Por Robie R.
"Se São Paulo é, como atiçou Vinicius de Moraes, o túmulo do samba, o que é então Curitiba? O mausoléu do samba? A catacumba do partido-alto? A cova rasa da batucada? O jazigo perpétuo da MPB?" Assim, Nirlando Beirão abre a matéria de capa da revista Brasileiros de agosto de 2011, ao fazer a introdução para a entrevista com a cantora e compositora Thaís Gulin. Em seu Blog no Portal R7, Beirão postou no dia 27 de julho de 2011: “Acabei de sair de uma entrevista com Thaís Gulin, a new face da MPB. Anotem aí o nome porque ela vai longe. Se vocês acreditam, como Vinicius de Moraes, que São Paulo é o túmulo do samba, imagina então o que ele diria de Curitiba [cidade onde nasceu a cantora]."
Não creio que Nirlando Beirão acredite em suas próprias palavras. Ele com certeza estava apenas querendo provocar e polemizar. O atual diretor-adjunto da revista Brasileiros, colunista do Jornal da Record News, que já foi colunista do Estado de São Paulo, Carta Capital e do Correio Braziliense, ex-editor da Veja e Istoé e, fundador das revistas Caras, Wish Report e Status, possui bagagem mais que suficiente para saber que tal frase, dita por Vinicius, não passa de uma grande bobagem.
Só para começar: Clara Nunes, uma das principais cantoras de samba que o Brasil já teve, e a primeira mulher brasileira a vender mais de 100 mil cópias de um disco, nasceu em Minas Gerais (Nirlando Beirão é de Belo Horizonte). Elis Regina era gaúcha. Há samba em todos os estados brasileiros.
Como sou de São Paulo, apesar de não gostar desta história de bairrismo, sinto-me obrigado á colocar os pingos nos is, pois a famosa frase de Vinicius de Moraes continua a ser citada com frequência na mídia, denegrindo a imagem do samba paulista. Nos vídeos abaixo, Toquinho, paulistano e parceiro de Vinicius por quase uma década, criou junto ao poetinha grandes sambas, e explica como a tal frase surgiu. Ele a contextualiza, e conta como era a relação de Vinicius de Moraes com São Paulo.
É importante lembrar que Vinicius de Moraes foi parceiro de Adoniran Barbosa, ícone do samba paulista, na música “Bom Dia, Tristeza”. Chico Buarque e Paulinho da Viola, compositores do primeiro escalão da MPB, gravaram sambas de Paulo Vanzolini, o autor de “Ronda”, com certeza uma das músicas mais pedidas em todos os bares, botecos e botequins do Brasil. No álbum Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo, a cantora gravou 24 faixas de compositores paulistas.
O compositor Roberto Riberti, paulistano, que teve seu samba “Velho Ateu”, feito em parceria com Eduardo Gudin (também paulistano), gravado no álbum acima citado, compôs um samba recentemente, apresentado no programa Ensaio da TV Cultura, e dá o seu recado. O título vai direto ao ponto: “Túmulo do Samba”.
Suponhamos que, por um motivo qualquer, Millôr Fernades houvesse dito, em uma noitada em Belo Horizonte: “Em Minas Gerais os colunistas são pedras falsas”, o que teria acontecido?