“Nunca me senti melhor”, diz o produtor, que perdeu 18 quilos e ainda quer emagrecer mais. “Estou fazendo coisas que nunca achei que conseguiria”
É só falar com qualquer amigo de Timothy “Timbaland” Mosey que você ouvirá a mesma coisa: ele era um homem completamente diferente há alguns anos. Todos dirão que ele estava perdido, deprimido, obeso e desdenhava das batidas tremendamente minimalistas que moviam os hits de artistas novos, como Future e Migos. O último sucesso dele tinha sido o disco autointitulado de Beyoncé de 2013, seu casamento estava em crise e seus amigos mais próximos na indústria, os produtores Pharrell Williams e Swizz Beatz, estavam preocupados o suficiente para checar como ele estava e dar conselhos motivadores. “Sentia que não estava comprometido, que meu ego estava imenso”, afirma Timbaland, de 45 anos, ao relembrar. “Realmente foi uma questão de negligenciar meu dom. Como produtor e criador de sons, tive de descobrir o que Deus havia reservado para mim.”
Atualmente, as coisas não poderiam estar mais diferentes para o produtor, que devora alegremente um hambúrguer sem pão em um restaurante de Nova York. Desde meados dos anos 1990, as “paisagens sonoras” funk robóticas, decididamente futuristas, que elaborou para artistas como Missy Elliott, Jay-Z e Justin Timberlake moldaram e remoldaram o pop e o hip-hop modernos. Agora, ele está a caminho de ter seu melhor período em uma década, trabalhando com uma lista de talentos digna de uma cerimônia do Grammy em projetos que estão apenas começando a aparecer para o mundo. O principal, diz, é que acabou de concluir o próximo álbum de Timberlake, que receberá um tremendo impulso quando o astro se apresentar no show do intervalo do Super Bowl em fevereiro. “A música que acabamos de fazer?” Timbaland diz, balançando a cabeça... “Vai colocá-lo em outro nível”. Ele também tem um single repleto de soul, “Pray”, no novo e bem-sucedido disco mais recente de Sam Smith, The Thrill of It All, e lançou colaborações com uma nova geração de talentos do rap, incluindo Young Thug e Ty Dolla $ign. Paralelamente, esteve em estúdio com Jay-Z, Zayn Malik, Chris Martin, Wiz Khalifa e Zac Brown, enquanto fez jogadas espertas no mercado latino, que só cresce pós-“Despacito”, com faixas como “Move Your Body”, de Wisin and Bad Bunny. “A música dele me moldou como artista e como compositor”, afirma Smith. “Ele trabalha com muita gentileza e atenção aos detalhes e, mesmo depois de todo o seu sucesso, ainda ama a música mais do que nunca.”
Timbaland exibe os resultados de seu intenso regime fitness baseado no boxe (inspirado, diz, por The Rock e Kevin Hart) em um agasalho Nike cinza justo. Perdeu 18 quilos e ainda quer emagrecer mais. “Nunca me senti melhor”, diz. “Estou fazendo coisas que nunca achei que conseguiria.” Ao mesmo tempo, encontrou novas formas de trabalhar, cada vez mais rejeitando estúdios grandes e caros e preferindo gravar faixas em casa, com o software Ableton Live – que ele domina usando fones de ouvido e um aparelho chamado Subpac, uma gerigonça meio mochila, meio colete com alto-falantes embutidos. “Você coloca aquilo e sente que está no estúdio”, conta. “O som é tridimensional.”
Então, o que inspirou essa explosão de produtividade? Durante o almoço, Timbaland fala mais baixo e se inclina para a frente. “Estava usando drogas, cara”, conta. “Usava OxyContin.” Timbaland começou a tomar analgésicos aos 30 e poucos anos para lidar com problemas nos nervos resultantes de um tiro que levou na adolescência, mas o uso saiu do controle e, à medida que seu consumo aumentava, seu sucesso nas paradas diminuía. Ele gastou muito dinheiro e seu casamento ruiu – movendo um círculo vicioso de depressão e vício. “A música é uma benção e uma maldição”, afirma. “Depois que você para de usar drogas, ela brinca com sua mente. Os remédios ajudavam a bloquear o ruído – eu dormia o dia inteiro. Lembro que Jay-Z me disse uma vez ‘Não dê mais entrevistas’, porque eu falava merda.” Michelle, sua atual namorada, conta que, no final, Timbaland estava tomando doses tão altas que ela ficava realmente preocupada com a possibilidade de ele morrer enquanto dormia. “Estava tão ruim que eu cheguei a ponto de não conseguir nem dormir”, diz. “Colocava a mão direita no nariz dele só para ver se ainda estava respirando.” Ele acabou sofrendo o que acredita ter sido uma overdose quase fatal durante o sono, há três anos. “Tudo o que posso falar é que vi uma luz”, diz. “Acordei tentando recobrar o fôlego, como se estivesse embaixo d’água, mas durante aquilo tudo vi vida – vi onde estaria se não mudasse e onde poderia estar se mudasse.” No dia seguinte, começou a tomar menos comprimidos e, logo, parou de vez – o que resultou em um período brutal de abstinência. “Eu pensava no Michael Jackson”, conta. “Não queria ficar velho e tomar aqueles remédios.”
Ele não julga o jeito baladeiro dos outros. Ainda fuma um pouco de maconha e toma um coquetel com uísque no almoço – mas se sente movido a falar sobre sua experiência depois da morte de Chris Cornell, um amigo e colaborador que lutou contra o vício durante muito tempo, e Prince, provavelmente o maior herói musical de Timbaland. “Vim da era de traficantes [fazendo sucessos do rap],” observa. “Agora, estamos na era dos usuários.” Ele quer, especialmente, que fãs e músicos jovens saibam que analgésicos falsificados podem conter opioides potentes como fentanil e que a indústria da música seja mais ciente sobre a prevalência de depressão na comunidade hip-hop. “Esses moleques vêm de um lugar onde não têm dinheiro, não têm um lar de verdade”, diz. “Isso os afeta e você ouve o reflexo disso na música” (menos de uma semana depois desta entrevista, o rapper Lil Peep, de 21 anos, que lutava contra o uso de drogas e a depressão, morreu antes de um show no Arizona devido a uma aparente overdose de Xanax).
Atualmente, Timbaland está focado em poucas coisas: ser pai de Reign, sua filha de 10 anos, ficar em forma e fazer tantas músicas ótimas quanto possível. Ele está trabalhando em um álbum solo, que sairá no ano que vem e traz colaborações com Timberlake, Malik e Rick Ross. E até começou a gostar dos sons que ouve na rádio, coisas de produtores como Metro Boomin, que um dia criticou – mais do que isso, foi atrás de jovens MCs, como o rapper da Flórida $ki Mask the Slump God, que está no auge do hype, para levar o som do hip-hop ao próximo nível. “Neste momento, sinto que o que posso fazer com meu legado é retribuir”, afirma. “O que significa encontrar os jovens de hoje. Olhe para o Quincy Jones – ele tinha 50 anos quando fez Thriller! Qual é meu Thriller? Esse é meu objetivo.”