Para o megaprodutor Jerry Bruckheimer, o futuro de Hollywood ainda são as salas de cinema, apesar da internet
Quando o assunto é Jerry Bruckheimer, tudo é mega, grandioso, hiperbólico. Apelidado de "Mr. Blockbuster", o produtor norte-americano de 65 anos pode facilmente ser considerado o mais bem-sucedido de todos os tempos. Seus filmes, quando não batem recordes, raramente dão prejuízo - foi ele o responsável por sucessos como Flashdance, Top Gun - Ases Indomáveis, Armageddon, Pearl Harbor e Príncipe da Pérsia, franquias como Um Tira da Pesada e Piratas do Caribe, além de séries de TV como CSI. A crítica nem sempre aprecia os filmes que trazem sua chancela, acusando-os de barulhentos e populistas. Mas Bruckheimer parece conhecer e compreender o gosto popular: no total, os filmes que produziu já renderam mais de US$ 13 bilhões em bilheteria ao redor do mundo todo.
Um dos poucos insiders da indústria cujo nome eventualmente circula na boca do grande público, Bruckheimer é presença constante nas listas dos mais poderosos de Hollywood e dos mais ricos da revista Forbes. No final do mês, Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas, quarto capítulo da franquia e mais um dos projetos do produtor, tomará conta dos multiplex do mundo inteiro. Em entrevista, Bruckheimer - cujo discurso é didático, mas nunca pedante - não deixou dúvidas de que permanece como um eterno soldado da causa cinematográfica.
O que esperar deste novo Piratas, o quarto da série?
É outra história, um novo capítulo na saga. Temos novos personagens e vilões, as sereias, a Penélope Cruz, o Ian McShane fazendo o Barba Negra... De certa forma, ele retoma o espírito do primeiro filme [Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra, 2003]. Começamos do zero. O importante é que agora temos à frente de tudo o Rob Marshall. Ele começou dirigindo musicais na Broadway e é um grande diretor de atores, sabe tirar o melhor deles e dos dublês. Ele entende o humor. Como coreógrafo, sabe perfeitamente como funciona o "balé" das batalhas. Isso vai fazer a diferença.
Depois de Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (2007), poucos esperavam que a série ainda fosse prosseguir...
É, a trilogia parecia ter terminado. Mas as pessoas pediam tanto mais um filme, e a série se tornou tão popular, que decidimos retomá-la. Ainda mais quando percebemos a possibilidade de filmar em 3D. Jack Sparrow vai literalmente "saltar" da tela e cair na cadeira junto ao público. Fazer este filme foi uma verdadeira experiência para nós.
Existe alguma desvantagem em ser um megaprodutor?
Como tudo, tem um lado bom e ruim. A parte chata é quando rotulam o seu trabalho mesmo sem o terem visto. Mas fico contente com os filmes que faço e a reação que eles causam. Isso apaga críticas e reações negativas. Eu estou neste negócio para divertir as pessoas. Nunca quis nada mais na vida a não ser estar envolvido com filmes. Quando eu era criança, tudo o que eu queria era comprar um saco de pipoca gigantesco e sair enfeitiçado do cinema.
Você também trabalha muito com televisão. Qual é a diferença em relação ao cinema? Você tem alguma preferência?
Televisão é algo rápido. Você tem a ideia ou recebe um projeto e fala "sim, vamos fazer". Você começa em maio e faz o piloto. Quando chega em outubro, depois da estreia, já sabe se vai ser sucesso ou não. Se não der, parte para outra. Na televisão já existe todo um esquema montado, o que facilita tudo. Os filmes são um processo bem mais complicado. Leva muito mais tempo para se encontrar os diretores, os atores, as locações e, principalmente, levantar o dinheiro. Eu me considero mais um homem de cinema.
Seus filmes sempre fazem muito sucesso. Você tem algum segredo?
Eu trabalho somente com gente muito boa - atores, roteiristas, diretores, coprodutores. Você tem que entender a literatura, as boas histórias. Realmente ninguém sabe o que o público quer, mas temos algumas pistas. Você tem que ir ao coração das pessoas e entender o que faz um grande enredo. Todos nós somos contadores de histórias. Esse é um bom começo. Mas no meu caso, eu também me pergunto: "Eu vou querer ver isso?" Se for o caso, eu compro a ideia.
Como você enxerga a mudança na forma como as pessoas assistem aos filmes? O cinema como o conhecemos ainda tem futuro?
Hoje em dia todo mundo tem um computador com internet em casa. Mas ver um filme no cinema ainda é uma experiência única, e sempre vai ser. Agora, com a tecnologia 3D, mais do que nunca. Para o novo Piratas, levamos nossa câmera para o meio das florestas do Havaí. É o primeiro filme feito em locações externas usando essa tecnologia. Como bater isso? Qual é a graça de ver um filme desses no computador? As crianças, principalmente, querem a experiência comunitária do cinema, ou seja, rir, bater palmas e vibrar ao mesmo tempo. Não tem graça fazer isso sozinho no quarto.
O seu próximo projeto é The Lone Ranger (O Zorro). Como vai ser?
A prioridade agora é lançar Piratas. Depois disso, partiremos para The Lone Ranger. Começaremos no meio do ano e estamos muito animados. Vai ser algo bem diferente, não um western tradicional. Teremos Johnny Depp vivendo o índio Tonto. A equipe, aliás, é a mesma de Piratas. No momento, temos mais quatro projetos em desenvolvimento. E seria muito interessante fazer algo tendo o Brasil como tema. Quem sabe um dia?