Banda se despede do integrante com apresentação em São Paulo
Por Pedro Antunes
“Eu conheci o Arthur quando ainda estava na maternidade”. Marcelo Altenfelder, guitarra e voz do Holger, soa exagerado, mas a licença poética é permitida em uma situação como esta. Arthur Britto, baterista da banda formada por Marcelo (o Pata), Bernardo Rolla, Pedro Bruno e Marcelo Vogelaar (o Tché), está deixando o país e, por consequência, o Holger. “Nossos pais são amigos e estudamos a vida inteira juntos”, continuou Pata.
Perfil: a banda Holger conquistou um respeitoso espaço no cenário indie paulistano.
Depois de sete anos de serviços prestados ao Holger, Arthur dará continuidade ao sonho de estudar fora – serão cinco anos morando em Nova York, onde fará doutorado em lógica aplicada à filosofia na Columbia University. “Já faz alguns anos que o Arthur deixou claro para nós que um dia ele iria estudar fora”, diz Pata, lembrando que o amigo havia adiantado a data da mudança algumas vezes, mas “desde o ano passado, foi ficando claro que isso aconteceria em breve”. “Quando aconteceu, rolou de uma forma estranha, porque no momento em que ele contou, já esperávamos ouvir a notícia, só não sabíamos para onde ele iria ou quanto tempo ficaria longe. Vão ser cinco anos em Nova York.”
Pata se diverte ao lembrar dos sete anos em que o Holger esteve junto e o amigo era sempre visto “com livros de lógica, geralmente em alemão, debaixo do braço”, mesmo quando os amigos visitavam alguma praia. “Piadas nunca faltaram”, diz o guitarrista. “Mas temos muito orgulho dele”.
A homenagem ao baterista veio em forma de uma coletânea lançada no Soundcloud da banda, com inusitados lados B, faixas que não entraram nos dois discos do grupo, Sunga e Ilhabela, e covers curiosos como “Alagados”, do Paralamas do Sucesso, e “Mim Quer Tocar”, do Ultraje a Rigor. Ouça as faixas no player abaixo.
Vale pular diretamente para “Brand New T-Shirt”, oitava da coletânea e descrita como a primeira gravação do Holger, datada de 2006. Trata-se de um surpreendente garage rock claramente bem menos tropical do que o restante do material da banda. “É uma celebração de tudo que já fizemos e passamos como banda nesses quase oito anos”, analisa Pata. “Foi a hora de olhar para trás, ver todos caminhos que já tomamos, e não foram poucos. A coletânea é um retrato rápido do que o Holger é, foi, e poderia ter sido. De uma maneira ou de outra, sem dúvidas acaba sendo uma homenagem ao Arthur”.
A saída do baterista, contudo, não deixará o Holger desmembrado, mesmo com um terceiro disco prestes a chegar – previsto para o segundo semestre deste ano, o trabalho levará o nome da banda. O instrumento ficará à cargo de Charles Tixier, o Charlie, da banda Charlie e Os Marretas, “uma das bandas mais legais que surgiu em São Paulo nos últimos anos”, opina Pata. Charlie assume as baquetas também em boa parte das faixas do novo trabalho, descrito pelo guitarrista como mais “orgânico”, novamente produzido por Alex Pasternak (do Lemonade), o mesmo de Ilhabela.
“Todas as músicas do Ilhabela têm batida eletrônica, camadas de teclado, sobreposições. Nesse disco, queríamos que soasse mais próximo do que fazemos ao vivo”, conta Pata. “Temos a sensação de que fizemos o disco que mais representa todos nossos lados. Daí um dos motivos de colocarmos o nome do disco de Holger. Acredito que achamos nosso som. Estamos muito felizes.”