Segundo o rapper, o hip-hop nacional vive a melhor fase desde o surgimento, na década de 1980
Por Luciana Rabassallo
Há dez anos Babylon by Gus – Vol. I – O Ano do Macaco, primeiro disco solo de Gustavo Black Alien, foi lançado. Com faixas como “Mister Niterói”, “From Hell do Céu” e “Estilo do Gueto”, o álbum é considerado um clássico e está na lista dos melhores trabalhos do hip-hop nacional. “Eu só queria fazer um disco, nunca passou pela minha cabeça fazer sucesso ou, simplesmente, fracassar”, conta o rapper em entrevista ao blog Cultura de Rua.
“O que eu queria mesmo era esvaziar minha gaveta de guardados”, afirma Black Alien que sobe ao palco do Cine Joia, nesta quinta-feira, 11, em São Paulo, para revisitar o repertório do álbum. Apesar dos elogios da crítica especializada, Babylon by Gus – Vol. I – O Ano do Macaco não foi um sucesso comercial, como conta o músico: “Em um país com de 200 milhões de habitantes, vender 50 mil cópias não é muita coisa”. O fato, porém, não apaga os méritos do clássico.
Para o músico, um dos destaques do trabalho é a conotação atemporal: “Acho que há uma conjunção astral que faz com que o disco fique cada vez mais atual. Sempre que eu paro para ouvir o álbum, descubro coisas diferentes. Não mudaria absolutamente nada nele. É como um filho para mim”. Escrito e gravado em 55 dias, Babylon by Gus – Vol. I – O Ano do Macaco foi lançado em uma época não tão criativa do hip-hop nacional, como pondera Black Alien. “Os MCs brasileiros copiavam o flow dos gringos e traduziam as letras como se eles tivessem composto”.
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O rap brasileiro, segundo o músico, ainda não tinha uma identidade: “Também rolava um receio em falar sobre amor. Grande parte das letras eram sobre a violência, a polícia e as brigas entres os MC’s ou entre os coletivos. Hoje, evoluímos muito nesse sentido. O fato do Brasil ter entrado na rota de turnês de artistas interacionais de hip-hop fez com que os artistas buscassem melhorias. As letras hoje falam sobre temas mais amplos como política, amizade e problemas do nosso cotidiano”.
Black Alien avalia o momento do rap no Brasil com uma simples comparação da música que ele costuma consumir: “Há dez anos, se eu ficasse o dia inteiro em casa ouvindo discos de hip-hop, eu teria uma média de 20 álbuns. Destes, 16 eram de rap gringo e quatro de rap nacional. Hoje, se eu fizer a mesma coisa, a proporção é inversa: ouço 16 álbuns nacionais e apenas quatro de gringos. Falo disso com orgulho, pois sei que, ao lado de outros nomes que têm mais de uma década de carreira, fui um pouco responsável por essa mudança”.
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Desde Babylon by Gus – Vol. I – O Ano do Macaco, o ex-integrante do Planet Hemp não conseguiu mais lançar um álbum completo. O hiato, contudo, deve acabar em breve. “Estou fazendo um disco novo com muito carinho e cuidado. Apesar de ser um trabalho bem solar, ele ainda conta com alguns temas pesados. A grande diferença deste para o primeiro são as participações em vocais e letras.”
Enquanto o trabalho não fica pronto, o Mister Niterói, como é conhecido, tem visto shows e se inspirado na nova geração do rap: “O que mais tem me influenciado são as poucas apresentações que tenho visto de nomes como Flora Matos, Rael, Don L, Kamau e Rodrigo Ogi, além de KL Jay e Nuts, que são os meus DJ’s preferidos”.
Black Alien em São Paulo
11 de setembro (quinta-feira), às 23h
Cine Joia - Praça Carlos Gomes, 82 - Liberdade
Ingressos esgotados