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Cinema / CRÍTICA

O Sequestro do Voo 375 prova que o Brasil não deve nada para Hollywood

Baseado em uma história real, longa dirigido por Marcus Baldini (Bruna Surfistinha) chega aos cinemas nesta quinta-feira (7); leia a crítica

Henrique Nascimento (@hc_nascimento)
por Henrique Nascimento (@hc_nascimento)
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Publicado em 05/12/2023, às 17h00 - Atualizado em 07/12/2023, às 10h15

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O Sequestro do Voo 375 prova que o Brasil não deve nada para Hollywood; leia a crítica do filme (Foto: Divulgação/Star Distribution Brasil)
O Sequestro do Voo 375 prova que o Brasil não deve nada para Hollywood; leia a crítica do filme (Foto: Divulgação/Star Distribution Brasil)

Com uma arma na bolsa e o coração cheio de ressentimento, o maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição entrou no voo 375 da Vasp, em 29 de setembro de 1988, que tinha o Rio de Janeiro como destino. Cerca de vinte minutos após decolar, o jovem de 28 anos, que trabalhava como tratorista e tinha uma filha de poucos anos de idade, mudou a rota da aeronave: o destino agora era o Palácio do Planalto, em Brasília, e o avião deveria pousar sobre a cabeça de José Sarney, então presidente do Brasil.

O enredo de O Sequestro do Voo 375, que foi produzido por Joana Henning, do Estúdio Escarlate, e exibido pela primeira vez no Festival do Rio, realizado entre os dias 5 e 15 de outubro no Rio de Janeiro, parece ficção, mas não é. Bem menos lembrado do que o 11 de setembro, nos Estados Unidos, o episódio ficou marcado na história da aviação brasileira e agora foi recuperado através do trabalho de mais de uma década do pesquisador Constâncio Viana em um filme de fazer inveja a grandes produções hollywoodianas, que chega aos cinemas a partir desta quinta-feira, dia 7 de dezembro.

A novidade retrata os momentos antes, durante e depois do sequestro da aeronave, mas o foco fica mesmo no acontecimento. Jorge Paz, de Marighella (2019), é quem dá vida a Nonato, enquanto Danilo Grangheia, da série Irmandade (2019-), interpreta comandate Murilo, que precisa arrumar um jeito de salvar todas as vidas a bordo de uma situação inesperada, que ele jamais poderia imaginar viver ao, finalmente, retornar ao trabalho depois de um período de dificuldade.

Completando a trinca de personagens principais está a controladora de tráfego aéreo Luzia, na pele de Roberta Gualda (O Rei da TV), que acaba responsável por negociar com Nonato para que ele mude de ideia e desista do atentado. Apesar de ser um filme de ação - com cenas de fazer o espectador ficar na ponta da cadeira e perder o fôlego -, o envolvimento entre esses três personagens, muito bem costurado pelo roteiro de Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque, transforma O Sequestro do Voo 375 em uma produção muito mais profunda e, especialmente, humana.

Em diversos momentos de interação entre os três, o público se dá conta da complexidade de toda a situação. O caso de Nonato, por exemplo: se tivesse escolha, provavelmente não faria o que fez. Mas ele é um pai de família desesperado, sem poder ajudar a sua mãe e a sua filha, que estão passando fome, e sem perspectiva alguma de melhora, o que o leva a um ato suicida, com a intenção de resolver o seu problema ou, ao menos, confortar o seu coração.

MuriloLuzia reconhecem isso e, de certa forma, se solidarizam com o sequestrador, embora estejam tentando, ao mesmo tempo, controlar o desespero de Nonato para que todos saiam vivos daquela situação dramática. Ao final do filme, mesmo que as ações do personagem não sejam escusáveis, fica difícil cravar quem era realmente o vilão da história, em um contexto geral, o que rende assunto para belas discussões.

Tanto narrativa quanto visualmente, O Sequestro do Voo 375 é um espetáculo. Alguns espectadores mais perfeccionistas podem se incomodar com os efeitos especiais empregados na obra, mas considero algo tão pequeno em comparação à importância que esse filme tem ao chegar às salas de cinema de todo o país.

Não é todos os dias que vemos uma produção com esse nível de qualidade, tão bem amarrada em diversos aspectos, deixar os estúdios brasileiros. Portanto, acredito que o momento seja de se orgulhar e torcer para que, futuramente, o audiovisual brasileiro seja visto com mais carinho, consiga mais investimento e, quem sabe, em algum tempo não tão distante, passe a substituir Hollywood como padrão de qualidade. A vontade, como podemos ver agora, existe.