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Urbanização do Forró

Documentário Dominguinhos, Volta e Meia busca mostrar a universalidade do “filho postiço” de Luiz Gonzaga

Por Patrícia Colombo Publicado em 20/07/2011, às 19h54

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<b>DOMINGUINHOS</b> O forró vai ao cinema - DING MUSA/DIVULGAÇÃO
<b>DOMINGUINHOS</b> O forró vai ao cinema - DING MUSA/DIVULGAÇÃO

"Você urbanizou o forró. Daqui pra frente, tem que ser tudo mais mió!", "disse" Luiz Gonzaga a Dominguinhos em "Quando Chega o Verão", canção de 1980. Em 2011, o herdeiro musical do rei do baião completou 70 anos, mas deverá receber o presente de reconhecimento por sua trajetória só no primeiro semestre do ano que vem, com a estreia do documentário Dominguinhos, Volta e Meia, de Felipe Briso (e com direção musical e artística da cantora Mariana Aydar, do músico Duani e do compositor Eduardo Nazarian).

O material ainda está em processo de elaboração, mas a ideia surgiu há cerca de quatro anos. "Eu nunca tive a pretensão de fazer um documentário", conta Mariana. "Topei porque era do Dominguinhos." Ela tem experiência com a sonoridade nordestina desde os tempos em que integrava a banda de forró Caruá, as enxergou como um desafio a proposta feita pelo amigo para se unir ao projeto. Dois anos depois do início das pesquisas, a turma conseguiu a verba para a filmagem, por meio do Edital Nacional Natura Musical. De acordo com a artista, a proposta do filme é mostrar a vida de Dominguinhos por meio de sua produção musical.

Com base nesse objetivo, os idealizadores estão organizando uma série de encontros musicais com Dominguinhos: estão na lista João Donato, Wilson das Neves e Luiz Alves, Lenine e Gilberto Gil, entre outros. "A ideia é usar esses encontros para pontuar os momentos da trajetória dele", explica Briso. "As histórias que vêm à tona servirão de gancho." Além dessas conexões (que também resgatam faixas menos conhecidas do artista), Dominguinhos, Volta e Meia contará com entrevistas e material de arquivo. "Eu fico maravilhado com tudo isso, porque estou tendo a oportunidade de relembrar e tocar junto aos amigos", afirma o sanfoneiro de sorriso sereno e fala vagarosa.

Dominguinhos traz na bagagem um talento plural de quem consegue transitar por diversas sonoridades, sem se desconectar de sua essência. Ele diz que isso é culpa de sua maior companheira, a sanfona (a primeira da vida dele, aliás, foi um presente de Gonzagão). "Enxergo como um instrumento mundial, você pode tocar o que quiser. Música erudita, clássica, bolero, samba-canção, bossa nova", ele diz. "É só ter conhecimento e vontade de se modernizar." Essa questão de não se restringir apenas ao regional será outro aspecto abordado no documentário, que busca apontar a universalidade do artista. "Ele é um cara que esteve em muitas épocas", afirma Mariana. "Da Tropicália aos dancings."

O pernambucano de Garanhuns estabeleceu seus laços musicais na infância, tocando pandeiro com os irmãos. Aos 8 anos, conheceu Luiz Gonzaga em um hotel da cidade. Os meninos tocaram algumas canções, mas eles sequer sabiam quem era aquele homem. "Ele nos deu o endereço dele no Rio de Janeiro e um pacote de dinheiro", recorda Dominguinhos, que, em 1954, foi para Nilópolis e procurou pelo consagrado músico, de quem nunca mais se afastou. De Neném do Acordeon passou, aos 16 anos, a se chamar Dominguinhos e foi adotado pelo Rei do Baião como "filho postiço" e herdeiro artístico. E a tal urbanização do forró? "Eu acho que ele tava é enchendo a minha bola quando disse isso", diz Dominguinhos, rindo.