“Nosso show tem mais força e tende a ser mais viajado”, diz o vocalista e guitarrista da banda manauara, Pablo Araújo
Por Lucas Brêda
O rock psicodélico brasileiro vive boa fase. Enquanto o Boogarins arranca elogios gringos em nova turnê norte-americana, o Bike emplaca uma música em coletânea do renomado produtor Danger Mouse (Adele, U2, Black Keys) e o Supercordas segue colhendo os frutos de um afiado terceiro disco (figura frequente nas listas de melhores do ano).
Outro representante em evidência desta vertente tão abrangente é o Luneta Mágica, banda manauara que aproveita o reconhecimento do segundo disco – No Meu Peito, do ano passado – para voltar a São Paulo e fazer uma série de shows em maio, antes de seguir para o sul do país. O primeiro deles acontece nesta terça, 10, no Sesc Pompeia, pelo projeto Prata da Casa (às 21h, com entrada gratuita).
“O segundo disco propiciou que as pessoas conhecessem a banda”, conta o guitarrista e vocalista, Erick Omena. “E isso aconteceu porque foi um disco mais bem produzido, feito com mais cuidado. O primeiro foi muito espontâneo, sem maiores pretensão. Tem músicas boas, mas todo mundo concorda que é um disco bem despretensioso.”
Além de mais acessível, No Meu Peito é mais coeso esteticamente, fazendo o álbum de estreia do quarteto, Amanhã Vai Ser o Melhor Dia da Sua Vida (2012), soar quase como um esboço do que o Luneta Mágica pode apresentar. As influências do Mombojó e as batidas eletrônicas são preteridas – ainda que não abandonadas – na sequência, valorizando ainda mais as harmonias do grupo, do épico de introdução “No Meu Peito” à viajante “Rita”.
O crescimento não é atoa: desde o primeiro trabalho, apenas o vocalista e principal compositor, Pablo Araújo, permanece na banda. “Gravamos [Amanhã Vai Ser o Melhor Dia da Sua Vida] com bateria eletrônica porque não achamos um baterista”, confessa ele. Enquanto o álbum de estreia do Luneta Mágica foi gravado no estúdio de um amigo do grupo, No Meu Peito teve liberdade quase absoluta de produção, sendo registrado numa casa dos integrantes.
“Somos muito chatos, queríamos ter mais controle ainda”, conta Omena. “Em casa, no nosso espaço, podíamos ficar horas trabalhando e produzindo. Queríamos que as músicas maturassem, para podemos observar o que faltava, o que não faltava. Sem contar que o primeiro disco é muita experimentação, muita coisa propositadamente abstrata. No segundo é mais concreto, arranjos mais diretos, canções mais bem delineadas.”
Atualmente, o Luneta Mágica está na estrada como um quarteto, com o baterista Eron Oliveira e o baixista Daniel Freire completando a formação, que foi fixada em setembro de 2015. “Como somos quatro integrantes, tivemos que nos adaptar para fazer um show com mais força, para compensar nossa impossibilidade de executar um disco com tantas camadas”, afirma Araújo, destacando que os shows tendem a ser “mais viajados”. “Temos muito órgão, teclado, piano, e tivemos que modificar. Já temos uma tendência natural a ser mais psicodélicos – ouvimos muito Mutantes, Radiohead – e isso aflora muito no palco.”
Segundo Omena, além de mais psicodélico, o Luneta Mágica busca “potencializar os elementos orgânicos” nas apresentações. “Algumas versões ficaram mais estendidas, outras ganharam introduções e nós gostamos de tentar fazer o que a música pede, respeitar a música. Sugar o máximo que ela pode oferecer ao ouvinte”, diz. Araújo emenda: “Nosso show tem mais força e tende a ser mais viajado.”
Para o público geral, o Luneta Mágica pode ser um nome fresco, mas a banda já tem cerca de oito anos de carreira – e já está pensando no terceiro disco. “O Luneta é melhor reconhecida fora de Manaus do que dentro”, assume Omena. “Agora é que as pessoas estão dando uma chance de escutar o disco, que o pessoal começou a dar uma certa moral.”
“Fazer música em Manaus é muito difícil”, emenda Araújo. “Muito mais que no resto do Brasil. Não temos políticas públicas interessantes para os artistas. Agora estão começando, mas quase sempre estamos ao léu mesmo. É muito difícil captar recurso via [Lei] Rouanet porque as empresas não estão interessadas. Temos uma cena heterogênea, mas com qualidade, só que os registos estão muito crus, precisam ser mais lapidados e tudo mais.”
O principal compositor do Luneta Mágica continua: “A quantidade de festivais aqui é muito pequena e os poucos que tem não duram muito. E Manaus é muito isolada do resto do Brasil. Aqui, as pessoas perdem até um pouco da noção do que é música brasileira, porque não temos muito intercâmbio. Os músicos e profissionais carecem um pouco dessa visão. Só que nós vemos uma crescente de trabalho. Ainda não está em um patamar técnico ideal, mas estão chegando lá. E falta também o público amazonense abraçar o artista. O pessoal está esperando muito mais você ser destaque fora para ser e conhecido.”
Depois de tocar no Sesc Pompeia, a banda deve anunciar outras apresentações na capital paulista neste endereço.
Luneta Mágica em São Paulo
10 de maio (terça-feira), às 21h
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 95
Ingressos: entrada gratuita