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Cinema / CRÍTICA

Estômago 2 requenta fórmula do antecessor, mas tempero à italiana não funciona

Sequência do filme de 2007 chega aos cinemas nesta quinta-feira (29) e conta com João Miguel, Paulo Miklos e Nicola Siri como protagonistas

Estômago II: O Poderoso Chef requenta fórmula do antecessor, mas tempero à italiana não funciona; leia a crítica - Divulgação
Estômago II: O Poderoso Chef requenta fórmula do antecessor, mas tempero à italiana não funciona; leia a crítica - Divulgação

Dezesseis anos depois, mexeram na geladeira e encontraram uma sobra de Estômago, sucesso de 2007. Que tal requentá-la? Afinal, o brasileiro adora um “soborô” ou um “restodontê”, não é mesmo?

Mas seria uma boa trazer um novo tempero dessa vez, dar uma incrementada, tornar a coisa mais europeia e vendê-la para o mundo. Massa! Refoga aqui, doura ali, adiciona uma pitada de Alecrim acolá — mas bem pouquinho! — e o prato principal está pronto: sirvam-se de Estômago II: O Poderoso Chef. Hmmm… Mas falta algo. Ou será que tem coisa demais?

Qual é a história de "Estômago II: O Poderoso Chef"?

Na nova história de Marcos Jorge, escrita pelo cineasta em parceria com Lusa Silvestre (O Sequestro do Voo 375) e Bernardo Rennó (Abestalhados 2), Raimundo Nonato, novamente vivido por João Miguel, agora é o chef dos chefs na prisão e continua encantando a todos com os seus dotes culinários.

Porém, um mafioso italiano, Dom Caroglio (NicolaSiri, Mulheres Apaixonadas), chega para disputar o controle do presídio, além do privilégio de ser servido pelo prestigiado cozinheiro. Assista ao trailer a seguir:

O que achamos da novidade?

Estômago II possui a mesma estrutura do primeiro filme, o que realmente faz parecer como algo requentado. São duas linhas narrativas: em uma delas acompanhamos o dia a dia da prisão, onde há o embate entre Dom Caroglio e Etcetera (Paulo Miklos, Saudosa Maloca); e na outra, por meio de flashbacks, descobrimos como se deu a ascensão do personagem de Nicola Siri na Itália até a sua fatídica chegada à prisão no Brasil. 

No entanto, essa repetição estrutural acaba se tornando cansativa, principalmente porque os flashbacks não são interessantes. Há uma previsibilidade nas ações e um ar novelesco nos momentos de diálogo que carecem de humor e originalidade.

A origem de Dom Caroglio está longe de funcionar como a origem de Raimundo Nonato funcionou no primeiro. Brincando com filmes de máfia como O Poderoso Chefão (1972), as referências soam como paródias completamente deslocadas.

Além disso, o uso da violência se mostra equivocado. Enquanto no filme anterior tais momentos se mostravam muito mais elegantes e existentes em nome de uma vingança ardilosamente planejada pelo protagonista, aqui ela é banal. Nota-se um mau uso dos ingredientes. Pimenta demais mata qualquer paladar.

Caminho para um terceiro filme

O filme ainda traz uma proposta interessante de criar uma rivalidade entre Brasil/prisão contra Itália/máfia. Colocar dois grupos distintos de poder confinados em um mesmo lugar poderia render bons conflitos, mas acaba parecendo só mais uma forma de apresentar Dom Caroglio e, quem sabe, a depender do sucesso de bilheteria, produzir um terceiro filme.

Segundo Marcos Jorge, há planos para isso e a ideia seria continuar focando em Dom Caroglio, já que o personagem de João Miguel perde bastante espaço. Nonato acaba frito pelo roteiro, relegado às cenas nas quais cozinha algum prato — a do lanche bauru, ao menos, é excelente — ou está em contato com o diretor da prisão.

O personagem perdeu a essência do primeiro filme e nem é mais protagonista da própria história. Parece uma sopa rala, que ficou por dias guardada na geladeira, esquecida, e não tem mais sabor.

Ao final, Estômago II deve sofrer com comparações com seu precursor — e muitas dessas críticas serão válidas, pois a ousadia que havia lá, não existe aqui. Para onde foi aquele espírito genioso e ardiloso de Raimundo Nonato? O tempero italiano adicionado aqui, por mais apetitoso que pareça, é insosso, daqueles que já provamos aos montes por aí. E se tem uma coisa que enjoa, é repetir o mesmo prato. Que o chefe esteja mais inspirado na próxima.

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