CRÍTICA

‘Ladrões’, com Austin Butler, não tem nada de Darren Aronofsky, e isso é muito bom

Novo filme do diretor de mãe! (2017) e A Baleia (2022) chega aos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira, 28 de agosto, com grande elenco

Angelo Cordeiro (@angelocordeirosilva)

'Ladrões', com Austin Butler, não tem nada de Darren Aronofsky, e isso é muito bom
'Ladrões', com Austin Butler, não tem nada de Darren Aronofsky, e isso é muito bom - Divulgação/Sony Pictures

Em sua carreira, Darren Aronofsky (Cisne Negro) sempre foi associado a filmes intensos, sombrios e carregados de angústia existencial. Por isso, surpreende que seu novo longa, Ladrões, seja quase o oposto: um suspense criminal veloz, divertido e até debochado, que mergulha nos anos 1990 com um frescor inesperado. É como se o diretor tivesse decidido brincar com o próprio repertório, testando um terreno mais leve, sem o peso que geralmente acompanha seu cinema. O resultado pode não ser memorável, mas revela um Aronofsky relaxado — e essa é justamente a graça.

Baseado no livro de Charlie Huston, o longa acompanha Hank Thompson (Austin Butler, Elvis), um ex-jogador de beisebol fracassado que, sem querer, se vê envolvido em uma rede de crimes, perseguições e traições. A trama tem tudo que se espera de um thriller urbano: mafiosos caricatos, planos mirabolantes, reviravoltas e até um gato de estimação que rouba a cena. Há ecos de Guy Ritchie (Magnatas do Crime) e dos irmãos Coen (Fargo) em cada reviravolta, mas Aronofsky nunca tenta esconder essas influências — ele as abraça com entusiasmo juvenil, como se estivesse descobrindo o prazer da bagunça narrativa.

Butler é o grande trunfo de Ladrões. Carismático e com uma presença magnética, ele conduz a história com leveza, transitando entre o azarado simpático e o herói improvável. Sua química com Zoë Kravitz (Batman) dá o tom a várias sequências, equilibrando sensualidade e humor. O elenco de apoio também é generoso: Liev Schreiber (O Casal Perfeito), Vincent D’Onofrio (Demolidor), Regina King (Watchmen) e Matt Smith (Doctor Who) se divertem em papéis exagerados, contribuindo para a atmosfera de quadrinhos sujos que o filme parece buscar. Até o rapper Bad Bunny dá o ar da graça interpretando um chefão do crime.

Outro ponto forte é a recriação de Nova York nos anos 1990. O filme capricha nos detalhes de época, desde a trilha sonora do IDLES até os cenários carregados de neon, sujeira e tensão urbana. Há perseguições bem coreografadas e uma energia que raramente deixa o espectador respirar. Mesmo quando a previsibilidade ameaça dominar, Aronofsky injeta estilo suficiente para manter a diversão em alta.

É verdade que o filme soa, em vários momentos, como um exercício de imitação, mais interessado em divertir do que em criar sua própria identidade. Mas talvez seja esse o charme: Ladrões não tenta ser profundo, nem carregar o rótulo de um “filme de Aronofsky”. Ao contrário, o diretor parece se permitir ser apenas um contador de histórias, apostando no ritmo, no exagero e no prazer do entretenimento.

No fim, o que poderia soar como uma contradição — Aronofsky fazendo um filme que não se parece em nada com Aronofsky — acaba sendo um sopro de ar fresco. Ladrões não é uma obra-prima, mas é ágil, divertido e funciona dentro de sua proposta. E se o cinema também serve para o inesperado, ver um cineasta tão identificado com o peso da tragédia mergulhar no caos de um thriller noventista é, no mínimo, uma surpresa bem-vinda.

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Angelo Cordeiro é repórter do núcleo de cinema da Editora Perfil, que inclui CineBuzz, Rolling Stone Brasil e Contigo. Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas, escreve sobre filmes desde 2014. Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Pisciano, mas não acredita em astrologia. São-paulino, pai de pet e cinéfilo obcecado por listas e rankings.
TAGS: Austin Butler, crítica, Darren Aronofsky, ladrões, zoë kravitz