O ano em que o Brasil foi desclassificado do Oscar por um desentendimento
Confusão acabou tirando Pixote: a Lei do Mais Fraco, longa de Hector Babenco, da disputa por uma estatueta de ouro na premiação
Angelo Cordeiro (@oangelocinefilo)
Publicado em 01/03/2025, às 17h00
Neste domingo, dia 2 de março, acontece a 97ª edição do Oscar e, neste ano, o Brasil tem grandes chances de conquistar a sua primeira estatueta de ouro: Ainda Estou Aqui, longa de Walter Salles (Central do Brasil), está indicado em três categorias, incluindo Melhor Filme, a principal honraria da maior premiação do cinema.
No passado, no entanto, o Brasil chegou bem perto de conquistar o cobiçado "careca de ouro", mas Pixote: A Lei do Mais Fraco, longa de Hector Babenco (1946-2016) lançado em 1980, acabou desclassificado por um desentendimento.
O Brasil já foi indicado à categoria de Melhor Filme Estrangeiro — hoje conhecida como Melhor Filme Internacional — em quatro ocasiões: em 1963, com O Pagador de Promessas (1962); em 1996, com O Quatrilho (1995); em 1998, com O Que é Isso, Companheiro? (1997) e, em 1999, com Central do Brasil (1998). Porém, foi em 1982 que o país esteve mais perto de sair vencedor... Justo quando acabou desclassifcado.
Pixote: A Lei do Mais Fraco foi o filme selecionado pela Embrafilme para concorrer a uma vaga ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro em 1982. No entanto, desde o início dos anos 1980, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, havia deixado suas regras para os filmes estrangeiros mais rígidas, limitando a janela de lançamento para os filmes de outros países.
Para que um filme estrangeiro concorresse ao Oscar de 1982, ele deveria ser lançado em seu país de origem entre os dias 1º de novembro de 1980 e 1º de outubro de 1981, ficando pelo menos sete dias em cartaz com venda de ingressos.
Quando estreou nos Estados Unidos, em 1981, Pixote: A Lei do Mais Fraco teve uma recepção muito positiva do público e da crítica, com o nome da atriz Marília Pera chegando a ser cogitado a uma nomeação à parte na premiação.
Porém, o que parecia ser um sonho prestes a se tornar realidade acabou se transformando em frustração. Alguns dias após o Brasil confirmar a submissão do filme como candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, a Academia emitiu um telegrama à Embrafilme informando que o filme não cumpriu os requisitos da data de estreia no Brasil e, portanto, estava desclassificado.
A Embrafilme, então, solicitou uma reunião à Academia para entender o motivo da desclassificação e a explicação veio: Pixote: A Lei do Mais Fraco teria estreado no Brasil em setembro de 1980, quando só poderia ter sido lançado a partir de novembro daquele mesmo ano.
Representantes da Embrafilme alegaram que a suposta estreia antecipada de Pixote: A Lei do Mais Fraco no Brasil era uma "preview" — conforme constava no regulamento da Academia —, o que, no entendimento deles, era uma pré-estreia.
No entanto, para a Academia, a palavra "preview" significava uma exibição-teste ou, no máximo, um evento bastante exclusivo, como a exibição do filme para os patrocinadores ou elenco, e considerou que o filme, de fato, havia estreado antes do período permitido. Com isso, a campanha para o Oscar foi desmontada e a estatueta de ouro voltou a se transformar em um sonho distante.
Mesmo fora do Oscar, Pixote: A Lei do Mais Fraco conseguiu ser indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1982, mas perdeu o prêmio para o britânico Carruagens de Fogo (1981). Na maior premiação do cinema, o "careca de ouro" foi para o húngaro Mephisto (1981).
Especial de cinema da Rolling Stone Brasil
O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.
Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: “Alegria”.
O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.
O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:
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