Oeste Outra Vez cria Velho Oeste brasileiro para gerar reflexão sobre masculinidade
Vencedor do Festival de Gramado de 2024, o filme estrelado por Ângelo Antônio e Babu Santana estreou nesta quinta, 27, nos cinemas
Lívia Soriano
Publicado em 27/03/2025, às 16h15
Com o crescimento da procura pelo cinema nacional desde Ainda Estou Aqui (2024), é impossível não comentar sobre os próximos lançamentos brasileiros merecedores de destaque. Dentre eles, temos Oeste Outra Vez, vencedor da categoria Melhor Filme na 53ª edição do Festival de Cinema de Gramado.
Escrito e dirigido por Erico Rassi, o filme conta a história de dois homens do sertão de Goiás, Totó (Ângelo Antônio) e Durval (Babu Santana), deixados pela mesma mulher e agora enfrentam a difícil tarefa de lidar com seus sentimentos de abandono e frustração. Desolados, os dois se veem prestes a iniciar uma disputa física com o intuito de aliviar as dores de solidão.
Diferente dos clássicos filmes de faroeste norte-americanos, cujo foco é demonstrar a bravura dos homens por meio da força, tanto física quanto bélica, o longa-metragem escolhe uma abordagem bastante diferente. Os personagens de Erico Rassi passam por um processo de aceitação que acontece de forma sorrateira, com um sutil toque de humor. Esse processo que não seria possível sem Jerominho (Rodger Rogério) e a participação especial de Antonio Pitanga como Ermitão.
Ao longo do filme, a história introduz a relação de Totó com Jerominho. Enquanto a relação cresce com o tempo de convivência, o personagem de Ângelo Antônio passa a se abrir lentamente e encontrar espaço para diálogo com um pistoleiro aposentado que divide o mesmo fardo: as amarras da palavra “saudade”.
- Você já gostou de alguém?
- Só de longe.
- Como assim?
- Sem a pessoa saber…
Em termos visuais, é impossível falar de Oeste Outra Vez sem aclamar a direção de arte de Carol Tanajura que faz uso dos tons pasteis, clássicos do estilo Western americano, criando uma fusão com elementos da cultura brasileira, e da direção de fotografia de André Carvalheira, que muitas vezes utiliza o plano aberto transmitindo a dor de se sentir à deriva na beleza do sertão goiano.
A trilha sonora do longa exerce uma função crucial para compreender o sentimento das personagens, agindo quase que como uma legenda daquilo que não é dito pelos protagonistas. E por isso, a escolha da música “Tudo Passará”, de Nelson Ned, serve a narrativa como um chapéu feito sob medida.
“Como é que alguém pode roubar uma mulher, seu Antônio?” O filme brilha ao expor a ideia de que os homens colocam a mulher como um objeto de posse e culpam uns aos outros, em vez de procurarem a reflexão enquanto dividem doses de cachaça e chupam metade de um limão.
Em palavras de Antônio Pitanga, “Oeste mostra, de uma certa maneira, uma discussão do porquê dessa brutalidade, mas também uma leveza, é um Oeste que não é um Oeste americano, é um Oeste brasileiro”.
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