Perto do fim da vida, Lou Reed passou os dias revisando seu catálogo solo para um novo box
Em junho de 2013, meses antes de morrer, Lou Reed sentou nos estúdios Masterdisk, em Manhattan, com os amigos e coprodutores Hal Willner e Rob Santos para trabalhar em um projeto que queria fazer havia muito tempo: remasterizar todo o seu catálogo solo lançado pelas gravadoras RCA e Arista. Reed era obcecado por áudio e, apesar da saúde frágil, ia todos os dias ao estúdio, saboreando e esmiuçando a própria obra.
“Ele ficava tão alegre ao redescobrir esses discos”, lembra Willner. “Poder estar sentado lá na sala com ele enquanto fazia isso... uau. Sentia-me a pessoa mais sortuda do mundo.”
A intenção era lançar essas remasterizações em um imenso box com 17 discos no terceiro trimestre daquele ano – só que a saúde de Reed piorou e o projeto foi suspenso.
Após a morte dele, em outubro de 2013, aos 71 anos, os arquivistas Don Fleming e Jason Stern trabalharam com a esposa do artista, Laurie Anderson, para completar o livro que acompanha o box. A obra é cheia de lembranças e fotos raras, incluindo uma que mostra Reed sorrindo e liderando um grupo vocal no show de talentos da escola. O resultado de todo esse trabalho, recém-lançado, é Lou Reed – The RCA & Arista Album Collection. Cobrindo o período de 1972 a 1986, é uma lição de como uma gravadora deve tratar o catálogo permanente de um artista. “Que bom que esperamos, porque saiu melhor”, diz Santos.
O box parece ser um prelúdio para um projeto de raridades e gravações descartadas, como o Bootleg Series, de Bob Dylan. Existe um acervo enorme de demos e canções avulsas no baú de Reed, mas não está exatamente claro quanto material há lá. Um ponto de partida pode ser a imensidão de material ao vivo inédito: Santos diz que há uma conversa sobre um box ampliado de gravações do show de 1973 que deu origem ao clássico ao vivo Rock ’n’ Roll Animal e observa que a gravadora “registrou muitos shows para [o box ao vivo de 1978] Take No Prisoners”. Também há dois álbuns ao vivo que ficaram de fora do novo box, porque Reed não os considerava propriamente parte de seu catálogo: o importado Live in Italy, de 1984, uma aparição intensa com o falecido guitarrista Robert Quine; e o caça-níqueis da gravadora Lou Reed Live, de 1975.
The RCA & Arista Album Collection, no entanto, parece ser a declaração final sobre o artista. Willner se lembra do último dia de remasterização, depois do qual ele e Reed foram ao Sirius Studios para gravar o programa de rádio New York Shu e. “Nunca tocávamos músicas dele no programa”, conta Willner. Só que, naquele dia, os dois tinham levado as gravações finalizadas para o box e a convidada do programa, Natasha Lyonne, de Orange Is the New Black, sugeriu que tocassem algumas das faixas (a atriz era muito fã de Reed, que era muito fã de OITNB). “Lou começou a dizer coisas como ‘não acredito que estamos fazendo isso enquanto estou vivo’”, diz Willner. Natasha lembra esse como “o momento mais pesado da minha vida”.
“Foi uma tarde incrivelmente emotiva”, acrescenta Willner melancolicamente. “Nunca vi alguém que quisesse tanto viver.”