / Arquivo Pesoal

Paulo Cesar Silva não resistiu intacto à experiência de assistir ao filme A Loucura do Ritmo (1984). “Era impressionante, tinha o Ramon [vivido por Jon Chardiet] grafitando um trem”, relembra o artista mundialmente conhecido como Speto. “Na mesma semana, comprei uma latinha de spray, pulei o muro da escola e pichei. Lá e na minha rua.” Ele tinha apenas 13 anos em 1985, quando começou a pintar cenários de concursos de bandas e rampas de skate em São Paulo. “O spray era ruim, mas eu não tinha grana”, lembra. “Não tinha informação, revista, nada. Íamos pichar na [Avenida] Paulista com aquelas escadinhas de cozinha. Era uma farra,

uma farofada.”

Speto foi um dos representantes da vertente visual do punk e do hip-hop, movimentos que pipocavam conforme a urbanização atingia as metrópoles brasileiras. “Eu andava de skate e gostava de Ratos de Porão, Dead Kennedys”, conta. “Já Os Gêmeos ouviam hip-hop, eram b-boys, discotecavam.” Se nos anos 1980 o grafite era restrito aos bairros, na década seguinte ganhou o centro. “Resolvemos invadir a cidade, começamos pela Praça Roosevelt e não paramos. Como éramos moleques, a polícia não podia deter.”

Speto já pintou em mais de 15 países, tem obras expostas em galerias da Europa e dos Estados Unidos, fez campanhas com Brahma e Coca-Cola, trabalhou no visual da Copa do Mundo de 2014 e colaborou com Beyoncé (no vídeo de “Blue”) e Alice Cooper, entre outros. Mas seu estilo característico – o traço grosso, intrinsecamente brasileiro – foi desenvolvido quando ele fez a capa do primeiro álbum do Raimundos, autointitulado, em 1994. “Vi a capa do Dead Man’s Party, do Oingo Boingo, que tinha o artesanato mexicano, e fiquei impactado”, explica. “Queria achar um paralelo na arte brasileira. Comecei a pesquisar cordel e xilogravura e a tentar fazer aquilo com o spray.” Ele ainda grafitou em mais de 400 shows da banda O Rappa e desenvolveu a identidade visual de Planet Hemp e Nação Zumbi, marcando um momento em que o rock brasileiro, paralelamente à arte de Speto, ganhou as massas mesclando livremente as influências estrangeiras e regionais, em uma espécie de retorno dos ideais tropicalistas de três décadas atrás.

“Nem falávamos ‘grafite’, era ‘pintura’”, Speto lembra, meditando sobre a dimensão que a arte de rua tomou (muito graças a ele). “Hoje, São Paulo é a cidade mais grafitada do mundo. Já vieram Mick Jagger e Tim Burton ao Beco do Batman, chegou na mídia, reúne patrocínio. É engraçado, porque nos acostumamos a ser os marginalizados, não podia falar para o sogro ‘sou grafiteiro’ [risos].”

Veja um pouco do trabalho de Speto nas imagens da galeria acima