Faixa é destaque do segundo disco solo do músico, Na Loucura & Na Lucidez, lançado recentemente
Por Pedro Antunes
Quando a noite parecia perdida – e já chegava ao fim –, o telefone toca. É ela. A “Amiga do Casal de Amigos”, que dá nome a um dos destaques do segundo disco de Tatá Aeroplano, está ali, diante do narrador, “com olhos de quem fumou a noite inteira” e “de quem bebeu a noite inteira”. Toda a instrumentação é de entrar em êxtase. Guitarras (Junior Boca), teclados (Dustan Gallas) e bateria (Bruno Buarque) compartilham da mesma loucura de Aeroplano. Gritos. E, enfim, o silêncio.
“A canção pode ser encarada como uma mini-ópera-rock, sei lá”, diz Aeroplano ao blog Sobe o Som sobre a segunda faixa do disco Na Loucura & Na Lucidez, lançado há poucos dias. “São as histórias que vivemos, que os amigos vivem. Quando escrevi essa letra, fiquei pensando: ‘Putz, vão ficar imaginando coisas a respeito dela’. É realidade e também é ficção, é tudo misturado de várias histórias que aconteceram comigo.”
Aeroplano conta que o processo de composição é intuitivo, “são histórias que vivi e que vejo as pessoas viverem” e vão direto para o inconsciente dele. “Só depois [elas] voltam em uma canção.”
A faixa conta uma história, método em que Aeroplano vem se especializando desde os tempos de Cérebro Eletrônico, uma das muitas bandas dele, mas que se intensificou e se aperfeiçoou no primeiro disco solo, lançado em 2012. Naquela safra de Tatá Aeroplano, a narrativa experimental de “Par de Tapas que Doeu em Mim” se passava em uma outra noite confusa, desta vez com a efervescente Rua Augusta, em São Paulo, como cenário.
Ouça “Amiga do Casal de Amigos”:
Em na Loucura & Na Lucidez, Aeroplano se mostra mais seguro e à vontade diante da estética muito própria criada no primeiro álbum e com a convivência ao lado do trio de instrumentistas formado por Gallas, Boca e Buarque. “Aprendi muito com eles no primeiro disco”, diz o músico. “Considero um divisor de águas na minha carreira, foi muito transformador.” O experimentalismo solo, ele mesmo diz, espalhou-se até no trabalho com o Cérebro e o disco “Vamos Pro Quarto”, também lançado neste ano.
A parceria entre eles é tamanha que o músico analisa o rótulo de “disco solo” que o álbum recebe. “É um disco coletivo. Eu chego com as canções, com as melodias, mas muita coisa é criada coletivamente, tanto que, no disco, a banda divide os créditos de seis canções comigo”, diz Aeroplano. “É um registro musical que vai ficar para sempre, né?”
O álbum tem outras colaborações saborosas, como o dueto nos vocais com a carioca Bárbara Eugênia em “Onde Somos Um”, uma poesia de ArrudA, ou ainda em “A Hora Que Eu Te Espero”, uma improvável parceria com Alan Brasileiro, um compositor que enviou alguns versos para Aeroplano pelo Facebook.
O título, Na Loucura & Na Lucidez, tem início “Na Loucura” e chega ao fim “Na Lucidez”, criando um moto-contínuo de amores e desamores. “Quando reuni as canções para gravar o disco, percebi que tinha escrito justamente sobre o ciclo de uma paixão, não tem como fugir da loucura, quando acaba, existe um período muito turbulento e não tem como fugir dele”, diz Aeroplano. “As fugas são todas insólitas, leva-se um tempo para chegar à lucidez, é como um filme sem fim. Mesmo quando chegamos, a qualquer momento, a loucura pode voltar e nos devorar.” E, para isso, às vezes, basta uma ligação.
Show de estreia
Tatá Aeroplano lança o disco em São Paulo nesta quarta-feira, 13, no Sesc Vila Mariana ( Rua Pelotas, 141), às 21h. Ingressos estão disponíveis aqui e na bilheteria da casa.
Ouça Na Loucura & Na Lucidez. Para baixar ou comprar os dois discos, acesso o site oficial do músico aqui.