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Sem apostar no novo, ‘A Própria Carne’ equilibra atmosfera e terror com muita eficiência

Filme de Ian SBF e Jovem Nerd usa a Guerra do Paraguai como pano de fundo para um pesadelo claustrofóbico, marcado por um roteiro afiado e longas sequências de angústia.

Giulia Cardoso (@agiuliacardoso)

Sem apostar no novo, 'A Própria Carne' equilibra atmosfera e terror com muita eficiência
Sem apostar no novo, 'A Própria Carne' equilibra atmosfera e terror com muita eficiência - Crédito: Divulgação

Chegando aos cinemas nesta véspera de Halloween, A Própria Carne prova que o terror nacional pode, sim, ser muito eficaz. O novo longa de Ian SBF, produzido pelo Jovem Nerd, utiliza o cenário sombrio da Guerra do Paraguai, que aconteceu entre 1864 e 1870, para criar um suspense psicológico denso e claustrofóbico, no qual a paranoia é a verdadeira protagonista.

O filme acompanha três soldados desertores (Jorge Guerreiro, George Sauma e Pierri Baitelli) que, fugindo do horror do campo de batalha, encontram refúgio em uma casa isolada na fronteira. Lá, são recebidos por um fazendeiro misterioso (Luiz Carlos Persy) e uma jovem enigmática (Jade Mascarenhas). O que deveria ser a salvação, claro, se transforma no início de um novo pesadelo.

Esqueça os jump scares fáceis. O maior trunfo de A Própria Carne é ser o que chamo de “filme de papinho”, e isso é um elogio imenso. O roteiro, assinado por SBF, Alexandre Ottoni e Deive Pazos, investe nos diálogos longos e na construção de uma atmosfera sufocante. A tensão não vem de monstros, mas da suspeita. O filme já estabelece esse clima logo em suas primeiras cenas, criando um suspense imediato que nos deixa desconfortáveis.

O roteiro acerta precisamente ao fazer com que todos sejam suspeitos. O Fazendeiro age de forma suspeita, fala de forma suspeita e claramente esconde algo. Mas os próprios soldados não são heróis; são homens exaustos, traumatizados e desesperados. Essa “passividade” deles fazem com que não investiguem o local ativamente e funciona como um elemento de realismo: eles não estão ali para desvendar um mistério, estão tentando sobreviver, o que torna a cabana uma armadilha psicológica ainda mais eficaz.

Quando o horror finalmente se torna físico, o filme entrega sua melhor sequência. Há uma cena específica — quem assistir saberá qual — que envolve uma tentativa de amputação. É um primor de direção e tensão. Ian SBF estica o tempo de forma quase insuportável, focando nos detalhes e na agonia. É um dos momentos mais angustiantes do terror nacional recente, provando que o horror palpável, quando bem construído, é sempre mais impactante.

Sendo uma adição de peso ao cinema brasileiro, A Própria Carne é eficaz e confia mais na sua história e na sua atmosfera do que em artifícios fáceis.

Qual é a história de A Própria Carne?

Em 1870, durante a Guerra do Paraguai, três soldados desertores buscam apenas sobreviver. Eles encontram um refúgio aparente em uma casa isolada na fronteira, habitada por um fazendeiro misterioso e uma jovem. No entanto, o abrigo logo se revela um pesadelo quando segredos macabros vêm à tona, forçando os soldados a enfrentar um terror muito pior do que a guerra que deixaram para trás.

Quem está no elenco de A Própria Carne?

O filme é uma coprodução da Neebla e da Nonsense Creations (do Jovem Nerd). O elenco principal é formado por Luiz Carlos Persy , Jorge Guerreiro, Jade Mascarenhas, George Sauma e Pierri Baitelli . A direção é de Ian SBF, que assina o roteiro ao lado de Alexandre Ottoni e Deive Pazos, com colaboração de Leonel Caldela.

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Jornalista em formação pela Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo, Giulia Cardoso começou em 2020 como voluntária em portais de cinema. Já foi estagiária na Perifacon e agora trabalha no núcleo de cinema da Editora Perfil, que inclui CineBuzz, Rolling Stone Brasil e Contigo.
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