Longa com Emma Stone (Pobres Criaturas), Jesse Plemons (Guerra Civil) e Willem Dafoe (O Farol) chega aos cinemas nesta quinta-feira (22)
Desde O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017), Yorgos Lanthimos não arquitetava uma narrativa em longa-metragem com situações ordinárias e típicas do homem comum como a apresentada em Tipos de Gentileza, que chega aos cinemas brasileiros a partir desta quinta-feira (22).
No intervalo entre os dois, o diretor lançou A Favorita (2018), filme de época sobre a realeza britânica do século XVIII, e Pobres Criaturas (2023), fantasia erótica que mistura comédia e ficção científica, tido por muitos como uma versão contemporânea e feminina de Frankenstein.
A proposta de Tipos de Gentileza, no entanto, flerta com as primeiras obras do diretor, nas quais situações absurdas e bizarras são vividas por personagens do cotidiano. E isso tem um motivo muito específico: enquanto a parceria com Emma Stone segue firme e forte — a atriz aparece nos três últimos filmes do cineasta —, o trabalho com Tony McNamara, roteirista de seus dois últimos lançamentos, chega ao fim — ao menos, por enquanto —, e Lanthimos volta a dividir os créditos com Efthymis Filippou, responsável por Dente Canino (2009), Alpes (2011) e O Lagosta (2015).
Além da mudança na equipe, Tipos de Gentileza chama a atenção por nomes "oscarizados" no elenco. A única vencedora da cobiçada estatueta é Emma Stone — por La La Land (2016) e, neste ano, por seu trabalho em Pobres Criaturas —, mas Jesse Plemons (Ataque dos Cães), Willem Dafoe (No Portal da Eternidade) e Hong Chau (A Baleia) são nomes notáveis.
Também não será surpresa caso Margaret Qualley (Era Uma Vez em… Hollywood) se junte a eles como indicada em breve, dado que sua carreira vem em grande ascensão. Vale destacar também que Plemons ainda não venceu o Oscar, mas no último Festival de Cannes foi eleito Melhor Ator por sua atuação em Tipos de Gentileza. Ou seriam atuações?
O novo filme de Yorgos Lanthimos apresenta três histórias entrelaçadas, que exploram os caminhos imprevisíveis da vida e os desafios pessoais de seus protagonistas. Na primeira delas, um homem (Jesse Plemons) busca recuperar o controle de sua vida após se perder em um caminho de devoção.
Na segunda, um policial (o mesmo Plemons) tenta reconstruir seu relacionamento com a esposa (Emma Stone), que retorna misteriosamente após um período desaparecida. Por fim, uma mulher determinada (novamente Stone), envolvida em uma seita espiritual, lança-se em busca de uma pessoa dotada de habilidades únicas, numa jornada que promete testa a sua fé e suas convicções.
Vocês podem notar a esquisitice típica de Lanthimos logo de cara, com a repetição dos atores em diferentes papéis. É curioso ver Plemons, Stone, Dafoe, Qualley e outros nomes do elenco se aventurando — e se divertindo — em uma premissa que abraça o sádico e o pérfido como há muito não se via na filmografia do diretor.
Os tais "tipos de gentileza" estão mais para tipos de fanatismo, característica presente em todos os segmentos. No primeiro, na dependência do personagem de Plemons pelo de Dafoe; no segundo, na devoção da personagem de Stone pelo de Plemons; e no último, na sujeição da personagem de Stone por uma seita e seus líderes, vividos por Dafoe e Chau.
Para Lanthimos, explorar a forma com que essas relações de poder e servidão podem ultrapassar os limites da racionalidade é um exercício digno de sua assinatura bastante pessimista. Mais do que causar estranheza, ele quer nos fazer rir com isso.
À medida que vamos nos adaptando às bizarrices das situações, Tipos de Gentileza vai se revelando uma típica fita que irá dividir opiniões por abraçar o sadismo e explorar as mulheres. Alguns dirão que é misógino e banal, mas para outros, como eu, é possível observar quando o instinto animal, presente em todo ser humano, é escancarado de forma tão irracional em uma sociedade que não foi construída para encará-lo.
Existem vários momentos como esse, de um policial que alisa o detento até a dancinha bizarra de Stone — presente no trailer —, mas a sequência da cena do jantar, no segundo segmento, quando os três personagens vão para o quarto é a essência de como certas coisas devem ficar entre as quatro paredes. E olhe lá!
Como em qualquer antologia, algumas das histórias se mostram mais interessantes do que outras, e isso ficará ao seu cargo para decidir — mas, a título de curiosidade, saibam que a favorita deste que vos escreve é a segunda.
Esse é um problema de filmes montados dessa forma, aos segmentos seguintes do primeiro fica a necessidade de superar o que já vimos anteriormente, o que, a meu ver, o último não consegue atingir, embora ver Stone acelerando um Dodge Challenger roxo metálico seja delicioso.
No geral, Tipos de Gentileza está longe de ser um dos melhores filmes na prateleira de Lanthimos e não deve agradar a todos, mas para quem é fanático por ele, é uma pedida obrigatória.
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