ENTREVISTA

Eduardo Moscovis discute papel em ‘Cyclone’: ‘Não se distancia dos homens de hoje’

Rolling Stone Brasil conversou com o ator e o machismo estrutural abordado no longa de Flavia Castro (Deslembro), já em cartaz nos cinemas brasileiros

Angelo Cordeiro (@angelocordeirosilva)

Eduardo Moscovis discute seu papel em 'Cyclone' 'Não se distancia dos homens de hoje' (Divulgação/Bretz Filmes/Mar Filmes/Muiraquitã Filmes)

Cyclone, novo filme da diretora Flavia Castro (Deslembro) a partir do roteiro de Rita Piffer, já está em cartaz nos cinemas de todo o país. O longa apresenta uma reimaginação da história de Maria de Lourdes Castro Pontes, Dayse Castro ou, simplesmente, Cyclone, — vivida por Luiza Mariani (Todas as Canções de Amor), dramaturga talentosa que viveu na São Paulo do início do século XX.

Personagem essencial para o desenvolvimento da história, Heitor Gamba, papel de Eduardo Moscovis (Ela e Eu), é um homem que se aproveita do patriarcado para invisibilizar a protagonista. Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, o ator reforçou que o seu personagem, mesmo ambíguo e estruturalmente machista, representa um homem do seu tempo — e infelizmente, também do nosso.

A gente procurou construir para ele que ele não fosse tão caricato na figura do mal, do vilão, e que a gente conseguisse se aproximar de um cara muito da época, que não se distancia muito de muitos homens de hoje”, explicou.

A ambiguidade era a chave de interesse. “Ele realmente gosta dessa mulher”, disse Eduardo, sobre Heitor. A trama, que propõe uma relação dupla e a promessa de assumir um filho enquanto mantém uma segunda família, é lida hoje como um desenho nítido do patriarcado mas, na época, poderia soar como algo bom para muitas mulheres.

Eduardo Moscovis discute seu papel em ‘Cyclone’ ‘Não se distancia dos homens de hoje’ (Divulgação/Bretz Filmes/Mar Filmes/Muiraquitã Filmes)

Na conversa, o ator descreveu o convite para atuar em Cyclone como um gesto de confiança afetiva na criação. “É muita gentileza, e são declarações de amor, de admiração”, disse.  “Ser escolhido para um filme como esse, com um personagem tão importante como o Heitor, é um carinho enorme para mim. Um tipo de declaração de amor, sabe?”, celebrou.

Mesmo sem convivência fora do set, Eduardo também ressaltou a oportunidade de dividir a cena com Luiza Mariani, que carrega um laço de duas décadas com a personagem, e a troca construída no respeito artístico. “A gente não tem uma relação muito próxima no dia a dia, a Luiza e eu, mas a gente se gosta muito. Já fizemos alguns trabalhos e sempre foi muito bom.

Para Eduardo, entrar em um projeto tão pessoal exigia escuta, não defesa: “Eu não tinha interesse algum em ficar defendendo o personagem, dizendo: ‘Ele não é assim’. Era mais sobre perguntar: ‘O que vocês pensam? O que eu penso? O que colabora para o filme?’ Foi muito nesse lugar de troca aberta”, contou.

Segundo o ator, a complexidade do seu personagem — machista, ambíguo, manipulador, mas também, em muitos momentos, adorável — foi fundamental para enriquecer o olhar do público sobre Heitor e fortalecer Cyclone: “É preciso contextualizar, até para discutir melhor o machismo. Não dá para botar tudo no mesmo saco e dizer ‘não’. É complexo, é difícil. E não é só isso”, concluiu.

Angelo Cordeiro é repórter do núcleo de cinema da Editora Perfil, que inclui CineBuzz, Rolling Stone Brasil e Contigo. Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas, escreve sobre filmes desde 2014. Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Pisciano, mas não acredita em astrologia. São-paulino, pai de pet e cinéfilo obcecado por listas e rankings.
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