"Fiquei chocado com o tamanho da falta de respeito", diz o grafiteiro Crânio
Por Luciana Rabassallo
Mais uma triste notícia para os grafiteiros e os amantes das artes de rua na cidade de São Paulo. Na noite de segunda-feira, 29, um mural pintado por Binho, Presto, Bonga, Snek, Chivitz, Minhau, Crânio, Eco, Tinho, Bieto, Nick, Feik, Tikka, Nem, Locones, Choras, Romário, Tribo, Raul, Graphis, Mauro, Lipe e Tche no túnel José Roberto Melhem foi "atropelado" para a divulgação de uma festa universitária do curso de Medicina da Universidade de São Paulo, que acontece no dia 21 de outubro.
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O grafite, que foi realizado com apoio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania como ação do Festival de Direitos Humanos: Cidadania nas Ruas de São Paulo, em 2013, tinha licença da prefeitura e foi autorizada pela CPPU (Comissão de Proteção a Paisagem Urbana) com duração de no mínimo um ano. Contudo, o mural foi apagado sem nenhuma requisição por parte da festa ou autorização dos órgãos responsáveis.
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O blog Cultura de Rua entrou em contato com o artista Crânio, que se disse muito surpreso com a notícia. "Fiquei chocado com o tamanho da falta de respeito. Na verdade, eu acho até que foi proposital. Os organizadores da festa fizeram isso para gerar mídia espontânea" diz o grafiteiro antes de acrescentar: "Os culpados por isso precisam financiar um novo mural". Para Crânio, situações como esta são frutos da falta de educação do público. "Mas, independente de qualquer coisa, estou sempre na rua", garante.
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Segundo a Coordenadoria da Juventude, a Lei Cidade Limpa de 2006, a exibição de anuncio sem a licença ou autorização é posta enquanto infração grave, e acarreta multa ao responsável. "Maior do que a preocupação em relação ao período de autorização do mural e das questões legais, a Coordenação de Políticas para Juventude defende uma cidade aberta, em que as pessoas tenham liberdade de ocupar os espaços públicos e se sentirem parte da mesma. O grafite e demais formas de intervenção urbana, com sua história, se colocam enquanto uma demonstração de resistência, formas legitimas de ocupação do espaço público por meio da arte", diz um comunicado publicado pela Coordenadoria na página oficial do órgão público no Facebook.
"Tal ação realizada representa a privatização dos muros, e não coopera de forma alguma com a construção de uma cidade democrática. A pintura do painel é uma agressão simbólica à política de ocupação do espaço público, adotada pela gestão, e de conexão e apropriação do centro pelas periferias de São Paulo", completa a nota. O artista Chivitz também usou a rede social para falar sobre o incidente: "A atitude demonstra uma total falta de respeito com a arte e cultura de rua, principalmente quando vinda desta classe que se julga a "nata intelectual". O grafiteiro ainda acrescentou: "E agora doutores, como vamos tratar essa ferida?".
"Alguém pode me explicar como jovens estudantes e com boa formação familiar e intelectual podem ter uma atitude tão estupida em nome dos prazeres deles?", desabafou o artista Bonga Mac na página dele no Facebook. "Toda essa sacanagem se deve a divulgação de uma festinha dos doutores. O resultado mostra a pura incoerência e ignorância destes exemplares estudantes. Meus parabéns para eles, que realmente representam o futuro e são exemplo de dignidade para nosso país!”