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Cinema / Flashback

Shelley Duvall: trauma, lenda e críticas nos bastidores de O Iluminado

As verdades e mentiras sobre a atuação da saudosa Shelley Duvall nos bastidores do clássico de terror 'O Iluminado', de Stanley Kubrick

por Andy Greene, da Rolling Stone Publicado em 11/07/2024, às 17h32

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Shelley Duvall como Wendy Torrance em O Iluminado (Foto: Reprodução)
Shelley Duvall como Wendy Torrance em O Iluminado (Foto: Reprodução)

A quinta-feira (11) amanheceu triste com a notícia da morte da atriz Shelley Duvall, que faleceu durante o sono de complicações relacionadas à diabetes. Ela tinha 75 anos.

"Minha querida, doce, maravilhosa parceira de vida e amiga nos deixou", disse Dan Gilroy, seu companheiro de vida, em um comunicado. "[Ela enfrentou] muito sofrimento ultimamente, agora está livre. Voe para longe, linda Shelley."

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Duvall foi uma das atrizes mais celebradas e talentosas dos anos setenta. O diretor Robert Altman lançou sua carreira ao dar-lhe um dos papéis principais em seu clássico de 1970, Voar é com os Pássaros. Ele continuou a trabalhar com ela nos anos seguintes em Onde os Homens São Homens, Ladrões como nós, Nashville e Três Mulheres. Woody Allen deu a ela a oportunidade de mostrar seu talento cômico em Woody Allen (1977), três anos antes de ela se reunir com Altman para retratar Olívia Palito ao lado de Robin Williams em Popeye.

Mas ela deixou sua maior marca na cultura pop logo antes de Popeye, quando Stanley Kubrick a escalou como Wendy Torrance em sua adaptação do romance de horror de Stephen King, O Iluminado. Foi uma longa e desgastante filmagem onde a personagem de Duvall estava em um estado de histeria na maior parte do tempo.

+++LEIA MAIS: O Iluminado: Kubrick gritou que Shelley Duvall 'desperdiça o tempo de todo mundo' na frente de todo o elenco

Shelley Duvall como Wendy Torrance em O Iluminado (Foto: Reprodução)

"Passar dia após dia em um trabalho excruciante foi quase insuportável", Duvall disse a Roger Ebert em dezembro de 1980. "O personagem de Jack Nicholson tinha que estar louco e irritado o tempo todo. E no meu personagem, eu tinha que chorar 12 horas por dia, todos os dias, por nove meses seguidos, cinco ou seis dias por semana. Eu gravei por um ano e um mês, e deve haver algo na terapia do grito, porque depois que o dia acabava e eu tinha chorado por 12 horas..."

"Depois de todo esse trabalho, quase ninguém sequer criticou minha atuação, sequer para mencioná-la. As críticas eram todas sobre Kubrick, era como se eu não estivesse lá."

Uma das cenas mais notórias acontece mais ou menos na metade do filme quando ela descobre que o romance em que seu marido trabalhava é apenas "todo trabalho e nenhuma brincadeira faz de Jack um menino tedioso" escrito repetidamente. (Esta é uma invenção de Kubrick que não estava no romance real de King.) Ela é forçada a se defender com um taco de beisebol enquanto ele avança em sua direção. "Não vou te machucar", Nicholson rosna. "Wendy, querida, luz da minha vida. Não vou te machucar. Você não me deixou terminar minha frase. Não vou te machucar. Eu só vou esmagar seus cérebros. Vou esmagá-los pra caralho."

Segundo a lenda de Kubrick, essa cena foi filmada 127 vezes. E, de acordo com a lenda de Duvall, o tratamento severo de Kubrick com ela no set -- documentado em Making 'The Shining', de Vivian Kubrick -- contribuiu para os problemas de saúde mental que a atriz experienciou mais tarde na vida. Mas Duvall sempre insistiu que isso simplesmente não era verdade. No início deste ano, ela disse ao New York Times que tinha boas lembranças de comer McDonald's com Kubrick e jogar xadrez com ele. Ela nunca o culpou por problemas que ela experimentou décadas após a filmagem, nem uma vez sequer.

Ela também disse que ficou impressionada com o filme finalizado. "Havia cenas que eu não assisti sendo filmadas", disse. "Você sabe aquela cena com as duas meninas pequenas no final do corredor, e então elas se separam? E você vê o que está atrás delas? Aquilo foi assustador, muito assustador."

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Muitos críticos da época não se impressionaram com a atuação de Duvall no filme. Ela foi até nomeada para Pior Atriz no Framboesa de Ouro inaugural em 1981, embora Brooke Shields tenha levado o prêmio duvidoso por seu papel em A Lagoa Azul. (John J. B. Wilson retirou a nomeação em 2022 após saber como Kubrick a tratou no set.) E Stephen King notoriamente não gostou muito do filme também. "É tão misógino", ele disse à Rolling Stone em 2014. "Digo, Wendy Torrance é apenas apresentada como um tipo de máquina de lava-louça barulhenta."

A maior parte dos aficionados por cinema hoje discorda dos críticos de cinema de 1980 e do próprio King. O filme é visto como uma obra-prima do terror, e a interpretação de Duvall como Wendy Torrance é celebrada. Assista à cena do taco mais uma vez. Tente imaginar passar por aquele tormento emocional 127 vezes. É difícil imaginar alguém além de Shelley Duvall, de O Iluminado, revela porque sumiu de Hollywood e retorno na atuação conseguindo fazer isso.