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Henrique Portugal, do Skank, opina sobre os caminhos da música na era digital

Tecladista na banda mineira faz uma analise a respeito das plataformas de streaming

Redação Publicado em 11/05/2015, às 17h06 - Atualizado às 18h11

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O músico Rodrigo Portugal, do Skank  - Weber Pádua
O músico Rodrigo Portugal, do Skank - Weber Pádua

Por Henrique Portugal

Quando eu tinha cinco anos minha professora de piano avisou para minha mãe que eu não enxergava direito e que estava decorando as músicas em vez de ler as partituras. A partir dessa constatação e alguns exames depois, comecei a usar óculos e estou com eles até hoje. Essa foi a primeira vez em que a música mudou a minha vida. Depois disso vieram outras por causa das semínimas e colcheias que formam as canções e das palavras que se tornaram a memória sentimental de várias pessoas através de sucessos do Skank.

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A minha curiosidade sempre me levou a questionar e tentar antecipar quais as futuras mudanças que aconteceriam na música e, consequentemente, na indústria. Durante todos esses anos, após investimentos em fundos de tecnologia, erros e acertos em projetos que ganhamos vários prêmios, concluí que o mais caro é tentar mudar a cultura das pessoas. O ser humano tem na praticidade a sua maior vontade e dificilmente é convencido com belas palavras, a não ser que venham recheadas de promessas mais do que desejadas.

Na indústria da musica o CD ocupou o espaço do vinil por ser mais prático, assim como a praga do MP3 destronou o CD pelo mesmo motivo. O formato digital em pequenos telefones ocuparam o espaço dos enormes aparelhos de alta fidelidade, que normalmente ficavam na sala de casa, mas que o jovem atual despreza. O mundo foi invadido pelos fones brancos e depois por modelos de grife auditiva que mais parecem adereços de moda.

A música utiliza um sentido humano que não é exclusivo. Podemos fazer qualquer coisa enquanto escutamos música. A portabilidade dos rádios de pilha e o lançamento do walkman tornaram a música um item obrigatório para os jovens. Nos últimos 15 anos, a forma como as pessoas consomem os sucessos mudou completamente – seja ilegalmente pelas trocas de arquivos via torrent ou legalmente com a criação do iTunes. O iPod e sua colossal capacidade de armazenamento tornou a febre do acumulo de canções um valor social.

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A tecnologia tornou a música mais plural. Se antes tínhamos que escolher qual álbum poderíamos comprar, agora com o streaming não precisamos fazer escolhas excludentes por limitações financeiras. Podemos escutar tudo a todo momento e em qualquer lugar. Mas isso gerou menos fidelidade aos artistas.

Hoje os jovens pensam de forma não linear. Eles não precisam de uma sequência prévia das atividades. Utilizam os sentidos de forma compartilhada, escutam uma música, jogam um game, assistem televisão e reclamam quando desligamos um destes. As escolhas não são mais feitas por um programador de rádio ou por um artista que gasta dias escolhendo a ordem das músicas em um álbum. A tecnologia nos deu a oportunidade de fazermos as nossas opções.

Tudo o que escrevi acima apenas relata mudanças comportamentais baseadas em alterações tecnológicas. Em um passado recente, quando você queria uma música, era obrigado a comprar um álbum completo Hoje você não precisa encher as prateleiras de casa com discos empoeirados, pode escutar o que deseja através de um aplicativo de celular. Tudo isso também mudou a forma como são remuneradas as pessoas envolvidas no processo de criação e comercialização das canções.

O formato físico e todas as leis relacionadas a ele foram criadas entre as décadas de 1950 e 1960, já se passaram mais de cinquenta anos. Será que elas ainda representam a forma como consumimos música?

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O futuro será o streaming, mas não da forma como as plataformas estão fazendo. A música sempre pagou uma alta conta pelo fato de as canções serem arquivos pequenos e de fácil transferência. Mas este não é um problema somente da indústria musical, ele apenas começou com ela. O problema acontece também com os jornais, revistas e qualquer ativo que possa ser transformado em um arquivo digital.

Ainda estamos no meio desta transição e precisamos ter cuidado com as opções que serão feitas. Não basta simplesmente passar do modelo físico para o digital e achar que está tudo solucionado. Os artistas também precisam se reinventar, pois o público consome a música de forma diferente.

Mas de uma coisa eu tenho certeza: quem mais perde quando um artista não pode viver da sua criação é o mundo que se torna menos interessante.