Gustavo Ruiz produziu o primeiro trabalho de inéditas da banda em quatro anos, dando sequência a Porcas Borboletas (2013)
Por Lucas Brêda
Relações contemporâneas, masculinidade em crise e uma sucessão de cenas escrachadas dão o tom do quarto disco de estúdio do Porcas Borboletas, lançado com exclusividade pelo Sobe o Som nesta quinta, 27. Intitulado Momento Íntimo, o álbum chega na sexta, 28, às outras plataformas de streaming.
Já são 18 anos de carreira do Porcas Borboletas, mas Momento Íntimo é apenas o quarto LP da banda, dando sequência a Um Carinho Com os Dentes (2005), A Passeio (2009) e Porcas Borboletas (2013). O novo álbum tem produção de Gustavo Ruiz e participações da irmã, Tulipa, e do pai dele, o guitarrista Luiz Chagas, além da cantora Juliana Perdigão, os percussionistas Nereu Gargalo (Trio Mocotó) e Nath Calan e o tecladista Chicão.
Apesar de manter o sarcasmo e o clima de autossabotagem em alta, Momento Íntimo funciona mais como uma atualização da abordagem clássica do Porcas Borboletas. No novo disco, é como se o personagem dos álbuns anteriores atravessasse a chegada da idade com uma visão ainda mais niilista (“Nunca consigo o que eu quero/ Sempre atrasado pro trampo/ Cabelo que não penteia/ Quanto mais jogo tinta/ Fica branco”, diz a faixa “Derrota Transcendental”).
Em “Maguila”, espécie de núcleo conceitual do LP, o Porcas Borboletas canaliza todo o pessimismo ao remontar a histórica luta de 1989 entre o pugilista brasileiro Adilson Rodrigues, o Maguila, e o norte-americano Evander Holyfield (na época, respectivamente, o segundo e o primeiro melhores boxeadores do mundo). A cena do brasileiro caído, praticamente inconsciente, depois de uma série de golpes do norte-americano, funciona como matriz imagética do disco: Maguila sendo o protagonista e Holyfield, a vida.
O Porcas Borboletas explora o momento atual, de maior visibilidade para as demandas femininas, colocando a masculinidade em crise, conforme o protagonista não se adéqua à heterodoxia sexual da parceira (“Cara Pra Casar”) e é aterrorizado pelo desempenho insuficiente na cama (“Ejaculação Precoce”), por exemplo. Segundo o vocalista, Danislau, “o impasse masculino passa por um processo de conversão redentora, sempre pelas mãos da mulher que, dona de si, já transformou os tabus em totens.”
Abraçando um caleidoscópio de influências sonoras – indo sem muita cerimônia do punk ao pop, tudo sob o teto do rock –, Momento Íntimo é o trabalho mais refinado em termos de produção do Porcas Borboletas. É como se BoJack Horseman (ou outra animação norte-americana equivalente) ganhasse sua versão brasileira, tanto em termos de estética (caricatural) quanto de texto (cômico e niilista).
Abaixo, conheça Momento Íntimo, novo disco do Porca Borboletas