Se todo festival tem seu tapete vermelho, o de Cannes foi colorido com vermelho-sangue.
Não que, de tão assanhadinhos para pôr as mãos na Palma de Ouro, os concorrentes tenham se engalfinhado em disputa digna de um especial do Celebrity Deathmatch, aquele programa de animação da MTV EUA que parodiava um Tom & Jerry (Comichão e Coçadinha?) entre famosos, no tatame.
E haja groselha e ketchup. A maioria das produções que tiraram uma casquinha na 61ª edição do festival francês (terminado neste domingo, 24) poderia torcer o pano, e dali jorraria sangue pra chuchu. Ou ao menos respingaria um clima pesadão, como o caso de The White Ribbon ("a fita branca", em livre tradução), que passou a mão na Palma de Ouro deste ano. Do austríaco Michael Haneke (na foto) - que já havia degolado uma galinha em cena no perturbador Caché -, o filme fala sobre uma cidade alemã às vésperas da Primeira Guerra Mundial. E as tragédias, no filme, chegam mais rápido que trem-bala. De espancamento de crianças (inclusive uma com deficiência mental) à brutalidade contra mulheres. Nós aqui da Rolling Stone Brasil ainda não vimos. Mas já encomendamos o sal de frutas.
Charlotte Gainsbourg - a filhota cantora de Serge e Jane Birkin e estrela de A Ciência do Sonho, de Michel Gondry - saiu de Cannes com o prêmio de melhor atriz, por Anticristo. Para quem não se lembra, o filme de Lars Von Trier deixou a Croisette estupefata em sua primeira exibição, no dia 17 de maio. Para narrar a história de um casal que se isola no meio de uma floresta para superar a morte do filho, Trier chegou a simular cena em que Gainsbourg, par de Willem Dafoe, corta seu clitóris fora com uma tesoura. Embrulha estômago mais rápido que empacotador da seção de presentes da Wal Mart.
Quem faturou como melhor ator foi o austríaco Christoph Waltz, de Bastardos Inglórios - o épico sobre a Segunda Guerra de Quentin Tarantino. Um diretor para quem violência está tão em sintonia com sua filmografia como protagonista "Helena" para as novelas de Manoel Carlos.
Como melhor diretor veio o filipino Brillante Mendonza, com Kinatay. E aí o pessoal de Cannes perdeu a cabeça de vez - e não é só maneira de falar. Entre cabeça decapitada, estupro e outros fatos chocantes, o filme ganhou vaias (muitas) e comparações (mais ainda) com Irreversível. O longa de Gaspar Noé, com Monica Bellucci e Vincent Cassel, caiu pesado quando exibido sete anos atrás no balneário francês. Basta lembrar da cena do túnel ou da cara esmagada na briga do bar.
Não nos pegaria de surpresa se o drinque mais badalado desta temporada cinéfila na Croisette tivesse sido bloody mary. Vai um sanguinho aí?