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Wagner Moura, intérprete de Pablo Escobar em Narcos, estampa a capa da edição de agosto da Rolling Stone Brasil

Depois de conquistar a fama como Capitão Nascimento, Moura se estabelece como um dos melhores atores de sua geração ao mergulhar fundo outra vez no mundo das drogas – agora, interpretando Pablo Escobar, o maior traficante de todos os tempos

André Rodrigues Publicado em 07/08/2015, às 16h51 - Atualizado às 20h32

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Wagner Moura resolveu ir morar na Colômbia para entrar de cabeça no papel de Escobar - Daryan Dornelles
Wagner Moura resolveu ir morar na Colômbia para entrar de cabeça no papel de Escobar - Daryan Dornelles

Wagner Moura está novamente mexendo com drogas. Em uma tarde calorenta do inverno carioca, o ator baiano de 39 anos atravessa a sala de uma agência de comunicação e diz: “Não suporto a luz crua de uma lâmpada, assim como não suporto uma ação rude ou uma observação vulgar”. Ele não sabe bem o porquê, mas decorou falas da personagem Blanche DuBois, da peça Um Bonde Chamado Desejo. Seu improviso é tão convincente que não seria loucura apostar que o sujeito responsável por eternizar o rude Capitão Nascimento nos cinemas poderia um dia ser a perturbada protagonista desse texto de Tennessee Williams. Com 23 anos de carreira e reconhecido como um dos melhores atores de sua geração (para muitos, o melhor), hoje Wagner Maniçoba de Moura deixa a impressão de que poderia ser qualquer um, qualquer coisa. Mas, outra vez, escolheu mergulhar no universo dos entorpecentes.

Exclusivo: visitamos o set de Narcos, série protagonizada pelo brasileiro Wagner Moura.

A partir do dia 28 de agosto, Moura será mundialmente visto na pele do mais notório traficante de drogas de todos os tempos. Nessa data a Netflix vai estrear os dez episódios da primeira temporada de Narcos, série na qual ele incorpora o colombiano Pablo Escobar, chefe do Cartel de Medellín. Até hoje, o maior papel de Wagner Moura foi o de um policial que soltava o braço em cima dos distribuidores e consumidores de substâncias ilícitas. O personagem central dos dois Tropa de Elite (o segundo é a maior bilheteria da história do cinema nacional), ambos dirigidos por José Padilha, virou símbolo de quem vê na violência do Estado uma forma legítima e imprescindível de combater o crime. Agora, Moura está do outro lado.

Wagner Moura foi a “primeira e única” opção para interpretar Pablo Escobar em Narcos, diz José Padilha.

Por conta própria, o ator passou uma temporada em Medellín, na Colômbia, e procurou durante quase dois anos entender profundamente as motivações de sua nova cria. Mais perceptível, no entanto, é o fato de ele ter ganhado 20 quilos. “As pessoas ficam muito impressionadas, mas é uma besteira. Você não ganha o Oscar só engordando”, ele afirma, enquanto come castanhas, amendoins e toma água. Em julho, Moura já havia perdido seis quilos, mas não pode emagrecer muito porque logo deverá gravar a segunda temporada do programa (a intenção dele, daqui para frente, é usar preenchimentos e computação gráfica para ficar mais semelhante ao Escobar da vida real).

Conheça atores que gostam de soltar a voz nas horas vagas, entre eles, Wagner Moura.

“Eu, na minha idade, não tenho nenhuma vontade de fazer o que quer que seja se não for pra ter um entendimento de alguma coisa, pra que aquilo acrescente alguma coisa na minha vida, pra que faça eu me conectar com algo que não sei o que é”, ele diz, explicando por que escolheu protagonizar Narcos, que tem direção-geral do parceiro José Padilha. Depois de mais de duas dezenas de filmes (incluindo o internacional Elysium), sete peças e duas novelas, Moura está querendo ficar cada vez mais lento – “Cada dia mais próximo da Bahia”, declara. O projeto dele para 2016 é dirigir um filme sobre o guerrilheiro brasileiro Carlos Marighella. Também está fazendo pesquisas com o diretor e roteirista Karin Aïnouz. “Ficamos com muita vontade de entender o movimento das igrejas neopentecostais e de ter um personagem que seja um pastor, um bispo.”

Wagner Moura fala sobre o filme Elysium, a carreira em Hollywood e o futuro distante das novelas.

Seja como Hamlet (2008), no teatro, seja como Olavo, na novela Paraíso Tropical (2007), os personagens de Moura costumam combinar revolta com carência, brutalidade com gentileza, raiva com compreensão. Parece que ele some dentro de cada um para retornar logo depois e contar o que aprendeu, como faz na entrevista que você lê na íntegra na edição 108 (agosto/2015) da Rolling Stone Brasil, nas bancas a partir de segunda, 10. Abaixo, algumas das respostas de Moura.

RoboCop de José Padilha dá ênfase na transformação de homem em máquina.

Como é ter que dar sua opinião sobre legalização das drogas, narcotráfico e política por causa de um trabalho como ator?

Eu gosto disso. Não me incomoda nem um pouco. A discussão do Tropa de Elite foi saudável. Foi muito bom conversar com jornalistas nessas viagens que eu fiz para a Europa para lançar Narcos e falar de uma realidade que eles veem de uma forma tão diferente. Pra eles é mais difícil julgar a eficácia da guerra às drogas. Pra gente é evidente que essa guerra não funciona quando você vê que no México 50 pessoas foram assassinadas de uma só vez. Quando eu vou lá para Berlim e falo que sou a favor da legalização das drogas, esse é um tipo de discussão que me parece boa. Outro dia uma menina norte-americana disse assim: “Eu não sei se quero ver um junkie vomitar no meu milk-shake”. Eu respondi que dá para lidar de alguma forma com isso. O que é difícil de lidar é com jovens pobres da periferia de países latino-americanos sendo assassinados e mortos nessa guerra. Então, o milk-shake é uma coisa contornável.

Você acha que todas as drogas deveriam ser legalizadas?

Eu acho. Não sei como. Acho que as drogas são diferentes e deveriam existir formas diferentes de tratar as diferentes drogas. Mas o que me parece evidente é que essa política de enfrentamento das drogas é ineficaz. E ela é ruim especialmente para nós, dos países mais pobres, que são produtores e exportadores.

Sobre drogas, você sempre responde que já teve experiências e não fala mais sobre isso...

Exatamente. Por um lado, não me oponho a falar de política. Mas não gosto de falar sobre a minha vida. Eu sou a favor da liberdade de cada um ser quem é. Não venha me chantagear.

Mas continuam perguntando se você fuma maconha...

E eu continuo respondendo o que eu acho sobre legalização das drogas. É isso que importa. A minha vida pessoal é minha vida pessoal. Por que eu não falo com revistas de celebridades? Porque é esse tipo de pergunta que elas iriam fazer. Então, não espero essa pergunta de outro tipo de jornalismo.

Do alto de seu jeito de garoto, ele é um dos grandes atores brasileiros de todos os tempos e o mais popular de sua geração. Com a farda preta do Capitão Nascimento, deu vida ao maior anti-herói do nosso cinema. Leia o perfil de Wagner Moura, capa da edição 49 da Rolling Stone Brasil.

Qual é a sua reação imediata quando te convidam para fazer um personagem como Pablo Escobar?

Eu quero fazer! Na época do capitão Nascimento, as pessoas diziam que eu tinha humanizado o cara. Isso me parece tão doido. Eu não sei o que a pessoa quer que o ator faça. Como é que ela imagina que seria? Será que era pra ser um desenho animado? Eu não sei muito como responder. Mas não quer dizer que eu não tenha um juízo sobre aquilo.

Você ficou com receio?

Fiquei. Porque o Escobar é, internacionalmente, um mito. É como chamar um colombiano e falar que ele vai fazer a biografia do Pelé, sendo que nem preto ele é. Então, foi a coisa mais difícil que já fiz. E eles tinham acabado de ter aquele sucesso gigante da novela [Pablo Escobar: O Senhor do Tráfico, exibida no Brasil pelo +Globosat]. Mas eu não queria decepcionar o Zé [Padilha]. Então, fui lá e fiz.

Vendo de fora os acontecimentos dos últimos dois anos, qual é a sua percepção?

Quando você vê as notícias que saem sobre o Congresso... A oposição não vota nada pelo Brasil, ela vota contra o governo, contra o PT. É uma guerra declarada. Ou quando o PMDB diz claramente nos jornais: “Governo libera cargos do segundo escalão e PMDB vota a favor”. Que porra é essa? E dessa forma explícita! Você dá um cargo e eu voto no seu negócio. E a gente não se espanta!

Como é criar seus filhos no atual panorama do Rio de Janeiro?

Eu sinto que meus filhos vivem em uma bolha social. Isso me incomoda muito. Pela minha própria origem, de eu ter vivido no sertão, ter um pai que era sargento e uma mãe dona de casa. Eu não era pobre, mas tive uma infância bem modesta. As minhas crianças vivem em um mundo em que elas são muito alienadas. Elas veem gente na rua e acham que é assim mesmo, por mais que você tente explicar e tal. Então, me dá muita pena quando eu vejo esses articulistas de direita fazerem troça de qualquer vontade que você tenha de conversar ou falar sobre isso com os filhos ou com as pessoas. Falar que existem formas mais justas de convivência social, mais honestas. O Brasil chegou num ponto tão engraçado que a moda hoje é fazer pouco disso. Eu consegui prosperar na minha vida como artista, tenho condições de pagar escola particular para meus filhos, mas se falar sobre injustiça social sou considerado hipócrita. Entende o que estou dizendo?

Galeria - Brasileiros em Hollywood.

A questão é que você tem opiniões contundentes. E algum colunista vai escrever que você fala assim, mas faz filmes em Hollywood.

Pois é. É ridículo. Vamos lá. Você acha que o Brasil pode ser socialmente mais justo? Eu acho. Você acha que as pessoas podem ter os mesmos direitos civis? Eu acho. Você acha que a mulher tem direito a abortar? Eu acho. Você acha que os homossexuais têm direito a se casarem? Eu acho. Você acha que o governo tem que interferir quando há um evidente caso de disparidade social? Acho. Você acha que há uma dívida do estado brasileiro com a população negra do país? Eu acho. Tem que ter cota? Tem. Isso é ser de esquerda? Se for, eu sou. Agora, meu irmão, nunca assinei nenhum manifesto... Como assim [me dizer] “vai pra Venezuela”?

O que acha da oposição política hoje no Brasil?

É uma oposição sem projeto, sem ideia, destrutiva. É uma oposição golpista mesmo. E o Brasil tem uma tendência ao golpismo. O Brasil é um país golpista. E é evidente que os jornais têm uma agenda. Não é paranoia. Eu estou fora dessa onda de a esquerda ser vítima, vitimizada. É pobre demais. O PT não tem a decência de fazer um mea culpa. O PSDB não tem projeto para o Brasil. O projeto do PSDB é foder o PT.

E sobre os artistas, como Lobão e Roger, que estão em evidência defendendo a oposição?

Eu acho democrático. Você vê vários artistas pedindo o impeachment da Dilma, que pra mim parece uma ideia estapafúrdia, golpista. Mas é a opinião de uma galera que está aí vendo a decadência do PT e cai na lábia do que lê por aí... Então, o lado que tradicionalmente se aliou ao PT, ou à esquerda, está rendido. Muita gente não quer falar, tem vergonha. Muita gente está decepcionada, ficou em xeque.

Leia mais perguntas e respostas de Wagner Moura na edição 108 (agosto/2015) da Rolling Stone Brasil, nas bancas a partir de segunda, 10.