Os 30 melhores filmes LGBTQIAPN+ para ver com orgulho, segundo Rolling Stone
Para celebrar o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+, comemorado em 28 de junho, confira uma lista com os melhores filmes com a temática
Henrique Nascimento (@hc_nascimento)
O dia 28 de junho é marcado como o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+. A data remonta à Rebelião de Stonewall, que ocorreu em 1969 na cidade de Nova York, e se tornou um verdadeiro marco na luta pelos direitos da comunidade.
Para celebrar a data, a Rolling Stone Brasil selecionou os 30 melhores filmes com a temática, que contam diferentes histórias estreladas por personagens LGBTQIAPN+. Confira a seguir:
30. Parceiros da Noite (1980)
Qual filme pode se gabar de ter Al Pacino (Fogo Contra Fogo) mergulhando de cabeça no submundo underground dos clubes gays de Nova York no fim dos anos 1970? Parceiros da Noite é essa viagem inquietante!
Sombrio, provocador e cheio de tensão, o longa acompanha um detetive infiltrado numa cena marcada por desejos intensos, códigos secretos e perigos escondidos. É um thriller que mistura suspense policial com uma exploração crua da sexualidade e do medo, numa época em que o cinema raramente ousava mostrar o universo LGBTQIAPN+ com tanta coragem.
Mas Parceiros da Noite vai muito além do suspense: o filme causou polêmica, abriu debates e desafiou tabus sobre identidade, violência e preconceito, tudo em um cenário em que a comunidade LGBTQIAPN+ ainda era invisibilizada ou estigmatizada.
Apesar das críticas da época, o longa se tornou um clássico cult, virando referência fundamental para quem quer entender como o cinema começou a dialogar, mesmo que de forma controversa, com temas sensíveis e urgentes para o público queer. — Angelo Cordeiro

29. Fundo do Poço (2023)
Em Fundo do Poço, Gary (Zachary Quinto, Heroes), um advogado que se descobriu gay tardiamente, contrata um garoto de programa para lhe fazer uma massagem erótica. Porém, ao descobrir que o cliente é inexperiente no mundo queer, Cameron (Lukas Gage, Acompanhante Perfeita) decide submetê-lo a um “curso intensivo” sobre ser gay, especiamente após descobrir que Gary não tem muito tempo de vida.
Uma divertidíssima comédia de erros, Fundo do Poço trata com leveza o drama de Gary que, para ser socialmente aceito, precisou anular a sua própria existência. Surpreendentemente emotivo, o longa ainda entrega um final de arrancar lágrimas, que nos faz considerar o quão curta é a vida para não vivê-la plenamente. — Henrique Nascimento

28. Weekend (2011)
Responsável pela série Looking (2014-2015) e o emocionante Todos Nós Desconhecidos (2023), mais adiante nesta lista, Andrew Haigh é alguém que sabe como abordar as diferentes vivências de pessoas LGBTQIAPN+, especialmente homens gays, como é seu caso.
Temáticas recorrentes na filmografia do cineasta britânico, a solidão do homem gay e a dificuldade de criar conexões na vida adulta são abordados em Weekend, em que somos apresentados a Russell (Tom Cullen, Meu Filho) e Glen (Chris New, New Blood), que se conhecem em um clube noturno e o que era para ser apenas um encontro casual acaba se transformando em algo especial, mesmo que a vida tenha outros planos para os dois. — H. N.

27. Praia do Futuro (2014)
Dirigido por Karim Aïnouz (Motel Destino), a partir do roteiro do cineasta em parceria com Felipe Bragança (O Céu de Suely) e Marco Dutra (As Boas Maneiras), Praia do Futuro, estrelado por Wagner Moura (O Agente Secreto), explora as nuances das relações humanas, da identidade pessoal e do impacto do passado no presente.
Através da história do salva-vidas Donato (Moura), que se afasta de seu irmão caçula, Ayrton (Jesuíta Barbosa, Homem com H), para viver com o alemão Konrad (Clemens Schick, Andor), o longa traz uma profunda reflexão sobre amor, saudade e o desejo de encontrar um lugar onde se pertença verdadeiramente. — A. C. & H. N.

26. The Watermelon Woman (1996)
Dirigido, roteirizado e protagonizado por Cheryl Dunye, o filme acompanha uma jovem cineasta negra lésbica tentando descobrir quem foi a atriz apagada dos anos 1930 conhecida apenas como “Watermelon Woman”. Enquanto mergulha nesse passado distorcido e racista de Hollywood, ela também vive sua própria história de desejo, afeto e afirmação.
Mais que uma busca pessoal, The Watermelon Woman é um manifesto sobre representatividade, apagamento e o direito de escrever nossas próprias narrativas. O filme entrou para a história como o primeiro longa-metragem dirigido por uma mulher negra e lésbica, e virou um clássico absoluto do cinema LGBTQIAPN+. Com humor, leveza e muita inteligência, segue inspirando cineastas e mostrando como o ato de contar uma história pode ser, ao mesmo tempo, arte e resistência. — A. C.

25. A Lei do Desejo (1987)
Uma lista de cinema LGBTQIAPN+ tem que ter Pedro Almodóvar em estado puro: exagerado, intenso, sensual e totalmente sem medo de mergulhar nesse universo. Em A Lei do Desejo, o cineasta espanhol conta uma história de amor gay cheia de paixão, ciúmes, obsessão, desejo e crimes, embalada naquela estética colorida e dramática que só ele sabe fazer. É um filme que diz, logo de cara, que “o desejo é caótico, mas é o que move a gente”, e coloca os seus personagens no centro disso tudo, sem tratar ninguém como vítima ou coadjuvante.
A Lei do Desejo é um filme sem pudores, que celebra o amor, o sexo e os dramas entre homens gays com naturalidade e força, num período em que a maioria dos filmes ainda colocava o tema no armário. Na verdade, até hoje, Almodóvar ainda é coisa rara. O diretor dá dignidade aos seus personagens justamente por não idealizá-los: eles erram, sofrem, amam demais, enlouquecem, vivem. E isso é libertador. O longa ajudou a firmar o nome do diretor como um dos grandes aliados da visibilidade LGBTQIAPN+. É aquele clássico que até hoje respira vida e desejo. — A. C.

24. Uma Nova Amiga (2014)
Em Uma Nova Amiga, o cineasta francês François Ozon (Jovem e Bela) emula Pedro Almodóvar. Esse é daqueles filmes que começam meio discretos e, quando você percebe, já está completamente fisgado. Ozon nos entrega uma história que brinca com identidade, gênero e desejo de um jeito leve, provocador e, acima de tudo, humano.
Na trama, Claire (Anaïs Demoustier, O Conde de Monte Cristo) perde sua melhor amiga para uma doença e resolve se aproximar do marido dela (Romain Duris, O Albergue Espanhol) para, juntos, lidarem com o luto. Esta proximidade acaba por revelar um segredo íntimo e surpreendente do viúvo.
Sem dar grandes explicações, a história vai ganhando camadas inesperadas. É aquele tipo de narrativa que desconstrói caixinhas e joga na tela o recado: a identidade de gênero e o amor são muito mais fluidos do que costumam tentar nos convencer.
Uma Nova Amiga é um convite bonito e instigante a questionar nossos próprios limites de aceitação, sem moralismos, mostrando como as relações podem se transformar quando nos permitimos ver o outro além das normas. Um filme que seduz pela beleza, surpreende pela coragem e fica com você depois dos créditos. — A. C.

23. Um Estranho no Lago (2013)
Considerado uma obra à la Hitchcock por alguns, Um Estranho no Lago entrega um suspense erótico tenso, elegante e hipnótico. Às margens de um lago isolado na França, homens se encontram em busca de prazer e companhia, mas o que começa como desejo vai aos poucos se transformando num jogo perigoso de obsessão e mistério. Sem música, com longos silêncios e uma atmosfera carregada, o filme cria uma tensão constante enquanto explora as complexidades do desejo gay, do risco e da vulnerabilidade.
Além de seu impacto estético e narrativo, o filme virou referência no cinema queer por tratar o sexo e o desejo entre homens de forma franca, sem suavizações ou moralismos. Destaque em Cannes, Um Estranho no Lago rompeu barreiras ao misturar erotismo e suspense psicológico com profundidade e respeito, trazendo para o centro da tela experiências que por muito tempo foram marginalizadas no cinema mainstream. — A. C.

22. Felizes Juntos (1997)
Felizes Juntos é daqueles filmes que marcam antes e depois no cinema LGBTQIAPN+. Em 1997, Wong Kar-Wai (Amor à Flor da Pele) entregou um romance gay que não se preocupa em ser didático ou bonitinho. O lona é intenso, confuso, cheio de amor, mágoa, desejo e desencontros, exatamente como muitos relacionamentos são, e ver dois homens vivendo isso na tela, com toda a estética linda e melancólica de Buenos Aires, foi revolucionário.
Num tempo em que histórias LGBTQIAPN+ quase não tinham espaço, esse filme veio com uma honestidade brutal, sem pedir licença, dizendo: o amor deles também importa, com todas as suas imperfeições. E essa é a força de Felizes Juntos até hoje. Ele não tenta encaixar o casal em estereótipos de coitados ou de exemplo. Mostra pessoas reais, com sentimentos bagunçados e complexos, que a gente reconhece, independentemente de quem ame.
É cinema que dói, mas acolhe. Que aperta o peito, mas também dá aquele quentinho de representatividade verdadeira. Por isso ele segue sendo uma referência gigante na cena queer: a gente ainda precisa de filmes que falem com essa coragem e beleza. — A. C.

21. Pariah (2011)
Em Pariah, a diretora Dee Rees (Bessie) dá voz e visibilidade a uma realidade que poucas vezes foi mostrada no cinema: a história de uma jovem negra e lésbica tentando se encontrar no meio do caos da adolescência e da família. O filme não só traz uma protagonista forte e cheia de nuances, como também mostra com sinceridade o conflito entre identidade, desejo e aceitação, sem romantizar nem simplificar nada. Pariah é aquele tipo de filme que chega na cara da sociedade e diz: “Olha, minha história importa e merece ser contada com respeito e verdade”.
E é justamente essa coragem que faz de Pariah um marco ao mostrar descobertas: ele abraça as dores, as dúvidas e a beleza do processo de se assumir, especialmente em um contexto em que o racismo e o machismo também pesam. A gente vê a protagonista de Adepero Oduye vivendo tudo isso com uma autenticidade brutal, e isso é capaz de inspirar muita gente a se reconhecer, a se aceitar e a se sentir representada de verdade na tela. Pariah é puro empoderamento e segue sendo referência para quem busca histórias LGBTQIAPN+ com representatividade. — A. C.

20. Pedágio (2023)
No longa de Carolina Markowicz (Ninguém Tá Olhando), Suellen (Maeve Jinkings, DNA do Crime) trabalha como uma cobradora de pedágio e percebe que pode usar o seu trabalho para fazer uma renda extra ilegalmente e financiar a ida de seu filho, Tiquinho (Kauan Alvarenga, O Órfão), a um caríssimo programa de cura gay, ministrado por um famoso pastor estrangeiro.
Através de uma história potente, Pedágio retrata a opressão e a violência sofrida pela população LGBTQIPAN+ frente às incoerências e atrocidades promovidas pela sociedade, especialmente nos últimos anos. — A. C. & H. N.

19. Os Rapazes da Banda (1970)
Os Rapazes da Banda é praticamente um clássico fundador quando falamos de representatividade gay no cinema. Lá em 1970, quando quase não existia espaço para personagens e histórias LGBTQIAPN+ nas telas, esse filme reuniu um grupo de amigos gays num apartamento e deixou a câmera captar suas dores, seus afetos, suas neuroses e suas alegrias.
É um recorte superíntimo, com diálogos afiados, cheio de provocações e também de muita humanidade. E mesmo com o peso dos conflitos, o filme teve a ousadia de colocar homens gays no centro da história, como protagonistas de suas próprias vidas, o que, para a época, foi revolucionário.
O que faz Os Rapazes da Banda seguir relevante e de dar orgulho é justamente essa mistura agridoce de tensão, humor e franqueza. Ele mostra um pedaço da comunidade gay lidando com os próprios traumas e afetos num mundo que ainda os rejeitava, mas sem esconder suas complexidades.
É uma história que ajudou a abrir caminho para muitas outras narrativas, com todas as suas contradições, e que até hoje gera discussões sobre visibilidade, estereótipos e avanço da representação LGBTQIAPN+ nas telas. Um daqueles registros históricos que, mesmo datados em alguns aspectos, seguem indispensáveis na prateleira de cinema queer. — A. C.

18. The Rocky Horror Picture Show (1975)
Considerado um dos grandes musicais do cinema, The Rocky Horror Picture Show é um ícone absoluto da cultura queer e do cinema cult. Um musical delirante onde tudo — absolutamente tudo — é permitido: Dr. Frank-N-Furter, vivido com maestria por Tim Curry (It), comanda um verdadeiro carnaval de prazer, liberdade e transgressão. Com direito a roupas de couro, salto alto, batom vermelho e o famoso Time Warp, o filme convida todo mundo a jogar fora qualquer norma de gênero, sexualidade ou bom senso.
O filme virou um verdadeiro ritual coletivo mundo afora, com exibições interativas, fãs fantasiados e muita energia libertária que perdura até hoje, 50 anos após o seu lançamento. É uma celebração anárquica da diversidade, do prazer e do direito de ser — e parecer — quem quiser, numa época em que o cinema ainda engatinhava na representação LGBTQIAPN+. Um monumento do camp, do escracho e da ousadia queer, que segue firme como um dos maiores símbolos de liberdade da história do cinema. — A. C.

17. Infâmia (1961)
Infâmia é daqueles clássicos que marcaram época por ousar tocar em um tema praticamente proibido no cinema de Hollywood dos anos 1960: a suspeita de um romance entre duas mulheres. No centro da história estão Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo) e Shirley MacLaine (Se Meu Apartamento Falasse), impecáveis como duas professoras de um colégio de meninas, cuja amizade vira alvo de fofocas cruéis. A simples insinuação da homossexualidade é suficiente para destruir suas vidas, num retrato brutal da homofobia e do peso do preconceito social.
Mesmo feito num tempo de muita censura, o filme abriu caminho para que temas LGBTQIAPN+ começassem a ser discutidos no cinema. Infâmia é considerado um marco na história da representação queer, não só pela delicadeza com que aborda o drama das personagens, mas também por escancarar o poder destrutivo da intolerância. Até hoje é lembrado como uma obra corajosa, que plantou sementes para o avanço da visibilidade LGBTQIAPN+ na indústria cinematográfica. — A. C.

16. Hedwig: Rock, Amor e Traição (2001)
Hedwig: Rock, Amor e Traição é uma aula de cinebiografia, ainda que o cinebiografado seja um personagem puramente ficcional. No centro dessa ópera glam está Hedwig, uma cantora punk transgênero da Alemanha Oriental, que atravessa o oceano e o próprio passado em busca de amor, reconhecimento e identidade. Tudo isso embalado por uma trilha sonora poderosa e performances inesquecíveis, com músicas que viraram hinos instantâneos da cena queer.
Muito mais do que um musical estiloso, Hedwig virou um clássico cult instantâneo por sua forma corajosa de tratar temas como fluidez de gênero, abandono, trauma e desejo de pertencimento, tudo com um humor ácido e uma força emocional enorme.
Dirigido e estrelado por John Cameron Mitchell, o filme é um verdadeiro grito de liberdade e autoaceitação. No universo LGBTQIAPN+, Hedwig ocupa um lugar de honra: é arte queer na sua forma mais criativa, vulnerável e absolutamente inesquecível. — A. C.

15. Divinas Divas (2016)
Dirigido pela atriz Leandra Leal, Divinas Divas explora a história de oito artistas transformistas brasileiras, que revolucionaram a cena LGBTQIAPN+ e teatral do país entre as décadas de 1960 e 1970.
A produção acompanha as vidas, as carreiras e os legados de Rogéria, Jane Di Castro, Divina Valéria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios, que foram pioneiras em romper com tabus em uma época de forte repressão social e política no Brasil.
Divinas Divas também é uma emocionante despedida à maioria do grupo: das oito artistas retratadas, apenas Divina Valéria e Eloína dos Leopardos estão vivas em 2025. Marquesa faleceu logo após as filmagens do documentário e é homenageada na obra, inclusive estampando o pôster oficial do longa. — H. N.

14. Deserto Particular (2021)
Pré-indicado ao Oscar em 2021, Deserto Particular é uma emocionante história sobre encontrar a si mesmo. O longa de Aly Muritiba (Cangaço Novo) gira em torno de Daniel (Antonio Saboia, Ainda Estou Aqui), um homem que se divide entre os cuidados com o pai debilitado e a luta para se reerguer após perder o seu emprego como policial por se envolver em problemas.
No meio dos conflitos, a sua salvaguarda é o relacionamento com a misteriosa Sara, uma mulher com quem troca mensagens, mas nunca encontrou pessoalmente. Dedicido a encurtar a distância, Daniel viaja até a cidade em que ela vive, à sua procura, em uma jornada sensível de amadurecimento, em que enfrenta os desejos e os preconceitos que moldaram a sua vida, impedindo-o de ser quem realmente é. — H. N.

13. Reino de Deus (2017)
Bastante associado a O Segredo de Brokeback Mountain, Reino de Deus (God’s Own Country) se desvia da tragédia da história de Ennis Del Mar e Jack Twist para construir um romance delicado, sincero e, em certos momentos, até bastante inocente.
Na história, Johnny (Josh O’Connor, Rivais) trabalha isolado na fazenda de sua família e, em seu tempo livre, desconta as frustrações de sua vida em bebidas e sexo casual com estranhos. Porém, quando o pai de Johnny contrata o imigrante romeno Gheorghe (Alec Secăreanu, Espião/Mestre), que desperta sentimentos nunca experienciados pelo rapaz antes. — H. N.

12. Bixa Travesty (2018)
Dirigido por Kiko Goifman e Claudia Priscilla, Bixa Travesty é um documentário sobre a vida e a carreira de Linn da Quebrada, que se tornou nacionalmente conhecida após participar da 22ª edição do reality show Big Brother Brasil, e explora temas como empoderamento, resistência e representação.
O longa — que venceu o Teddy Award, dedicado a produções LGBTQIAPN+, no Festival de Cinema de Berlim, o prestigiado Berlinale — aborda não apenas a jornada artística e musical de Linn, que desafia estereótipos e preconceitos através do se utrabalho, mas também questões de identidade, gênero, sexualidade, raça e classe social. — H. N.

11. Priscilla, a Rainha do Deserto (1994)
Muito antes do sucesso do reality show RuPaul’s Drag Race, o cinema via Hugo Weaving (Matrix), Guy Pearce (O Brutalista) e Terence Stamp (Superman: O Filme) com muita maquiagem, enchimentos, salto alto e batom em Priscilla, a Rainha do Deserto (1994), um clássico que pegou o mundo de surpresa com seu mix de extravagância, emoção e muito ABBA na trilha sonora.
Dirigido por Stephan Elliott (Bons Costumes), o filme acompanha duas drag queens e uma trans, que cruzam o deserto australiano a bordo de um ônibus batizado de Priscila. A missão? Levar seu show para o meio do nada e, de quebra, enfrentar preconceitos e porradas com muita coragem no peito — mesmo que ele seja composto de enchimento e silicone.
Muito mais do que uma comédia enfeitada, Priscilla, a Rainha do Deserto é um road movie musical, mas também um grito de liberdade, que se tornou símbolo de resistência e representatividade queer no cinema internacional ao colocar pessoas LGBTQIAPN+ no centro de uma narrativa digna. — A. C.

10. Moonlight: Sob a Luz do Luar (2017)
Quando levou o Oscar de Melhor Filme em 2017 — numa das viradas de envelope mais caóticas e memoráveis da premiação —, Moonlight: Sob a Luz do Luar virou símbolo de representatividade e resistência.
A história de um garoto negro e gay tentando se encontrar em meio à pobreza, violência e silêncios, possui uma delicadeza impressionante. No longa, o diretor Barry Jenkins (Mufasa: O Rei Leão) constrói três fases da vida do protagonista mostrando o que tantas vezes não é contado: o peso de crescer negro, gay e pobre nos EUA, e ainda assim encontrar beleza, afeto e esperança.
Em um mar de produções brancas e heteronormativas, um filme intimista, com elenco quase todo negro e um protagonista gay, venceu o maior prêmio de Hollywood e foi além. O prêmio foi um recado forte: o cinema LGBTQIAPN+ tem espaço, talento e histórias lindas e necessárias pra contar.
Moonlight não só emocionou o público, mas abriu portas pra uma nova leva de narrativas queer, diversas e poderosas. É daqueles filmes que a gente revisita e pensa: isso aqui mudou o jogo. — A. C.

9. Homem com H (2025)
Mesmo que não seja um filme necessariamente LGBTQIAPN+, Homem com H é mais do que apenas uma cinebiografia: é a história de Ney Matogrosso, um homem que, à frente do seu tempo, ousou desafiar o convencional, libertar-se das opressões, driblar figuras de autoridades, como o próprio pai, e se tornar um dos artistas mais influentes de sua geração.
Estrelado por Jesuíta Barbosa (Tatuagem), que encarna Ney com delicadez, energia, sensualidade e precisão, o longa retrata a difícil relação com o pai ao longo da vida, o sucesso com o grupo Secos e Molhados em meio à ditadura militar, os amores e as grandes amizades do artista, incluindo o eterno Cazuza (Jullio Reis, S.O.S. Mulheres ao Mar 2), e o seu triunfo na carreira solo. — H. N.

8. Baby (2025)
Parece impossível para Marcelo Caetano dissociar a experiência da sexualidade divergente dos conceitos de família e acolhimento, que se manifestam de diferentes formas em suas histórias. Em Baby, isso se dá pela relacionamento entre Wellington (João Pedro Mariano, Tremembé), um jovem que acaba de deixar um centro de internação juvenil e se vê perdido em uma tão populosa quanto solitária São Paulo; e Ronaldo (Ricardo Teodoro, Vale Tudo), um garoto de programa, que decide acolher o rapaz e ajudá-lo a reiniciar a sua vida.
No entanto, o que parece começar como uma relação de proteção e cumplicidade acaba evoluindo para um conflito, que distancia os dois e, ao mesmo tempo, os força a entender o que e, principalmente, quem é importante conservar para lidar com as consequências de (sobre)viver uma vida no limite, marcada pela insegurança e a violência. — H. N.

7. Queer (2024)
Responsável por produções aclamadas como Me Chame Pelo Seu Nome (2017) e Rivais (2024), Luca Guadagnino dividiu opiniões com Queer, baseado no romance homônimo do beatnik William S. Burroughs. Na história, Lee (Daniel Craig, 007: Sem Tempo Para Morrer) leva uma vida boêmia no México, curtindo e se envolvendo com outros homens, mas tudo muda quando ele conhece o jovem Eugene Allerton (Drew Starkey, Outer Banks).
O encontro traz à superfície os problemas que Lee se recusa a encarar no dia a dia, nascidos da solidão e a urgente necessidade de conexão íntima com o próximo que, eventualmente, levam-no a sair em uma busca por yagé, uma planta que acredita ser capaz de realizar o seu desejo. A partir daí, Guadagnino cria uma narrativa dotada de simbolismos, que nos leva para dentro da cabeça de Lee em momentos tão belos quanto dolorosos. Não é um filme para qualquer um, mas é um que toca profundamente quem se conecta com ele. — H. N.

6. Corpo Elétrico (2017)
Antes de Baby, como falamos antes, Marcelo Caetano explorou a busca por conexões humanas genuínas em Corpo Elétrico, o seu primeiro longa-metragem. Nele, acompanhamos a história de Elias (Kelner Macêdo, Guerreiros do Sol), um jovem gay, saído do Nordeste para ganhar a vida em São Paulo, que trabalha como assistente de estilista em uma confecção de roupas.
É nesse improvável espaço que a nova vida do rapaz começa a se desenvolver, esbarrando em questões como solidão urbana, desejo e relações romântico-afetivas, conforme Elias cria a sua própria família ao mesmo tempo em que explora a sua sexualidade. — H. N.

5. Todos Nós Desconhecidos (2023)
Gay, Andrew Haigh sabe trabalhar a experiência de ser gay como poucos. Além de Weekend, já citado nesta lista, o cineasta britânico também é responsável pelo belíssimo Todos Nós Desconhecidos. No longa, Adam (Andrew Scott, Fleabag) é um roteirista de 40 e poucos anos, que vive sozinho em um arranha-céu quase deserto nos arredores de Londres. Em uma noite, ele é abordado por um de seus poucos vizinhos, Harry (Paul Mescal, Gladiador II), que o convida para passar a noite juntos, após notá-lo observando-o em algumas ocasiões.
Inseguro com questões da própria vida, Adam rejeita as investidas iniciais do rapaz, mas o flerte bêbado faz com que ele retorne ao passado e reencontre os seus pais, com quem tem todas as conversas que deixou de ter desde a morte dos dois em um trágico acidente de carro quando ele tinha apenas 12 anos.
Ao mesmo tempo, o roteiristista dá uma nova chance ao relacionamento com Harry, que se desenvolve conforme Adam entra em contato com as suas próprias dores. O rapaz, por sua vez, revela uma solidão diferente da de seu parceiro, que se manifesta na rejeição, infelizmente bastante conhecida pela população LGBTQIAPN+. — H. N.

4. Tatuagem (2013)
Transgressor, Tatuagem, de Hilton Lacerda, é daqueles filmes que chegam chutando a porta com purpurina, deboche, nudez e poesia. Ambientado no Recife dos anos 1970, em plena ditadura militar, o longa acompanha o grupo teatral Chão de Estrelas, uma trupe anárquica e libertária que desafia o moralismo com arte, erotismo e provocação.
No meio disso tudo, nasce o romance entre Clécio (Irandhir Santos, Aquarius) e Fininha (Jesuíta Barbosa), um jovem militar em conflito com a rigidez do quartel e o desejo de viver algo mais verdadeiro.
Tatuagem escancara o poder político do corpo e da performance, e eterniza no cinema uma das músicas mais subversivas já criadas: a inesquecível Polka do Cu, hino de resistência que escancara com humor e ousadia tudo o que a moral conservadora tenta esconder.
O filme se tornou um marco para o cinema brasileiro e para a representação LGBTQIAPN+ ao mostrar corpos e afetos queer com dignidade e beleza. Nada ali é suavizado para agradar, e talvez por isso tenha sido tão celebrado. Sua relevância é tanta que está presente na lista dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos, feita pela Abraccine. Tatuagem é política em forma de arte, ou vice-versa. — A. C.

3. Retrato de uma Jovem em Chamas (2019)
O romance de Céline Sciamma (Tomboy) chegou chegando e logo virou um dos queridinhos da cena LGBTQIAPN+. Não só pela fotografia, que remete a uma pintura em movimento, nem só pelo romance entre duas mulheres num tempo em que esse amor era proibido. É pela forma como ele trata o desejo: com delicadeza, com respeito, com aquele olhar cúmplice que vai crescendo devagar, até explodir em paixão. Nada de drama forçado, nada de sofrimento gratuito, Retrato de uma Jovem em Chamas é sobre o prazer de se descobrir no olhar do outro, mesmo sabendo que o tempo é curto. Um amor intenso justamente por saber que é temporário.
E o que torna o filme tão especial na representatividade LGBTQIAPN+ é isso: ele dá espaço pra que duas mulheres se amem de forma bonita e forte. Num mar de histórias de dor e repressão, Retrato… oferece esse presente raro de ver o amor lésbico sendo tratado com tanta poesia e dignidade. É aquele filme que a gente assiste com o coração na mão, fica meio bobo com a beleza das cenas, e no fim pensa: “era isso que a gente precisava ver faz tempo”. Não à toa virou símbolo e inspiração pra muita gente. — A. C.

2. O Segredo de Brokeback Mountain (2005)
Em 2005, O Segredo de Brokeback Mountain fez história ao furar a bolha e fazer o mundo se encantar pela trágica história de amor de Ennis Del Mar (Heath Ledger, Batman: O Cavaleiro das Trevas) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal, Acima de Qualquer Suspeita).
No longa, Ennis e Jack se conhecem na montanha de Brokeback e, juntos, descobrem o amor em um tempo em que o romance entre os dois sequer podia ser nomeado. A vida os afasta por anos até que, já casados e com filhos, eles se reencontram para reviver o sentimento que haviam cunhado há tanto tempo.
Durante esse período, acompanhamos o debate entre Jack, que quer largar tudo para se dedicar ao amor que sente pelo parceiro, e Ennis, parado pelo medo de sequer cogitar a ideia de ser feliz ao lado do homem que ama em uma época em que um relacionamento entre eles era impossível existir.
O romance inconvecional — primeiro por ser entre dois homens e, segundo, por nunca ser um romance de fato — conquistou oito indicações ao Oscar, vencendo três delas, e até hoje gera discussão sobre um possível preconceito da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação, com filmes com temática LGBTQIAPN+, já que Brokeback Mountain perdeu a estatueta de Melhor Filme para o hoje esquecido Crash: No Limite (2004) — H. N.

1. Paris Is Burning (1990)
Paris Is Burning é uma verdadeira aula de estilo, resistência e cultura queer. Filmado no auge da cena ballroom de Nova York, o filme abre as portas para um universo vibrante onde casas competem em desfiles cheios de glamour, pose e muito shade. É uma celebração da criatividade e da comunidade LGBTQIAPN+, especialmente das pessoas negras e latinas, que criaram um espaço seguro para se expressar em meio a muita exclusão social.
Mais do que um show de looks incríveis e performances épicas, Paris Is Burning é um registro poderoso da luta por identidade, pertencimento e sobrevivência. O documentário de Jennie Livingston virou ícone, influenciando moda, música e cultura pop, além de ajudar a visibilizar temas como gênero, raça, pobreza e transfobia. Um clássico que segue impactando gerações, mostrando como a arte e a coragem podem florescer mesmo nos ambientes mais hostis. — A. C.

LEIA TAMBÉM: Os 20 melhores filmes LGBTQIAPN+ brasileiros, segundo a Rolling Stone Brasil