Um Completo Desconhecido brilha nas atuações, mas peca no ritmo da história
Estrelado por Timothée Chalamet, Elle Fanning e Monica Barbaro, filme recebeu oito indicações ao Oscar 2025, que acontece no dia 2 de março
Felipe Grutter (@felipegrutter)
Publicado em 20/02/2025, às 12h00 - Atualizado em 01/03/2025, às 03h00
"As pessoas inventam o seu passado, Sylvie! Eles se lembram do que querem. Eles esquecem o resto", exclama Bob Dylan, interpretado por Timothée Chalamet, em uma das cenas da cinebiografia Um Completo Desconhecido. Essa frase condiz bastante com o personagem principal, um dos cantores e compositores mais influentes da música, conhecido por contar diferentes versões de momentos da própria vida. Mesmo com toda essa dualidade, o filme consegue trazer uma ótima abordagem para o artista, com atuações e ambientações fantásticas, mas peca no ritmo da história.
Inclusive, esse lado misterioso e incoerente de Dylan é algo abordado por Sylvie Russo (Elle Fanning), que o coloca contra a parede para saber mais sobre a vida do então namorado, porém, não consegue descobrir detalhes.
Por exemplo, o astro da música disse à imprensa em 1961 que veio de Gallup, Novo México, e se juntou a uma espécie de circo itinerante aos 13 anos, no qual trabalhou como “garoto de limpeza” e operador de roda gigante.
Jornalistas, escritores e biógrafos como Anthony Scaduto, Clinton Heylin, Robert Shelton, David Hajdu e Howard Sounes trabalharam por diversos anos para separar fatos de ficção da vida de Bob Dylan ao longo das décadas. No entanto, sempre existiram incoerências, como no livro Chronicles: Volume One, repleto de afirmações questionáveis (no mínimo). Volto a parafrasear: "As pessoas inventam o seu passado, Sylvie! Eles se lembram do que querem. Eles esquecem o resto".
Com direção de James Mangold (Johnny & June, Logan, Ford vs Ferrari) e roteiro coescrito por Jay Cocks, Um Completo Desconhecido é vagamente baseado em Dylan Goes Electric! Newport, Seeger, Dylan, and the Night That Split the Sixties (2015), obra de Elijah Wald. O filme chega aos cinemas brasileiros no próximo 27 de fevereiro.
Agora, a crítica de Um Completo Desconhecido
Com cenários e figurinos que retrata muito bem a Nova York do começo dos anos 1960, quando o então desconhecido e misterioso Robert Allen Zimmerman (introduzido nas primeiras apresentações como Bobby Dylan) desbravava a metrópole cinzenta. Curioso, ele tenta conhecer Woody Guthrie (Scoot McNairy), um dos grandes nomes da folk music e um dos heróis de Dylan.
Internado após ser diagnosticado com a doença de Huntington, Guthrie recebia uma visita de Pete Seeger (Edward Norton), outra lenda do folk, quando o jovem Bob Dylan entrou no quarto de hospital e apresentou uma das composições, feita em homenagem a Woody Guthrie, que mais tarde se tornaria "Song to Woody". Ambos ficaram impressionados com o talento, e Seeger se torna uma espécie de mentor e padrinho do protagonista.
O começo da narrativa tem um ótimo ritmo e consegue introduzir os personagens de maneira apropriada. Na Igreja, Bob Dylan conhece Sylvie e os dois começam a engatar um relacionamento. Porém, com diversos outros assuntos, o namoro dos dois não tem muito tempo para ser explorado. Em um momento, eles começam, do nada, estão morando juntos e, de repente, começam a ter crises com a fama do cantor.
Apesar das 2h 20m de duração, o filme se apressa em diversos aspectos, especialmente para desenvolver a fama de Dylan e os problemas que começa a ter. Em certo momento, ele assina com uma gravadora e já grava o primeiro disco, que não vai tão bem quanto o esperado. Então, ele começa a ter ideias que se tornariam músicas do clássico The Freewheelin' Bob Dylan (1963) - e, do nada, já é reconhecido nacionalmente e começa a ter legiões de fãs.
Ou seja, com essa duração mais extensa, o roteiro poderia focar em determinados aspectos para conseguir dar ao espectador uma noção de passagem do tempo. No entanto, este problema é recompensado com as ótimas atuações, desde o elenco principal até os coadjuvantes.
Um dos grandes destaques é Monica Barbaro, intérprete do ícone do folk Joan Baez, cuja introdução na trama arrepia. Ela tem grande presença no decorrer da narrativa e sempre mostra ao que veio. Inclusive, a personagem tem esse destaque na cena do folk dos Estados Unidos e também se envolve em um relacionamento com Bob Dylan, que mais tarde seria retratado na música "Diamonds and Rust".
Outras duas grandes atuações são justamente de Scoot McNairy e Edward Norton. O primeiro aparece apenas no ambiente do hospital com fala e movimentos limitados, enquanto o segundo tem uma presença maior, seja na administração da carreira de Dylan ou na organização do Newport Folk Festival, que contou com momentos memoráveis e marcantes protagonizados por Bob Dylan.
Um Completo Desconhecido usa de certas fórmulas das cinebiografias de Hollywood, mas conta uma história convincente, com cantorias que não ficam forçadas, e atuações de alto nível. As oito indicações no Oscar 2025 são mais do que justas.
Especial de cinema da Rolling Stone Brasil
O cinema é tema do novo especial impresso da Rolling Stone Brasil. Em uma revista dedicada aos amantes da sétima arte, entrevistamos Francis Ford Coppola, que chega aos 85 anos em meio ao lançamento de seu novo filme, Megalópolis, empreitada ousada e milionária financiada por ele próprio.
Inabalável diante das reações controversas à novidade, que demorou cerca de 40 anos para sair do papel, o cineasta defende a ousadia de ser criativo da indústria do cinema e abre, em bom português, a influência do Brasil em seu novo filme: “Alegria”.
O especial ainda traz conversas com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello sobre Ainda Estou Aqui, um bate-papo sobre trilhas sonoras com o maestro João Carlos Martins, uma lista exclusiva com os 100 melhores filmes da história (50 nacionais, 50 internacionais), outra lista com as 101 maiores trilhas da história do cinema, um esquenta para o Oscar 2025 e o radar de lançamentos de Globoplay, Globo Filmes, O2 Play e O2 Filmes para os próximos meses.
O especial de cinema da Rolling Stone Brasil já está nas bancas de jornal, mas também pode ser comprado na loja da editora Perfil por R$ 29,90. Confira:
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