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João Gilberto, muito calor e novas realidades — um encontro inesperado com os integrantes do Phoenix

Saiba como foi passar algumas horas ao lado dos irmãos Laurent Brancowitz e Christian Mazzalai, que se apresentaram no Popload Festival, na última quarta, 15

Anna Mota Publicado em 18/11/2017, às 10h00

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Os franceses da banda Phoenix - Antoine Wagner Studio
Os franceses da banda Phoenix - Antoine Wagner Studio

Por: Anna Mota

Na competição entre frio e calor, reanimada com frequência em terras brasileiras, eu fico com o time cobertor, cachecol e chocolate quente. Antes mesmo do surgimento da (pertinente) pergunta “o que raios isso tem a ver com o Phoenix?”, eu respondo: quando se trata dessa última vinda do grupo ao Brasil, tudo. E se você esteve em São Paulo no dia 15 de novembro, aposto que concorda comigo.

Além da Proclamação da República, na data foram celebrados também o acontecimento da edição de 2017 do Popload Festival e o esperado retorno dos franceses ao país. Após uma catártica apresentação no Lollapalooza 2014, Thomas Mars (vocal), Deck d’Arcy (baixo, teclado), Laurent Brancowitz (guitarra, teclado) e Christian Mazzalai (guitarra) foram escolhidos para fechar a programação do evento (que também teve PJ Harvey, AlunaGeorge, Carne Doce, Ventre e Neon Indian).

Como representante da Rolling Stone Brasil, fui convidada para uma conversa com alguns dos integrantes do Phoenix, apenas algumas horas antes do show da banda no Popload, marcado para às 21h. Às 18h45, como inimiga declarada do calor que sou, já carregava comigo as marcas do sol e dos 33 graus que torraram o público no Memorial da América Latina durante todo o dia. Além dos braços queimados, sentia um cansaço que me dominava dos pés à cabeça. O que eu não imaginava é que estava prestes a esquecer tudo isso ao longo de um encontro imprevisível e bem interessante.

Do estereótipo francês blasé, os guitarristas do grupo não têm nada. Havia recebido a orientação de realizar a entrevista sentada em uma mesinha improvisada na frente dos camarins, estrategicamente posicionada embaixo de árvores que forneciam uma das raras sombras do local. “E se essas frutinhas começarem a cair em nós?”, questionou Mazzalai. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Brancowitz respondeu: “Eu gostaria de ver o pôr-do-sol”, e começou a caminhar em direção de uma saída protegida por seguranças. “Venham.”

Após convencer a equipe do Memorial a me deixar entrar no local, sentei em uma guarita, com Mazzalai ao meu lado e Brancowitz em pé, todos de frente para um lago, para finalmente falar sobre o show que estava prestes a acontecer. “Nós estamos pegando fogo.” Esta foi a ambígua declaração de Laurent, que podia fazer referência ao calor, à emoção do momento ou às caipirinhas experimentadas antes do festival.

“Não conseguimos ouvir nada [das bandas do Popload], acabamos de chegar. Estávamos em um bar de samba”, admitiu Mazzalai, que fez questão de me mostrar o registro da apresentação que viu, guardado no celular. Apesar de “amarem” samba, este não é o único gênero que agrada os irmãos franceses. “Quando pequenos, éramos fãs basicamente de duas coisas: Beatles e João Gilberto”, revelou Laurent. “Temos uma conexão muito forte com ele, é uma grande influência no que fazemos.”

E esta é apenas uma das referências mundiais na música do Phoenix. Só no disco mais recente, Ti Amo, eles misturam três culturas. Em batidas eletrônico-experimentais, eles falam sobre amor e felicidade em praias italianas, enquanto cantam em inglês e recitam versos em francês.

Difícil imaginar como um trabalho tão colorido nasceu no estúdio La Gaîté Lyrique, vizinho ao teatro Bataclan, um dos principais alvos dos ataques terroristas que aconteceram em Paris, na França, em 13 de novembro de 2015. Mas Laurent garante que a escolha trouxe ainda mais diversidade ao trabalho. “Como o local se tornou inóspito, apenas artistas interessantes se apresentam por lá. Ouvimos muita gente, encontramos pessoas que não imaginávamos.”

Para Christian, até mesmo a temática do disco diz muito sobre o local em que ele foi gravado. “Vivemos em um mundo dominado pelo medo. E nós tentamos criar uma realidade ideal em que percebamos o oposto disso tudo. E em que possamos celebrar as pequenas coisas, a nostalgia, ou qualquer outra coisa que pareça boa o suficiente.”

“O tempo de vocês acabou”, disse a agente deles, ainda meio atordoada por ter tido que nos procurar pelos bastidores do Popload. Depois, tive novamente a chance de presenciar a tal felicidade da fala de Mazzalai no palco, onde os franceses usaram de toda a energia para levantar os presentes, com direito a Mars se jogando na plateia (como em 2014) e muitos hits dos 20 anos de carreira — sendo “Lizstomania”, “If I Ever Feel Better” e “1901” as faixas mais celebradas, como já era esperado. Uma performance e uma conversa que refletem o comportamento de uma banda que se mantém como um dos exemplos do que tem sido feito de melhor na música francesa nas últimas décadas.