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Cinema / San Quentin

Festival de cinema acontece em prisão nos EUA; conheça

Projeto criado na Califórnia e realizado pela primeira vez em outubro busca incentivar produções criadas pelos detentos

Redação Publicado em 08/10/2024, às 19h19 - Atualizado às 19h41

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Penitenciária Estadual de San Quentin (Foto: Justin Sullivan/Getty Images)
Penitenciária Estadual de San Quentin (Foto: Justin Sullivan/Getty Images)

Nos Estados Unidos, uma nova iniciativa busca ajudar “as pessoas afetadas pelo sistema carcerário a serem vistas, ouvidas e sentidas”.

Esse é o propósito do Festival de Cinema de San Quentin, que será inaugurado nos dias 10 e 11 de outubro na Penitenciária Estadual de San Quentin, Califórnia.

+++LEIA MAIS: Relembre quando Johnny Cash se apresentou na prisão San Quentin, em janeiro de 1958

O projeto liderado pelo ex-detento Rahsaan Thomas e a documentarista Cori Thomas – apesar do sobrenome igual, eles não têm nenhum grau de parentesco. Os dois se conheceram em 2016, quando Cori visitou a prisão para fazer pesquisas para um podcast.

Rahsaan foi uma das primeiras pessoas que conheci lá e ele realmente mudou toda a minha noção do que era a prisão. Entrei com expectativas muito baixas sobre o tipo de pessoas que encontraria e saí me sentindo muito envergonhada por ter julgado todo um grupo de pessoas”, disse Cori à Variety.

Centro de mídia

A penitenciária de San Quentin abriga um centro de mídia que disponibiliza recursos como equipamentos de som, câmeras e programas de edição – todos sem acesso à Internet. Foi com ajuda desse centro que o podcast “Ear Hustle”, apresentado por Rahsaan, foi feito. A produção aborda a vida dentro das prisões e foi finalista do Prêmio Pulitzer.

Antes dessas oportunidades, eu estava limitado ao que é possível fazer na prisão: cortar cabelo por comida. Eu estava limitado a besteiras. Eu ganhava US$ 36 por mês. Com o podcast, eu recebi US$ 5.000. Foi a primeira vez que ganhei dinheiro de verdade para cuidar dos meus filhos”, explicou Rahsaan.

Cori acreditou no talento dos detentos e acabou se tornando uma espécie de coordenadora do centro de mídias. “As pessoas costumavam me dar seus textos para que eu olhasse, para dar minha opinião. Um dia, alguém me deu um roteiro e eu disse levianamente: ‘Devíamos fazer um festival aqui’”, lembra Cori. “Rahsaan estava parado ao meu lado. Ele se virou e disse: ‘Você está falando sério?’”

Então, os dois se juntaram para tentar viabilizar a ideia. No entanto, por conta da pandemia de Covid-19, o contato entre eles ficou limitado e o festival deixou de ser um projeto viável e prioritário.

No início de 2023, Rahsaan foi libertado de San Quentin. Graças ao trabalho como apresentador de “Ear Hustle” e o envolvimento em outros projetos do centro de mídia, ele conseguiu entrar em contato com organizações sem fins lucrativos e representantes da indústria do entretenimento.

A partir desse contato, Rahsaan e Cori começaram a reunir financiamento para o festival, além de convidar jurados, como Mary-Louise Parker, Jeffrey Wright, Billy Crudup, Kathy Najimy e Lawrence O'Donnell.

Os jurados responsáveis por avaliar uma das categorias do festival: a focada em produções feitas por pessoas que estão na prisão ou já foram presas anteriormente.

A outra categoria é o inverso: é dedicada a longas-metragens feitos por pessoas que nunca cumpriram pena, e os jurados são pessoas encarceradas.

A decisão de criar essas duas categorias reflete o desejo de Rahsaan e Cori de garantir que os presos sejam vistos como autoridades com conhecimento de causa sobre como é a vida na prisão.

O projeto também tem um foco especial em garantir um sustento e evitar a reincidência nas prisões. E os resultados parecem eficazes. Nenhum dos participantes do centro de mídia de San Quentin foram presos novamente após a liberdade. 

Estou tendo uma vida ótima. Agora estou ganhando mais dinheiro legalmente do que como traficante de drogas. Fui exposto a tiros. Eu não sabia sobre câmeras”,  diz Rahsaan.

Depois desta edição em San Quentin, os dois organizadores pretendem expandir o festival para outras prisões, dando vida a um evento que possa receber produções de presos ao redor do mundo.

O caminho é longo e trabalhoso. Mas Rahsaan e Cori celebram os resultados até aqui:

Superamos a quantidade de pessoas que nós tinhamos combinado com os responsáveis pela prisão. Hoje temos pessoas perguntando: ‘Posso entrar? Posso entrar?’ Nunca vi tantas pessoas quererem ir para a prisão antes”, diz Rahsaan