O longa-metragem dirigido por Jonathan Demme foi remasterizado em 4K e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 29, por meio da O2 Play
David Byrne entra no palco, que mal parece preparado para recebê-lo, carregando apenas um violão e "Psycho Killer" na ponta da língua. Aos poucos, os outros membros do Talking Heads — Tina Weymouth, Chris Frantz e Jerry Harrison — e os convidados Bernie Worrell, Alex Weir, Steve Scales, Lynn Mabry e Edna Holt se juntam a Byrne com diversos instrumentos.
O que parecia uma apresentação de escola se torna um verdadeiro show, com luzes, sons e performances que levantam o público de seus assentos. O recém-lançado Speaking in Tongues (1983) guiava a turnê de 1983, que foi permeada também por composições da carreira solo de Byrne e da banda Tom Tom Club, de Weymouth e Frantz.
Stop Making Sense, dirigido por Jonathan Demme, está de volta aos cinemas — dessa vez remasterizado em 4K — graças à O2 Play, que distribui a produção no Brasil, e à A24, que relançou o filme internacionalmente.
Descubra abaixo por que assistir a um filme de quase meio século pode ser uma boa pedida.
A exibição em IMAX oferece um cenário bem semelhante ao daquele conferido em Stop Making Sense, onde a atenção dos espectadores na plateia é dedicada ao palco. Cenas em que câmeras gigantescas aparecem sendo conduzidas por homens e cortes em que o público é revelado usando roupas e penteados típicos dos anos 1980 devolvem os visitantes das salas de cinema à realidade.
O filme estará disponível em todas as 12 salas IMAX do Brasil a partir da quinta-feira, 29, e até quarta-feira, 4 de setembro. Compre seu ingresso aqui.
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Como o clube Silencio, de Cidade do Sonhos (2001), alertou, nem tudo é o que parece. Gravado ao longo de três noites de shows no Hollywood Pantages Theatre, em 1983, Stop Making Sense é uma montagem com fragmentos de apresentações diferentes. É possível perceber que, em determinados momentos, as imagens não correspondem aos sons do filme.
Em apresentações ao vivo, músicos já precisaram recomeçar uma faixa para que um integrante da banda encontre o ritmo adequado; alguém lançou um olhar desconfortável sobre um membro que não estava tocando corretamente; uma canção não foi reproduzida como a versão de estúdio; artistas escorregaram no palco; a plateia não reagiu como o esperado; problemas técnicos encurtaram a setlist...
No filme de Demme, porém, as melhores tentativas do Talking Heads foram concentradas em uma única performance — o que resultou em um show aparentemente perfeito. Por isso, a apresentação mostrada em Stop Making Sense só pode ser assistida desta maneira: transformada em cinema.
Fãs insaciáveis de Taylor Swift foram contemplados com um filme-concerto da turnê ainda em andamento da cantora no fim do ano passado. Taylor Swift: The Eras Tour fez das salas de cinema estádios onde a dona do hit "Anti-Hero" se apresentou. Katy Perry revelou bastidores de seus shows e de seu relacionamento com Russell Brand em Katy Perry: Part of Me (2012), enquanto Michael Jackson's This Is It (2009) quebrou recordes de bilheteria.
Antes do mundo do pop tomar o gênero, o Pink Floyd havia lançado um filme-concerto gravado em Pompeia. Pink Floyd: Live at Pompeii (1972) mostra a banda, prestes a dar The Dark Side of the Moon (1973) ao mundo, apresentando-se em um anfiteatro vazio, exceto pela equipe de filmagem. Mas em 1947, o violonista Yehudi Menuhin já era protagonista de seu próprio filme-concerto: Concert Magic (1951). O U2 também quer entrar na onda e deve divulgar um longa-metragem com apresentações na arena Sphere, em Las Vegas, em setembro.
No meio do caminho, está Stop Making Sense. As escolhas cinematográficas de Demme privilegiaram e mergulharam no estilo do Talking Heads, mesmo sem mostrar bastidores ou interromper o show com depoimentos. Para um cineasta, dirigir pessoas que não são atores formados pode parecer tarefa complexa. No entanto, Demme deu a impressão de que nasceu para dirigir uma banda no palco — mesmo com O Silêncio dos Inocentes (1991) no currículo — e subiu o sarrafo dos filmes-concerto.
A O2 Play criou a Carteirinha de Cinéfilo: um aplicativo que reúne os lançamentos da distribuidora brasileira e oferece benefícios, como acesso a pré-vendas de ingressos, por exemplo. Ao assistir a um filme distribuído pela O2 na telona, os cinéfilos ainda podem receber um card colecionável numerado. Até o momento, são três: de Dias Perfeitos, Caminhos Cruzados e Stop Making Sense.
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Stop Making Sense retrata o auge do Talking Heads, quando o grupo produziu o hit "Burning Down the House" e alcançou sucesso comercial.
Pouco tempo depois, em 1991, Byrne saiu da banda sem deixar recado. Frantz e Weymouth souberam da partida do vocalista por meio de um artigo do Los Angeles Times e tentaram levar o Talking Heads adiante, até serem impedidos pelo cantor.
"Eu diria que não é o Talking Heads, eles diriam que é, mas sem o vocalista... São coisas diferentes, e eu acho que deveria ter um nome diferente", argumentou Byrne em entrevista à Rolling Stone EUA em 1999.
Em 1996, os membros remanescentes lançaram No Talking Just Head, sob o nome The Heads e com a ajuda de diversos vocalistas.
O Talking Heads só voltaria ao palco com a formação original em 2002, quando tocaram no Rock and Roll Hall of Fame.
Byrne demonstrou arrependimento pela forma como partiu da banda, mas não deu sinais de que haverá uma reunião no futuro próximo. "Tenho arrependimentos sobre como eu lidei com isso. Não acho que o fiz da melhor maneira, mas acho que era inevitável", disse em entrevista à People em 2023 (via Los Angeles Times). "Temos uma relação cordial agora. Estamos meio que em contato, mas não saímos juntos."