Viva o Videoclipe
A televisão não matou o rádio, o cd não matou o vinil e o DVD não matou o cinema. Nem a lógica matou o Keith Richards! Mesmo assim, teve quem garantisse que a internet mataria o videoclipe, exterminando a idolatria de proporções mundiais, fazendo dos poucos hits gigantescos inúmeros micro-hits. Disseram que a fama gigantesca teria morrido junto com Michael Jackson. Ninguém contava com a astúcia da Lady Gaga. A cantora apostou que ainda era possível ser monstruosamente famosa, lançou The Fame Monster e investiu alto nos videoclipes. Resultado: tornou-se a única artista com 1 bilhão de acessos no YouTube e, de quebra, é dela o vídeo mais assistido da história do site, "Bad Romance", com 226 milhões de execuções.
Nada é por acaso. Gaga transformou o clipe em algo realmente interativo. Seus vídeos não são feitos para serem vistos, mas para serem vividos. O lançamento de "Alejandro", no mês passado, teve direito a esquenta com a cantora twittando a cada cinco minutos e, depois da estreia mundial, bem, se você achou que o clipe ataca a igreja, leia entrevista com o diretor explicando o conceito; se achou que é uma cópia de "Vogue", assista ao clipe da Madonna; mas se você não achou nada disso, só gostou das roupas, a Lady Gaga disponibilizou no seu twitter um link para os créditos de todos os figurinos. " Alejandro" não foi só assistido, foi vivido.
A dupla Black Keys não temo mesmo poder de mobilização da Lady Gaga (nem o mesmo dinheiro), mas pegou o espírito da coisa. Para promover o novo disco, Brothers, eles lançaram o clipe de "Tighten Up" com apenas uma sequência, que mostra um infame fantoche de dinossauro dançando a música do começo ao fim - sem efeito especial, sem edição, sem cortes, sem nada. O segredo do vídeo é a legenda se desenrolando no pé da tela: "Isto é um fantoche, não um dinossauro real. Seu nome é Frank. Frank tem um perfil no eharmony.com caso você seja uma senhorita solteira e interessada em um fantoche com doces passos de dança..." Não sou uma mulher solteira nem me interesso por fantoches, mas, sim, acessei o tal eharmony. Caí em um site de relacionamentos "sérios" e gargalhei. Frank tem até endereço no Facebook. "Born Free", da M.I.A., é outro exemplo. Esse virou notícia pela brutalidade das cenas de violência e foi banido do YouTube, o que rendeu à cantora o topo do ranking dos assuntos mais comentados da internet por uma semana, fora os 200 milhões de visitantes no seu site oficial (onde ainda é possível ver o clipe).
Eu só torço para os artistas brasileiros terem percebido que a música não foi um fator decisivo para o sucesso desses video-clipes todos. Pelo contrário, agora ela é tão secundária que está fácil: basta uma boa ideia para colocar os clipes nacionais no século 21. Nós estamos esperando.