O último ano em que se fez cinema de verdade, segundo Tarantino
Cineasta tem visão crítica a respeito da indústria cinematográfica contemporânea e traçou paralelo com outro ano negativo ainda no século 20
Igor Miranda (@igormirandasite)
Publicado em 19/02/2025, às 18h23
Todo tipo de arte passa por alguma discussão a respeito de sua “morte”. Com a chegada do streaming, há um debate forte a respeito do “fim” da música e do cinema, já que a forma de consumo se alterou bastante.
Quentin Tarantino parece ser adepto ao pensamento mais pessimista. O conceituado diretor chegou a dizer, em recente entrevista, que 2019 foi o último ano em que se fez cinema de verdade.
O comentário foi feito durante participação no Festival de Cinema de Sundance, no fim do último mês de janeiro (via NME). O assunto surgiu após ele destacar, inicialmente, que espera seus filhos ficarem mais velhos para voltar a trabalhar no que deve ser o décimo e último longa-metragem de sua carreira.
“Não tenho pressa. Faço isso há 30 anos. Tenho um filho de 5 anos e uma de 2 anos e meio. Quando estou nos Estados Unidos, estou escrevendo. Em Israel, sou pai. A ideia de embarcar em uma viagem no momento em que eles ainda são muito jovens para entender não me atrai. Não quero fazer qualquer filme até que meu filho tenha pelo menos 6 anos. Dessa forma, ele saberá o que está acontecendo, estará lá e será uma lembrança para o resto da vida dele.”
Ainda na ocasião, Tarantino revelou que estava escrevendo o roteiro de uma peça — o que deve ser seu próximo projeto. Caso a história em questão faça sucesso, uma adaptação cinematográfica pode ocorrer. Apesar disso, falta entusiasmo para trabalhar em um cenário que, em sua visão, está em decadência.
“Bem, que p#rra é um filme agora? Algo que passa nos cinemas por um lançamento simbólico por quatro semanas? Tudo bem. E aí na segunda semana você pode assistir na televisão. Não entrei nisso para retornos decrescentes. Quer dizer, foi ruim o suficiente em 1997. Foi ruim o suficiente em 2019, e esse foi o último ano dos filmes.”

Alguns lançamentos curiosos marcaram 2019. Foi o ano em que Tarantino lançou seu longa-metragem mais recente, Era Uma Vez em… Hollywood. No mesmo período, chegou a público um dos filmes de maior arrecadação em todos os tempos: Vingadores: Ultimato, responsável por render US$ 2,799 bilhões em bilheteria.
A partir do ano seguinte, a indústria cinematográfica realmente enfrentou uma série de desafios, em especial devido à pandemia de covid-19. Ainda assim, obras lançadas posteriormente atingiram excelentes resultados comerciais, a exemplo de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021), Avatar: O Caminho da Água (2022) e Divertida Mente 2 (2024).
A vida atual de Quentin Tarantino
Quentin Tarantino mora em Israel desde o nascimento de seu filho em 2020. Dois anos antes, ele se casou com a cantora israelense Daniella Pick em 2018.
Ao longo de sua carreira, o diretor sempre afirmou que iria gravar apenas dez filmes. Na prática, ele já atingiu essa meta, mas os dois volumes de Kill Bill são considerados um projeto só.
Especulou-se que a obra final de Tarantino, supostamente intitulada The Movie Critic, abordaria a história da crítica Pauline Kael, influência do cineasta. Porém, de acordo com o Deadline, ele desistiu da ideia. O ator Brad Pitt seria um dos protagonistas.
+++ LEIA MAIS: O ícone do rock que inspirou a carreira de Tarantino
+++ LEIA MAIS: O aclamado filme que Tarantino se recusa a assistir
+++ Siga a Rolling Stone Brasil @rollingstonebrasil no Instagram
+++ Siga o jornalista Igor Miranda @igormirandasite no Instagram