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Cinema / CRÍTICA

O Corvo mira no romance trágico, mas acerta na fanfic chinfrim

Estrelada por Bill Skarsgård (It: A Coisa) e a cantora FKA Twigs (Honey Boy), novidade chega aos cinemas nesta quinta-feira (22)

O Corvo mira no romance trágico, mas acerta na fanfic chinfrim; leia a crítica - Divulgação/Imagem Filmes
O Corvo mira no romance trágico, mas acerta na fanfic chinfrim; leia a crítica - Divulgação/Imagem Filmes

Desculpem o uso da palavra "chinfrim", que muitos dos mais novos talvez nunca a tenham ouvido, mas não vejo adjetivo melhor para classificar a nova adaptação de O Corvo, inspirada nos quadrinhos de James O'Barr, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (22).

Dirigido por Rupert Sanders (Branca de Neve e o Caçador e A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell), o longa estrelado por Bill Skarsgård, o Pennywise de It - A Coisa (2017), e pela cantora FKA Twigs (Honey Boy), com certeza encontrará naqueles e naquelas que gostam das fanfics publicadas no Wattpad o seu público mais cativo.

Na história, escrita por Zach Baylin (Gran Turismo) e o iniciante William Josef Schneider, as almas gêmeas Eric Draven (Bill Skarsgård) e Shelly Webster (FKA Twigs) são brutalmente assassinadas quando os demônios de seu passado sombrio os alcançam. Atravessando os mundos dos vivos e dos mortos, Draven retorna em busca de vingança sangrenta contra os assassinos.

Trágico e romântico, não é? Mas fica só na ideia mesmo — e nem dá pra dizer que ela é boa, dado que essa nova adaptação é praticamente um reboot do filme lançado em 1994, protagonizado por Brandon Lee, e que foi se tornou um clássico cult com o passar dos anos.

Afinal, o que essa nova fita pretende? Difícil dizer mesmo após assisti-la. O enredo mira no romance — ora piegas, ora forçado — e faz pouco dele. Parece mesmo algo idealizado por uma mente juvenil, que enxerga o amor como salvação de tudo. A história é tão juvenil que algumas situações são completamente inverossímeis.

Em dado momento, os ossos pombinhos — ou corvinhos? — foge de onde estão internados como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Ninguém os vê. Ninguém os persegue. Eles desfilam com as roupas da instituição no meio das pessoas e ninguém os nota.

Diferentemente da versão  de 1994, esse novo O Corvo não encontra na trilha sonora uma aliada, que poderia dar uma aura gótica aos momentos de ação e romance. Nomes como Enya, PostMalone, Ozzy Osbourne e Travis Scott são ótimos para tocar no Spotify e mandar aquela indiretinha pro crush no Instagram. Porém, as letras de suas músicas junto às cenas conseguem tornar tudo ainda mais expositivo.

Esse é um dos grandes problemas do filme —  se não for o maior deles: as imagens não têm força e isso, no cinema, é decepcionante. Aí entram os diálogos e as letras das canções, que servem de muleta para que o roteiro ganhe algum significado. Parece que nem mesmo os criadores da história tinha confiança no que estavam realizando. Skarsgård e FKA dependem de músicas exageradamente românticas para que nos digam o que sentem um pelo outro.

Alguns dizem que o Corvo mistura características do Batman e do Coringa, seja pela justiça ou o apreço pelo caos, ambos em nome de uma vingança particular. No entanto, o que vive no Corvo de Skarsgård é o Coringa de Jared Leto: muitas tatuagens e uma pinta de playboy metido a malvado, que não cola.

É bizarro como um ator que manda tão bem como o palhaço Pennywise esteja tão qualquer coisa aqui. O diretor Rupert Sanders afirmou, em entrevista divulgada junto dos materiais de publicidade, que gosta de como o protagonista se transforma devido à sua perda. Essa transformação, no entanto, mal é notada pelo espectador.

Se você tiver a oportunidade de assistir ao longa protagonizado por Brandon Lee, perceba como ele tem toda uma aura mórbida aliada à morte de seu personagem principal. A estética não é apenas gótica, é também fantasmagórica. Por vezes, o filme parece um videoclipe de alguma banda grunge, o que faz total sentido para uma fita dos anos 1990!

Nesse caso, não estamos falando de qualquer diretor de fotografia, não é? Dariusz Wolski — da franquia Piratas do Caribe e de Prometheus — é o responsável por esse tom junto de uma equipe de arte que têm no currículo trabalhos como Clube da Luta, Minority Report e A Noiva Cadáver, enquanto muitos dos nomes envolvidos neste O Corvo mal colecionam créditos.

Não gosto de dizer que sou contra remakes e reboots, desde que sejam bem feitos, mas aqui fica óbvio que os nomes envolvidos não estão contando uma história digna de O Corvo, baseando-se na obra de 1994, mas um romance mal escrito e que, por acaso, faz menção à ave preta.

Mas faz mesmo? O corvo — que, para muitos, é sinal de mau agouro — é mero detalhe na história. Os roteiristas parecem ter se esquecido da importância simbólica do animal e fica por isso mesmo. Para eles, é mais importante se apegar à história do tal amor que nunca morre e vender a premissa de uma adaptação moderna da graphic novel.

Volto a dizer, é possível que alguns até aproveitem a proposta, por pior que ela seja, mas eu acredito que o público de hoje, ainda que seja fascinado por fanfics, mereça algo melhor que o resultado final desse novo O Corvo.


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