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Cinema / Disney - Atriz

A atriz da Disney que se encontrou no cinema pornô

Maitland Ward conta como quebrou tabus e superou uma carreira de traumas em Hollywood para, aos 40 anos, trabalhar com sexo diante das câmeras

Igor Miranda
por Igor Miranda

Publicado em 12/08/2023, às 14h00

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Maitland Ward (foto: getty images)
Maitland Ward (foto: getty images)

Desde muito jovem, Maitland Ward sabe o gosto da fama. A atriz americana estreou aos 17 anos interpretando Jessica Forrester na novela The Bold and the Beautiful,exibida na CBS entre 1994 e 1996. Seguiu requisitada para outros papéis, como o de Rachel McGuire na série Boy Meets World(no Brasil, O Mundo é dos Jovens),transmitida no Brasil pelo Disney Channel.

Por aqui, muitos devem se lembrar dela no filme de comédia As Branquelas (2004),da família Wayans. Na trama, ela faz Brittany Wilson, uma das irmãs que os protagonistas Kevin e Marcus Copeland (interpretados por Shawn e Marlon Wayans) fingem ser.

Três anos depois, em 2007, Maitland se aposentou da chamada atuação mainstream. Tinha apenas 30 anos. Passou a se dedicar aos cosplays (vestindo-se como personagens icônicas de filmes e séries), que garantiam aparições em eventos do tipo. Em 2013, começou a publicar fotos nua e seminua nas redes sociais. Até que, em 2019, surgiu uma proposta para trabalhar no cinema pornô.

Em artigo para a Rolling Stone EUA,ela destaca que o sexo sempre esteve presente em sua vida de forma problemática. Na vida real, perdeu a virgindade após “três bombadas de um nerd em um quarto de estudante”. Na ficção, logo em seu primeiro papel em The Bold and the Beautiful,sua personagem teve a “primeira vez” e pouco tempo depois foi descartada pela direção, já que, em suas palavras, “não havia nada mais a se fazer” com ela - que, na interpretação, já não era mais virgem; e na vida real, estava ficando “gorda” segundo o que lhe diziam.

A garotinha loira resolveu pintar o cabelo de vermelho, o que lhe garantiu o papel em Boy Meets World,aos 21 anos. Demorou a se dar conta de que a persona “ruiva sexy” rendeu o trabalho.

“Hollywood fez uma lavagem cerebral em mim para acreditar que não importa o que eu fizesse, tudo sobre mim estava de alguma forma errado. Eu não me encaixava em seu molde de perfeição, mas acho que ninguém se encaixava. [...] Durante minha passagem pela série, sempre fui o alvo das piadas que geralmente envolviam minha bunda - e a mexia para o público do estúdio aplaudir. Os garotos do programa liam meu diário e vasculhavam minha gaveta de roupas íntimas, enquanto eu lhes ensinava lições, lavando a louça com minha lingerie mais provocante. Eu subia várias vezes aos escritórios de produção da Disney para fazer provas de sutiãs e calcinhas no guarda-roupa, apenas para garantir que a lingerie não fosse muito sexy, mas ainda sexy o suficiente.”

No período, alegou ter tido um momento de revelação ao descobrir seu clitóris - “eu estava tendo o melhor orgasmo da minha vida e era tudo meu”. Porém, garantiu: só se encontrou sexualmente duas décadas depois, aos com mais de 40 anos, quando se tornou uma estrela pornô.

“Não acordei um dia e disse ‘quero fazer sexo diante das câmeras’. Passei as últimas duas décadas aprendendo quem eu era não apenas como um ser sexual, mas um ser humano que precisava reconhecer o valor de seus desejos e necessidades. Eu não tinha sido tratada como uma humana completa em Hollywood e acho que outras mulheres tenham sentido o mesmo em todas as esferas da vida. Passamos nossos dias agradando os outros e nos esquecemos de cuidar de nós mesmos. Foi nesses anos em que me comprometi comigo mesma que ganhei confiança no meu corpo, usando-o como queria. Como muitas mulheres, não sabia aos 17, 22 ou mesmo 30 anos quem eu era e o que queria. E descobri que vem com muitas horas e anos de pé com os dedos trêmulos na borda da prancha alta antes de finalmente fazer o mergulho.”

A entrada de Maitland Ward para o cinema pornô

De acordo com Maitland Ward, sua primeira ocasião no mundo pornográfico se deu quando ela entrou "em um quarto de hotel com mil dólares para fazer sexo com um homem britânico". Ele era um profissional da área e os US$ 1 mil seriam o cachê dele, já que a iniciativa da produção foi da atriz. O marido dela, Terry Baxter, com quem é casada desde 2006, estava lá para filmar.

“Esta seria minha primeira vez filmando sexo com penetração com outro homem, para meus fãs e desde que me casei. Não era apenas para fins lucrativos; eu tinha algo a provar para mim mesmo. Isso era algo que eu queria fazer há anos - encontrar um estranho em um hotel, fazer sexo estridente e gravar tudo. Mas eu poderia realmente fazer isso? Eu descobri que era exibicionista e audaciosa e meu marido me apoiou tanto durante meus anos de descoberta sexual pessoal, mas ainda nos perguntávamos como isso iria acontecer.”

Aconteceu rapidamente, em especial porque Ward não estava nervosa. Seu marido não teve qualquer problema com a situação. Então, nasceu sua carreira neste universo, superando inclusive alguns dogmas relacionados à idade - “quando eu estava com quase 30, um assessor disse que se Hollywood quisesse uma garota nua, procurariam alguém com 25”, diz - e encaixando-se na categoria chamada de MILF (“Mother I’d Like to F#ck”, ou, em português, “Mãe que eu gostaria de f#der”)

“O termo MILF é um dos termos mais pesquisados em sites pornográficos. Mulheres mais velhas sensuais, autoconfiantes e sabem o que querem de um jovem amante prosperam cena após cena. Embora a história de um jovem sendo sexualizado por uma mulher madura tenha sido um tabu popular, as MILFs agora estão tão inseridas em nossa cultura que o termo é regularmente referenciado não apenas na música e na mídia convencional, mas na vida cotidiana. Fergie levou isso para as casas com a música 'M.I.L.F.$', que mostra mães celebridades poderosas prosperando em suas carreiras incríveis e demonstrando seu apelo sexual.”

Hoje, Maitland Ward é atriz exclusiva de um site que produz somente conteúdos na categoria MILF, além de ter sua própria conta na plataforma OnlyFans (conhecida pelos conteúdos explícitos feitos diretamente de criadores para assinantes). Escreveu ainda o livro Rated X: How Porn Liberated Me from Hollywood (ainda não lançado em português), onde, conforme o título indica, explica como o cinema pornô a libertou de Hollywood.

Igor Miranda

Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.