De Duna ao documentário de Led Zeppelin - uma rápida análise dos destaques do Festival de Cinema de Veneza deste ano
Considerado o evento internacional de cinema mais antigo - a primeira edição ocorreu em 1932 - o Festival de Cinema de Veneza é um dos mais importantes formadores de opinião e indicadores (ao lado de Cannese Berlim) em termos do futuro do cinema mundial. Nos últimos anos, principalmente após Alberto Barberá voltar ao cargo de diretor artístico em 2012, é considerado termômetro para mania hollywoodiana de tapete vermelho e para mídia, estreando diversas obras proeminentes para temporada de premiações.
Veneza foi onde Roma, de Alfonso Cuarón, estreou, uma bênção pela qual seremos eternamente gratos. Foi também o festival que premiou Coringa com sua maior honra, o Leão de Ouro, e iniciou o filme na jornada para o Oscar.
A edição deste ano está particularmente forte, variando de estreias de grandes nomes (a tão esperada nova adaptação de Duna; o filme Spencer de Pablo Larrain, com Kristen Stewart interpretando Princessa Di; o drama histórico O Último Duelo, dirigido por Ridley Scott), perpassando por obras de importantes diretores (novos filmes de Pedro Almodóvar, Edgar Wright, Paul Schrader, Jane Campion e Ana Lily Amirpour) a documentários sobre Led Zeppelin, Leonard Cohen e o falecido EnnioMorricone. E se a ideia de assistir Quentin Tarantino falar por muito tempo sobre um de seus cineastas de faroeste favoritos é a sua ideia de paraíso dos cine-nerds, então você está com sorte!
Ver essa foto no Instagram
O festival inicia oficialmente em 1 de setembro, mas aqui está uma prévia dos 15 títulos em destaque no Festival de Cinema de Veneza 2021.
Na juventude, quatro artistas amantes do blues (incluindo um gênio da música e um ex-Yardbird) formaram um grupo. Autodenominados Led Zeppelin, o nome foi criado após piada feita pelo baterista de The Who, Keith Moon, sobre como a banda voaria igual a um zepelim de chumbo. O resto... bem, é uma história conhecida. [Corta para riff de abertura de "Dazed and Confused" e o som ensurdecedor do martelo dos deuses atingindo o heavy metal] O documentário oficial, criado há anos, foca nos bons e maus momentos, além das vidas de cada membro da banda antes, durante e depois do poderoso reinado de Zep.
O longa inclui imagens raras e novas entrevistas com Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones. O diretor Bernard MacMahon afirmou querer um retrato “que se parecesse com um musical… [Com] sequências de fantasia, inspiradas em Singin’ in the Rain.”
William Tell é um jogador profissional que assombra os cassinos do Centro-Oeste americano. Ganha apenas o necessário para seguir em frente, nunca permanecendo além do tempo considerado bem-vindo. No entanto, essa figura solitária atrai a atenção de duas pessoas: uma mulher que atua como espécie de patroa para jogadores de torneios de five-card stud; e um jovem com uma conexão com algo (ou alguém) no passado de William. Dado o histórico do roteirista e diretor Paul Schrader com anti-heróis angustiados e frequentemente violentos, poderia-se dizer que esse personagem é uma aposta segura.
Bônus: Oscar Isaac interpreta o tubarão de cartas monástico, Tiffany Haddish sua “empresária” e Tye Sheridan interpreta o acólito de William. Quanto ao porquê de Willem Dafoe se esconder na periferia, bem... Isso é segredo.
Ele foi o segundo grande Sergio no panteão dos faroestes americanos, homem responsável pela criação do personagem mais indelével do gênero - um pistoleiro desonesto chamado Django - e diretor de clássicos europeus como Os Violentos Vão para o Inferno,Joe, O Pistoleiro Implacável e O Grande Silêncio. O cineasta Sergio Corbucci finalmente recebe um doc-tributo, e quem melhor para escrever poesia sobre o falecido grande autor que Quentin Tarantino? Luca Rea faz o diretor de Django Livre e superfã de Corbucci falar sobre a influência do homem em seu próprio trabalho, na indústria cinematográfica italiana e na abordagem suja da era americana.
Bônus: aparentemente também inclui uma recontagem animada do fictício Rick Dalton, dirigido por Corbucci, do Nebraska Jim de Era uma vez... em Hollywood.
+++ LEIA MAIS: Por que Quentin Tarantino não dá dinheiro à mãe?
Já dizia Frank Herbert, autor de Duna: “Quem controla a especiaria, controla o universo”. E Denis Vilenueve definitivamente controla a especiaria. O diretor de Blade Runner 2049 assumiu papel de avô dos tomos literários de ficção científica do Século 20 e deve estrear sua adaptação da primeira metade do romance de Frank Herbert em Veneza. (A Parte 2 provavelmente será lançada nos próximos anos.) Timothée Chalamet é Paul Atreides, jovem talentoso em um novo planeta no meio de uma guerra cósmica. Zendaya é Chani, mulher “Fremen” moradora do deserto e responsável por mudar sua vida; Oscar Isaac e Rebecca Ferguson são seus pais, Duque Leto e Lady Jessica; Josh Brolin, Javier Bardem, Charlotte Rampling, Jason Momoa, Dave Bautista, Stellan Skarsgard (como Barão Harkonnen!), Stephen McKinley e alguns gigantescos vermes da areia aparecem para lutar, aconselhar e/ou serem extremamente severos. É épico, em todos os sentidos da palavra.
Adição de última hora do festival, o retrato do falecido grande Ennio Morricone é essencialmente uma entrevista de longa-metragem entre o compositor e cineasta Giuseppe Tornatore (Cinema Paradiso) cobrindo o início da carreira d' il maestro, suas famosas trilhas sonoras de faroeste, inúmeras colaborações e muito mais. Todos, de Quentin Tarantino a Bruce Springsteen, expressam suas opiniões a respeito do impacto deixado por Morricone na sétima arte e do vazio provocado por sua morte em 2020.
+++ LEIA MAIS: Tudo o que sabemos sobre Duna: trailer, estreia e mais [LISTA]
Leonard Cohen levou oito anos para escrever “Hallelujah”, ode ao sagrado e ao profano, ao divino e ao carnal; um executivo de gravação da Columbia recusou-se a lançar o álbum, e três versões cover (de John Cale, Jeff Buckley e Rufus Wainwright III, respectivamente) para não apenas resgatá-lo da obscuridade, mas também transformá-lo em um clássico das canções americanas modernas. O documentário de Daniel Geller e Dayna Goldfine se aprofunda na história de uma das faixas mais conhecidas e amadas de Cohen, bem como as obsessões e preocupações criativas do poeta/compositor canadense que o inspirou. Também pode ser o único filme nesse ano a traçar uma linha direta entre os monges zen budistas, Phil Spector e Shrek (pensamos).
A continuação da sequência/reboot de David Gorden Green, baseado na obra-prima de John Carpenter de 1978 e conhecida como Cidadão Kane dos filmes de terror continua de onde parou, com Michael Myers vivo e esfaqueando. Naturalmente, Laurie Strode (amamos você, Jamie Lee Curtis - que também recebe um prêmio pelo conjunto da obra no festival) e seu grande grupo de crianças gostariam de terminar o que começaram, com um impasse prestes a acontecer na casa de infância do assassino. Só esperamos não ver muitos cosplayers de Halloween vagando depois de escurecer….
Na década de 1980, um jovem fanático por futebol chamado Fabietto (Filippo Scotti) descobre que a lenda argentina Diego Maradona, também conhecido como a “Mão de Deus”, estará jogando pelo Napoli. É um sonho realizada para ele e seu pai igualmente obcecado por futebol (Toni Servillo), e o jovem pode finalmente assistir seu amado time da casa ganhar um campeonato. Em seguida, uma tragédia - e uma filmagem que de repente entra na cidade - lança duas bolas curvas em sua vida.
As últimas novidades do cineasta Paolo Sorrentino (A Grande Beleza) trazem um olhar terno, surreal e semi-autobiográfico para sua própria juventude, desde a dinâmica de sua extensa família até seu interesse inicial pelo cinema. “É um filme baseado na percepção da dor e alegria de um menino, e narrado através dos olhos do adulto que se tornou,” afirma o diretor sobre este drama de amadurecimento.
Ridley Scott retorna com narrativa do último duelo sancionado na França, envolvendo um cavaleiro (Matt Damon), sua esposa (Jodie Comer) e o melhor amigo do homem (Adam Driver), a quem o cônjuge acusou de estupro. A história é então vista, ao estilo Rashomon, das três perspectivas. Dado que a carreira de Sir Ridley na tela grande começou com uma história de cavalheiros lutando até cair, só podemos dizer “bravo” para o círculo completo da narrativa. Damon também é co-autor com Nicole Holofcener e co-estrela Ben Affleck, interpretando rei Carlos VI.
Edgar Wright - de Baby Driver - Alta Velocidade, Zombies Party - Uma Noite... de Morte e vários outros filmes assistidos repetidamente - conta que o filme, um thriller psicológico ambientado em Swinging Sixties, movimento cultural de Londres, foi fortemente inspirado por terrores assustadores, como Aquele Inverno em Venezae Repulsa. Como se essa afirmação não bastasse para deixar os cinéfilos salivando, a história de uma jovem (Thomasin McKenzie deJojo Rabbit) - que de alguma forma está ligada a uma hipster moderna de Carnaby Street (Anya Taylor-Joy, estrela deO Gambito da Rainha) do passado - está repleta de atores icônicos da época: Terence Stamp, a grande Rita Tushingham, a falecida Diana Rigg. Prepare-se para entrar em um estado de felicidade nerd do gênero.
Baseado no romance de 2008 de Elena Ferrante, a estreia na direção de Maggie Gyllenhaal segue Leda (Olivia Colman), professora universitária britânica isolada em uma casa de praia grega. A ideia é finalizar um projeto de livro, mas a chegada de uma família barulhenta e agressiva de Nova York atrapalha seu tranquilo verão trabalhando. Logo, a presença deles - e especificamente, testemunhar uma jovem mãe exasperada chamada Nina (Dakota Johnson) lutando para localizar a boneca perdida da filha - leva Leda por uma estrada escura envolvendo suas primeiras memórias ao equilibrar responsabilidades profissionais e pessoais. Chame-o de filme de TSPTP (transtorno de estresse pós-traumático parental).
Não há muitos detalhes sobre o novo filme de fantasia de Ana Lily Amirpour, exceto envolver uma jovem, interpretada por Jeon Jong-seo de Em Chamas, que foge de um asilo psiquiátrico em Nova Orleans; e Kate Hudson, Craig Robinson e Ed Skrein co-estrelas de Deadpool. Mas o filme é o mais recente da roteirista e diretora de Garota Sombria Caminha pela Noite, um dos filmes de estreia mais impressionantes da última década - é necessário saber mais do que isso? De acordo com a própria cineasta, ela “queria criar um novo estilo de herói que enfrenta os problemas de uma realidade moderna e distorcida... para explorar os conceitos da liberdade pessoal em uma sociedade caótica que torna difícil se sentir livre.”
O festival deste ano abre com novo filme de Pedro Almodóvar, na qual duas novas mães - uma fotógrafa (Penélope Cruz) e uma adolescente (Milena Smit) - formam um vínculo para além da maternidade. É o sexto filme de Cruz com o autor espanhol; os atores regulares de Pedro, Rossy de Palma e Julieta Serrano também fazem parte do elenco. Uma maneira perfeita de começar.
+++ LEIA MAIS: Os 6 melhores filmes de Penélope Cruz [LISTA]
A cineasta Jane Campion retorna com primeiro filme em 12 anos (Bright Star - Estrela Cintilanteestreou em 2009), uma adaptação do romance de Thomas Savage sobre dois irmãos - um inteligente e cruel (Benedict Cumberbatch), o outro sombrio, mas gentil (Jesse Plemons) - vivendo sozinhos por décadas em um rancho em Montana. Até uma viúva (Kirsten Dunst) entrar em cena, e seu casamento com o mais gentil deflagrar uma guerra entre irmãos.
O público não cansou de assistir Diana Spencer na última temporada deThe Crown? Então, estão com sorte: o retrato de Pablo Larrain, que estreia em Veneza e segue Diana ao longo de três dias enquanto passa as férias na propriedade de Sandringham da família real, está pronto para mostrar mais de perto a vida da princesa do povo. O fato de Kristen Stewart interpretar Spencer e o diretor chileno ter sido o responsável por Jackie, uma extraordinária biografia alternativa de uma mulher extraordinária, nos deixou extremamente curiosos.
+++ CONFIRA TUDO SOBRE A BANDA 5 SECONDS OF SUMMER!