Versão Plugada

Mumford & Sons se reinventa em Wilder Mind

Redação

Publicado em 15/04/2015, às 12h15 - Atualizado em 16/04/2015, às 14h25
<b>Mumford 2.0</b><br>
(Da esq. para a dir.) Marshall, Mumford, Lovett e Dwane, em janeiro

 - James Minchin III
<b>Mumford 2.0</b><br> (Da esq. para a dir.) Marshall, Mumford, Lovett e Dwane, em janeiro - James Minchin III

Quando Ted Dwane, baixista do Mumford & Sons, chegou ao estúdio dele em Londres,no início de 2014, para começar a trabalhar no terceiro álbum da banda, deparou-se com uma surpresa: o lugar estava cheio de sintetizadores. “Foi bizarro”, ele diz. “Não achei que fôssemos fazer a mesma coisa dos discos anteriores, mas aquilo era uma loucura!

No álbum Wilder Mind (com lançamento marcado para o dia 4 de maio), o Mumford & Sons praticamente removeu todos os elementos que eram marca registrada do grupo – banjo, dedilhados acústicos, bumbo marcante – e os substituiu por guitarras à la U2, sintetizadores e baterias eletrônicas. “Achamos que fazer a mesma coisa, com a mesma instrumentação,

não era para nós”, diz o líder, Marcus Mumford. “Nosso gosto é mais amplo do que isso.” Dwane completa: “Nenhum de nós tinha o menor interesse em fazer ‘Babel 2’. Sempre soubemos que seria diferente”.

Perto do fim da turnê de Babel (2012), os integrantes estavam exaustos: eles permaneceram na estrada, sem intervalo, desde 2007. “Você sente uma exaustão tão no fundo dos seus ossos que passa a nem perceber mais que ela ainda está lá”, diz Dwane. Mas não era só fatiga física – a inquietação também era musical. Nas passagens de som, os integrantes começaram a brincar com diferentes instrumentos e até com algumas melodias do Radiohead.

Após um intervalo de três meses, a banda foi primeiro para o estúdio de Dwane e depois, em meados do ano, passou para outro, que pertence a Aaron Dessner, guitarrista do The National, de quem ficaram amigos no circuito dos festivais. Dessner acompanhava a banda esporadicamente enquanto estavam compondo e experimentando opções no pequeno estúdio caseiro dele, um espaço de menos de 40 metros quadrados em um bairro verdejante do Brooklyn, em Nova York. As sessões às vezes se estendiam do fim da manhã até às 4h, com intervalos para assistir à Copa do Mundo. “Eu fiquei maravilhado de ver uma banda que era a atração principal de festivais enormes matando tempo no café da esquina ou fazendo demos em um espaço minúsculo, meio que começando de novo”, conta Dessner.

No início, o colega ficou em dúvida a respeito da direção tomada pelo grupo. “É um pouco temeroso deixar de lado aquele tipo de sucesso”, reflete. Então, em uma noite de agosto, estavam

todos tomando cerveja nos degraus da frente da casa de Dessner quando Mumford insistiu para que gravassem uma faixa juntos, ao vivo no estúdio, sem overdub. Tudo pareceu se encaixar enquanto a banda mandava ver durante vários minutos, com Winston Marshall tocando um violão Gibson elétrico, Ben Lovett fazendo sons eletrônicos com pedais de delay e Mumford tocando bateria e cantando. “Havia uma mágica estranha no ar”, relembra Dessner. “Foi o momento em que parei de ficar assustado com o fato de que eles estavam plugados.” A certa altura, com as sessões mais adiantadas, Dessner sugeriu adicionar banjo a uma canção. “Eles nem quiseram considerar.”

Apesar de Mumford ter composto a maior parte das letras dos álbuns anteriores, desta vez todos contribuíram. “Os caras vieram com letras maravilhosas que eu achei muito divertido cantar”, diz o vocalista. “Foi uma experiência muito libertadora – fiquei feliz demais cantando versos de outras pessoas.”

Eles tinham muito material da vida real com que trabalhar. Desde o último álbum, Dwane e Marshall viram o fim de seus respectivos longos relacionamentos: tumulto e mágoa definem canções como “Believe” e “Only Love”. “Metade da banda passou para um casamento feliz”, Dwane ri, “e a outra metade foi para a direção oposta, para uma experiência de solteirice solitária”.

Dessner não conseguiu ficar até que o álbum fosse concluído, porque precisou sair em turnê com o The National. Quando o Mumford & Sons entrou no estúdio AIR, em Londres, com o

produtor James Ford (que já trabalhou com nomes como Haim e Arctic Monkeys), em novembro, a banda estava com cerca de 40 músicas prontas. Mumford e Ford dividiram o posto de baterista e o grupo expandiu o som ao redor dos teclados de Lovett e da guitarra principal cheia de reverb de Marshall. “Qualquer um podia pegar um sintetizador ou uma bateria eletrônica ou uma guitarra e simplesmente criar”, diz Mumford. “Não havia nada que fosse proibido.”

À medida que a banda foi adicionando mais instrumentos, a contenção passou a ser uma questão importante. “Há mais espaço neste disco do que havia nos dois últimos”, Mumford garante. “Você escuta um álbum antigo do Old Crow [Medicine Show] e não há muitos espaço. Mas, em um álbum do Zeppelin, você consegue de fato ouvir os espaços.”

Agora, o Mumford & Sons prepara as músicas para a estrada. A turnê de verão no hemisfério norte inclui o posto de atração principal do festival Bonnaroo. Com esse novo som, será que a

banda quer se tornar atração de estádios? “Não sei”, diz Dwane. “Sinceramente, ainda estamos nos acostumando com a ideia de que vamos tocar fora de Londres. Então, veremos.”