Evento aconteceu na noite de domingo, 8, em Los Angeles
Stella Rodrigues, de Los Angeles Publicado em 09/02/2015, às 15h01 - Atualizado em 10/02/2015, às 12h38
Por Stella Rodrigues, de Los Angeles
Aficionados por entretenimento não resistem a um bom evento de premiação. Os indicados nunca agradam aos gregos e aos troianos. Os vencedores deixam sempre a desejar de alguma forma e, de uns anos para cá, as redes sociais ficam tomadas pelos comentários dos mais novos especialistas em vestidos de alta costura/música/cinema/TV. Todo mundo reclama, mas ninguém deixa de acompanhar, porque é sempre muito interessante. Na selva que tem sido a televisão aberta norte-americana nos últimos anos, a chamada temporada de "awards shows" passou por uma emocionante montanha-russa, mas chegou ao fim do passeio em um só pedaço e fazendo bons esforços de adaptação aos novos tempos. Dá para dizer que as renovações (que em 2015 incluíram até tirar o monólogo inicial para tentar - em vão - encurtar a transmissão e evitar que shows e discursos fossem interrompidos, como aconteceu com o Nine Inch Nails ano passado) foram bem-sucedidas.
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Poucos eventos desses mudaram de forma tão radical quanto o Grammy. Com mais categorias do que qualquer uma das outras grandes cerimônias (Tony, de teatro, Globo de Ouro, de cinema e TV, Emmy, de TV e, claro, o Oscar), o Grammy foi se dividindo, ganhou uma versão inteiramente dedicada à música latina e, o mais importante, relegou as categorias "menos prestigiosas" a uma cerimônia não televisionada que acontece na tarde que antecede o que eles chamam de "a grande noite da música". A tal noite, de fato, atualmente tem muito mais performances do que discursos chorosos de premiados, o que provavelmente faz dela a mais divertida de se ver ao vivo.
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Após anos acompanhando esses eventos todos de casa, pela televisão, usando roupas confortáveis, a transição para o "ao vivo" carrega alguns choques. O primeiro deles é que o evento todo é menos pomposo do que se espera. Diferente do Oscar, o código de vestimenta não é tão rígido, já que artistas da canção são notoriamente mais rebeldes nesse aspecto. Outra grande diferença é que a televisão, por motivos óbvios, mostrará apenas as celebridades que todos querem ver - quem interage com quem, quais encontros dali podem gerar parcerias musicais no futuro etc. É, de fato, uma noite que anualmente muda a roda da cena fonográfica. Trata-se de um evento em grande parte voltado para a indústria e seus executivos (de gravadoras, clientes, patrocinadores e todo tipo de agente corporativo que faz a roda da música girar), muitos deles acompanhados da família, incluindo crianças pequenas. O glamour e os famosos estão todos lá, é claro, para serem celebrados e clicados deslumbrantes no tapete vermelho. Mas isso é apenas uma parte quantitativamente pequena da importância de um evento desses, que é uma grande festa para se fechar negócios.
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O outro aspecto, o de evento televisivo massivo, de enorme porte, feito para audiências de milhões de pessoas do mundo todo, esse impressiona - e bastante - ao vivo. Se na semana passada o mundo mais uma vez se curvou diante da habilidade de se montar e desmontar um palco no breve intervalo do Super Bowl, pode-se pensar no Grammy como dois mini-Super Bowls por bloco. Com quatro espaços hábeis (o palco redondo central, a porção frontal do palco principal e o fundo dele dividido em dois), foi possível notar que assim que o foco era desviado de um desses espaços uma equipe perfeitamente coreografada entrava em cena e montava o próximo cenário com precisão cirúrgica. Alguns deles, como o da apresentação de Katy Perry, pautado em um jogo de sombras, pareciam mais simples, mas a montagem do cenário de Miranda Lambert, por exemplo, foi tão laborioso que chegou a distrair os mais curiosos do que estava acontecendo no palco principal (ou seja, aquele que estava sendo televisionado naquele momento).
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Ágeis, também, são os já famosos "seat fillers". A função deles é tão ingrata que acabou virando algo notório nesses eventos. Como não se pode correr o risco de a transmissão voltar do intervalo e as cadeiras estarem vazias, porque os artistas ainda estão esticando as pernas ou retocando a maquiagem, cada vez que é chamado o intervalo um grupo grande de pessoas vestidas com roupas discretas invade a plateia como um enxame ninja para tomar os assentos que ficaram vagos em uma verdadeira dança das cadeiras para adultos. Tudo em nome da estética dos shots, para quando a atração retorna do comercial. Aliás, enquanto o público de casa assistia às propagandas, o Staples Center revia performances musicais marcantes dos últimos anos, como de Adele ou o casamento coletivo que Madonna e Macklemore promoveram ano passado. No início, pouco antes de o espetáculo começar, foi o produtor executivo da transmissão que entreteve as pessoas (ou tentou, já que ninguém deu muita atenção ao que ele estava dizendo).
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Outra função a qual não se pensa muito é a dos jovens que ficam no espaço entre os palcos durante os shows. Não se tem uma apresentação de pop animada sem uma plateia em pé, cantando e dançando. Podemos até pensar que são pré-selecionados (possivelmente, parte deles até é). Mas, na tarde de domingo, sob sol quente, uma enorme fila de jovens, garotos e garotas bem produzidos, esperavam com paciência pela chance de serem escolhidos para participar do evento nessa importante função figurativa. Sem pestanejar, eles demonstravam toda a empolgação que poderia fazer com que os produtores da porta os selecionassem para entrar.
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Figuração também foi o que Arturo Sandoval e Jessie J fizeram na festa oficial, depois da cerimônia. Tal qual em um casamento ou em uma formatura, os convidados famintos faziam filas e mais filas nos bufês enquanto, em dois ambientes separados, os artistas tentavam chamar alguma atenção, embora estivessem perfeitamente resignados. Enquanto Jessie entoava o hit "Price Tag" para um grupo de adolescentes animadas, convidados exaustos tiravam o salto e davam uma encostadinha no chão (faltaram mesas em certos momentos) para aproveitar o delicioso jantar, provando que até em Hollywood o glamour não é à prova de fome e que - ainda bem - executivos da indústria fonográfica também são humanos.