CRÍTICA

A Verdadeira Dor é jornada intimista de simples gestos e grandes sentimentos

Com roteiro e direção de Jesse Eisenberg e Kieran Culkin no elenco, comédia dramática estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (30)

Angelo Cordeiro (@oangelocinefilo)

Publicado em 30/01/2025, às 16h00
A Verdadeira Dor é jornada intimista de simples gestos e grandes sentimentos; leia a crítica - Divulgação/20th Century Studios
A Verdadeira Dor é jornada intimista de simples gestos e grandes sentimentos; leia a crítica - Divulgação/20th Century Studios

Conhecido por produções como A Rede Social (2010), Truque de Mestre (2013) e Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), Jesse Eisenberg investe, pela segunda vez, na direção de longas. Após Quando Você Terminar de Salvar o Mundo, de 2022, o ator e, agora, também roteirista e diretor lança A Verdadeira Dor, que chega aos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira (30).

Indicado em duas categorias no Oscar 2025, incluindo Melhor Roteiro Original, assinado por Eisenberg, a novidade é uma obra que, com uma simplicidade aparente, revela uma complexidade emocional profunda, centrada na relação entre dois primos: David, interpretado pelo próprio Eisenberg, e Benji, vivido por Kieran Culkin (Succession), forte candidato ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante na maior premiação do cinema.

Embora a premissa pareça se apoiar em uma busca por identidade familiar e ressignificação de raízes históricas, é a relação íntima e conflituosa entre os dois co-protagonistas que realmente ocupa o centro da narrativa, transformando A Verdadeira Dor em uma jornada sobre dor, empatia e os pequenos gestos que constroem a nossa humanidade.

A história, que poderia facilmente se perder em uma exploração mais técnica e historiográfica dos horrores do Holocausto e das origens judaicas dos personagens, nunca parece forçada ou excessivamente dramática. A Polônia e os memorialistas do Holocausto servem mais como pano de fundo, uma forma de contextualizar os conflitos internos e as tensões entre David e Benji, que são profundamente distintos na forma como lidam com suas emoções. Enquanto David é contido e introspectivo, Benji é expansivo, caótico e vulnerável, mas a beleza de A Verdadeira Dor está em como essa dualidade entre os dois é tratada de maneira honesta e sem julgamentos.

Apesar da simplicidade da trama, o longa se destaca justamente por não tentar dar respostas fáceis sobre os conflitos entre os primos ou sobre a forma como eles lidam com a dor e a perda. Em vez disso, A Verdadeira Dor se concentra em momentos de proximidade e revelação emocional genuína. Esses gestos pequenos e quase imperceptíveis são os momentos que tornam o filme tocante, lembrando o espectador de que, na vida real, as conexões humanas mais profundas não precisam ser forçadas ou grandiosas para serem significativas.

É nesse ponto que a química entre Eisenberg e Culkin se torna o principal trunfo da história. A interação entre seus personagens é alimentada pela naturalidade com que os atores conseguem mostrar as vulnerabilidades e os conflitos de seus personagens. A relação deles é tanto um reflexo de opostos – o controle contra o descontrole – quanto uma exploração das muitas maneiras de se lidar com a dor. Culkin, com sua performance irrepreensível, rouba a cena com um Benji emocionalmente instável, mas carismático, enquanto Eisenberg, mais reservado, serve como um contraponto perfeito para a energia de seu primo.

Na direção, Eisenberg é discreto e remete aos trabalhos de Woody Allen, sabendo utilizar o silêncio e os momentos de pausa de maneira eficaz. A montagem permite que as emoções dos personagens se desenrolem de maneira lenta, mas palpável. O filme é uma exploração silenciosa, mas intensa, do que significa carregar o peso das emoções não ditas, da dor que se acumula sem ser compartilhada, e do aprendizado gradual sobre como se conectar com o outro. O uso sutil de detalhes visuais e gestos simples, como a troca de olhares ou as diferenças nas roupas dos personagens, reforça essa ideia de que a verdadeira dor está nas entrelinhas, no que não é dito, mas vivido.

Em suma, A Verdadeira Dor é uma obra profundamente sensível, que encontra sua força na simplicidade e na honestidade das relações humanas. Embora a história de fundo sobre a busca por identidade familiar na Polônia não tenha o mesmo impacto emocional, a jornada dos personagens de David e Benji é universal, refletindo as lutas internas de todos nós.

Em sua busca por se conectar, entender e compartilhar a dor, A Verdadeira Dor revela que, muitas vezes, é no contato mais simples e genuíno que reside a verdadeira profundidade das nossas experiências.

Especial de cinema da Rolling Stone Brasil

O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.

Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: “Alegria”.

O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.

O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:

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