Longa lançado em 1997 é frequentemente citado como o pior do Homem-Morcego e um dos menos interessantes do segmento de super-heróis
Publicado em 12/08/2023, às 16h00
Não é incomum ver Batman & Robin sendo citado como um dos piores filmes de super-herói em toda a história. Lançado em 1997, o longa dirigido por Joel Schumacher também é citado como o ponto mais baixo da filmografia do Homem-Morcego,mesmo com um elenco estrelado que trazia George Clooney (como Bruce Wayne/Batman), Arnold Schwarzenegger (como Dr. Victor Fries/Sr. Frio),Chris O’Donnell (como Dick Grayson/Robin), Uma Thurman (como Pamela Isley/Hera Venenosa) e Alicia Silverstone (como Barbara Wilson/Batgirl).
Com tantos grandes atores, um diretor renomado e um pujante orçamento de US$ 125 milhões, o que poderia dar errado? Muita coisa. A abordagem mais caricatural e até infantil de um dos personagens mais obscuros dos quadrinhos mainstream é citada como a principal causa para o fracasso. Mesmo com a bilheteria de US$ 238 milhões, que superou o investimento, o longa sofreu com críticas negativas à época e decepcionou ao trazer um faturamento bem menor.
Mais de duas décadas depois, um dos produtores de Batman & Robinrevelou uma motivação bem curiosa para essa pegada mais “colorida”. Em entrevista ao Traversing the Stars (via MovieWeb), Michael Uslan culpou o McDonald’s, mais especificamente sua caixa infantil de lanches McLanche Feliz, pelas principais mazelas criativas da obra.
Segundo ele, houve interferência dos estúdios Warner para estabelecer o filme como mais infantil, adequado para crianças. A ideia era alavancar a venda de produtos relacionados aos personagens, sobretudo os brinquedos que acompanham o McLanche Feliz.
“Joel Schumacher, naquela época, recebeu uma diretriz do estúdio. Naquela época, o estúdio estava muito apaixonado por brinquedos e McLanche Feliz. E saindo dos filmes do Batman de Tim Burton, eles queriam atender a esse lado das coisas e queriam filmes mais leves, brilhantes, infantis e voltados para a família.”
Outra mudança provocada com o objetivo de vender brinquedos foi a presença de múltiplos heróis e vilões. Não eram apenas Batman e Robincontra um vilão e tendo personagens adjacentes. A situação era mais complexa - e forçada.
“As empresas de brinquedos e tudo o mais faziam um pedido: ‘Bem, que tal três heróis em cada filme e três vilões em cada filme? E cada um com dois veículos e duas trocas de roupa?’.”
Diante de tudo isso, Michael Uslan não poupou críticas a todo o trabalho. Em sua visão, o que aconteceu nos bastidores de Batman & Robin “não é cinema”.
“Minha sensação era de que o rabo começou a abanar o cachorro. O que você está fazendo não são filmes. Você está fazendo comerciais de duas horas para brinquedos. Se você trouxe cineastas com uma visão que você ama, que você acredita que pode executar a visão, que você conhece, entende e tem paixão pelo personagem… deixe-os fazer grandes filmes e os brinquedos serão vendidos de qualquer maneira.”
Não adiantava, porém, ter essa visão idealista àquela altura. A máquina era maior que o homem.
“Essa sempre foi minha filosofia, mas ele estava fazendo o que lhe disseram ou pediram para fazer. É sempre bom compreender a perspectiva em torno disso.”
Antes de Batman & Robin,Joel Schumacher dirigiu o relativamente bem-sucedido Batman Forever (1995), que trazia Val Kilmer como o Homem-Morcego. Com o passar dos anos, foi revelado que o cineasta tinha uma visão diferente e mais sombria para a obra, o que poderia ter se refletido no longa seguinte. Até mesmo alguns trechos da abordagem descartada começaram a circular na internet, gerando o que muitos chamam de Schumachercut, mais fiel à proposta original do diretor.
Ainda durante a entrevista, Michael Uslan contou não ter tido acesso a esse material. Porém, destacou que os registros não devem ser falsos, pois realmente Schumacher trabalhou em uma versão diferente.
“Sei que há filmagens e sei que há cortes. Mas reforço: Joel Schumacher era um dos seres humanos mais legais e decentes que você gostaria de conhecer. E ele é detonado injustamente quando se trata desses dois filmes que ele fez.”
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pós-graduado em Jornalismo Digital. Desde 2007 escreve sobre música, com foco em rock e heavy metal. Colaborador da Rolling Stone Brasil desde 2022, mantém o site próprio IgorMiranda.com.br. Também trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, site/canal Ei Nerd e revista Guitarload, entre outros. Instagram, X/Twitter, Facebook, Threads, Bluesky, YouTube: @igormirandasite.